Discografia HM – Sepultura – álbum: The Mediator Between The Head and Hands Must Be The Heart *

Sepultura - The Mediator Between The Head And Hands Must Be The Heart -Front1

Um fato que não dá para ser ignorado é de que o Sepultura ainda é a banda brasileira mais famosa no exterior. Por mais que outras bandas tenham carreiras respeitadas lá fora, faltou a boa parte delas continuidade em suas trajetórias, profissionalismo. Em um mundo globalizado não é mais  possível contar com o talento como única maneira de se expor ao planeta. Gerenciamento de carreira, assessoria de imprensa, gravadora com distribuição nos mercados mais importantes do mundo. Assim um artista pode não fazer discos que sejam unanimidade para crítica e público, mas manter-se visto, com discos, coletâneas, agendas cheias, gravações, entrevistas; é sempre salutar para a manutenção da máquina. Só isso pode explicar porque a banda, mesmo sem seus integrantes mais importantes (os irmãos Iggor e Max Cavalera), ainda tem relevância mercadológica.

‘The Mediator Between The Head and Hands Must Be The Heart’ me “obrigou” a escutar novamente o excelente ‘Arise‘ (do ano mágico de 1991) para que eu pudesse entender o que a banda tem a oferecer em pleno século XXI, onde o estilo sobrevive graças aos mesmos. Daí concluí que esta banda que grava seu décimo quarto álbum não é mais a mesma que revirou o mundo , ao não descartar elementos da cultura brasileira, quando se desvencilhou do death, passou pelo black e enfim caiu no thrash metal. Hoje, Sepultura é uma banda de rock quase irrotulável, mantendo uma identidade impressionante dentro do rock mundial.

Por que a escolha por ‘Arise‘ e não para ‘Against‘, o primeiro disco de Derrick Green como vocalista da banda? O motivo é simples: li algumas opiniões de que este era o melhor disco do Sepultura desde ‘Roots‘, ainda com Max. Como ‘Arise‘ é superior a ‘Chaos A.D‘ e ‘Roots‘ (na minha opinião), fui ao que Sepultura fazia de melhor ao que dizem que ele fez de melhor hoje.

Não é de hoje que a banda desde que passou a ter a liderança de Andreas Kisser optou por um som menos trabalhado e sujo. O Sepultura jamais foi conhecido por suas ‘belas composições’ ou a  forma erudita de tratar suas canções, mas ‘Arise‘ era um disco de thrash redondo, com ótimos riffs e uma pegada contextualizada com o que havia de melhor de Slayer e Metallica da época. Digo isso sem nenhuma espécie de saudosismo ou coisa parecida. A agressividade de Max Cavalera estava nítida nos seus vocais urrados, sem que houvesse necessidade de recorrer a efeitos no estúdio para acentuar a raiva e a violência; velocidade com boas frases de guitarra sem que parecesse uma britadeira sem direção, como na ótima ”Dead Embryonic Cells“, construída sob terças e notas gordas, um clássico deste disco.

O Sepultura dos últimos 16 anos faz um noise rock carregado de alguma identidade mas extremamente mais ruído do que música. Isso incomoda a todos aqueles que são fãs de rock e não dispensam cantarolar uma canção em que momento do seu dia. Pode parecer um comentário bobo, mas podemos nos pegar solfejando alguma coisa do Purple e do Maiden, mas muito dificilmente você encontrará alguém na fila do banco, tosando o tédio, “cantando” ‘Territory‘. Esta opção em que a sujeira, a agressividade e a falta de nitidez de um discurso musical não é atraente em um primeiro momento. Após 5 ou 6 audições, continua ocupando um lugar de distanciamento e até démodé, pois me parece um “som” que quase ninguém mais pratica a não ser o Sepultura.

Para não dizer que nem tudo é bacana em “The Mediator…“, a segunda faixa “The Vatican“, apresenta uma delicada introdução (também já batida para os ouvintes de Ghost e Mercyful Fate) que nos leva ao velho Sepultura com uma proposta legal, com phaser nas guitarras, baixo destacado e a batida tribal – características do DNA da banda – mesmo assim, lá pelo meio da canção já não sabemos o que é guitarra, baixo e bateria, uma simbiose dura de aguentar até o final. Mesmo assim, “The Vatican” é disparada a melhor música do disco.

O que se ouve em quase todas as faixas é uma banda que continua chocando pelo som pesado mas que parece não ter outros ingredientes para mostrar aos seus fãs e pela boa repercussão do lançamento, me parece que os aficcionados por Sepultura não estão nem aí para repetição estética que acontece desde “Nation” (2001). Os porões do underground nacional parecem ecoar uma trilha mais atraente do que o mainstream, aliás, faz algum tempo. Sepultura vive de seu grandioso passado, calcando seus shows em seus clássicos conhecidos mundialmente, mas longe de atrair novos fãs para uma audição mais cuidadosa.

Ao menos parece que a auto-estima da banda anda bem, obrigado. As entrevistas que dá sempre apontam a felicidade do grupo e das suas escolhas, o que é absolutamente louvável. No entanto para quem escreve e opina, não podemos ser guiados pela orientação do artista mas sim pela nossa intuição e vivência na arte, no caso aqui o rock em uma das suas vertentes mais extremas.

Acho que o Sepultura, parafraseando um jornalista esportivo carioca, é uma ex-banda em atividade, vivendo dos seus períodos mais criativos no passado, nas quais os elogios conquistados fizeram a cama na qual eles estão deitados até hoje.

Tracklist:

1.”Trauma of War”
2.”The Vatican”
3.”Impending Doom”
4.”Manipulation of Tragedy”
5.”Tsunami”
6.”The Bliss of Ignorants”
7.”Grief”
8.”The Age of the Atheist”
9.”Obsessed” (feat. Dave Lombardo)
10″Da Lama ao Caos” (Chico Science & Nação Zumbi cover)

* Amigo leitor, o asterisco se justifica: não temos a discografia do Sepultura no Minuto HM, mas como se trata do 14º disco da banda em estúdio, resolvi seguir o padrão do site no que se refere às postagens.



Categorias:Covers / Tributos, Curiosidades, Discografias, Músicas, Resenhas, Sepultura

11 respostas

  1. Daniel, não sou a pessoa mais indicada a comentar sobre a banda. Nunca foi de minha predileção , mas respeito a história do Sepultura por ter influenciado demais grupos e ter tido tamanha repercussão internacional.

    O título do álbum é lindo, de uma criatividade e bom gosto ímpar. É uma pena que não tenha tido de você alguma admiração por seu conteúdo.

    Por fim , uma curiosidade. Como está Eloy Casagrande inserido neste contexto ?

    Alexandre

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    • Olá Alex!

      O título é uma fala do clássico do cinema “Metropolis” (1927). Segundo a banda o disco tem um diálogo com a película, basta entender entre os grunhidos do Derrick, que diálogo é este.

      O Eloy está o que é: ótimo, mas mesmo sendo excelente no que faz, a banda – por incrível que pareça – não contribui.

      Graça e Paz,

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  2. Eu acho que ele precisava buscar uma banda mais voltada para instrumentações com ” times signature” fora do padrão conhecido. Mas isso no Brasil poderia significar voltar ao ostracismo. Assim, é difícil mesmo…. Ouvindo a faixa acima, no entanto, acho a parte da bateria bastante desafiadora,no meio de tamanha pancadaria. Aliás o solo de guitarra também é bem legal. Eu realmente não consigo entender muito o som dos caras, em especial o vocal. Eu não tenho nada contra o Sepultura , deixo claro, apesar de realmente não ser de minha predileção, respeito demais o que banda significa para o Brasil.
    Mas gostaria de ver o garoto ” experimentar ” mais…Em alguma banda de prog ou progmetal, ali sim.,…

    Alexandre

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  3. Pois é. Compartilho da opinião do Bside. Conheço pouco a banda e acompanho-a menos ainda. Reconheço meu preconceito com bandas que usam este vocal gutural. Fica intragável para mim.
    Mas, não há como discutir, Sepultura é a banda de rock brasileira com maior repercussão internacional em todos os tempos.

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  4. Daniel, antes de comentar no post, que está muito bom, ouvi alguma coisa do disco e achei, como você, “mais do mesmo” – mas é inegável que há uma boa “porradaria” para quem gosta. Acho que, em geral, não é a nossa praia aqui no blog, ainda que seja uma unanimidade, creio, o respeito de todos pela banda, que representa tão bem o estilo no país e no mundo. É puramente uma questão de gosto, que esbarra bastante na questão do vocal gutural, ressaltada pelo meu xará Schmitt. Além disso, parece que fica tudo embolado, uma coisa só… enfim, é uma questão de gosto.

    Outra coisa é a questão do talento-prodígio Eloy. A coisa ganha uma bifurcação. Uma coisa é o merecimento, o status. as portas que se abrem ao fazer parte do maior nome nacional do estilo e com enorme espaço internacional e, claro, ninguém é de ferro: dinheiro. Outra é o que entendo hoje como relativo “desperdício” dada a capacidade técnica dele – o que, pelo amor de Deus, não quer dizer que o trabalho dele seja fácil ou ruim – apenas vejo que as possibilidades técnicas não são tão amplas como poderiam ser. Mas, até aí também, quantos e quantos casos não se repetem na música, em todos os estilos e instrumentos?

    Sobre a questão de banda vivendo do passado, eu não me sinto confortável em falar “sim” ou ”não” para isso. Como você conhece bem a banda, é uma opinião forte. Seria legal se outro fã old school da banda pudesse aparecer por aqui e complementar este assunto com uma opinião… não sei se temos por aqui neste espaço alguém que possa se encaixar com estes atributos…

    E o Dave Lombardo, hein? Dando uma colherada aqui e dando uma bela sopa no mercado…

    Por fim, hoje eu vejo o Dr.Sin vivendo um grande momento no país, torço para que eles também atinjam um bom nível fora – o trabalho deles merece.

    [ ] ‘ s,

    Eduardo.

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  5. Excelente e contundente review, sem desmerecer a história da banda mas colocando o dedo ( ou as teclas, hahahaha ), na ferida !!! . E certamente, Arise, foi o ápice criativo e mais certeiro da banda, até então o legítimo Sepultura . O novo álbum pode ser um bom trabalho, e é …. mas não chega detonar por completo ou de fomra crescente, o excesso de ” barulho ” e a agressividade se sobressae aos bons refrões e a presença sonora de outrora .

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  6. Pobre demais, marasmo pra adolescentes de primeira viagem, impossível alguém com mais de 22 engolir isso, ainda mais qnd há tanta musica boa sendo feita, quer metal vai ouvir necrophagist, SOP, obscura, cryptopsy etc…

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