Ontem, como havia afirmado aqui na parte 1 desta série, inicialmente não haveria uma continuação deste conteúdo, mas eis que aí surgiu um segundo objetivo, no momento em que eu ouvi a versão deles para o clássico Hotel California, dos Eagles. E aí, quem tiver uns minutinhos, me ajude aqui acompanhando o vídeo e traçando observações que fiz abaixo sobre o arranjo da canção:
A análise do arranjo mostra a qualidade e cuidado desde o início, senão vejamos:
-00:01 min – O vídeo começa com a DoubleNeck imortalizada por Jimmy Page com um capo traste na quinta casa do braço superior (com 12 cordas)para trazer o som cristalino do dedilhado que caracteriza o início da canção.
-00:05 min – Um dos dois violões (esse de 12 cordas) aparece, e são esses os responsáveis pelas cordas que formam a base da música, pois as guitarras terão outro papel.
-00:28 min – Aparece o segundo violão, com um capo traste na segunda casa, esse com as habituais 6 cordas. Segue-se um solo pequeno, com uma guitarra limpa (uma Telecaster).
-00:53 min – A seção rítmica entra, e já se percebe a linha mais voltada a reggae do baixo. É interessante prestar atenção nas pausas do instrumento, que caracterizam o estilo que foi a escolha da cozinha na canção. Há também o início da parte cantada com a escolha de um timbre próximo à versão original. As guitarras também fazem um estilo percussivo que remete ao estilo mais reggae do baixo/bateria.
-01:19 min – Aqui as guitarras começam a fazer harmonias em dobra. É uma Gibson Les Paul que se associa a Telecaster mudando do pequeno trecho percussivo para as harmonias que irão crescer durante a canção, pois a DoubleNeck continua no dedilhado cristalino que surgiu na introdução. As bases continuam e serão até o fim da música feitas pelos violões.
-01:48 min – Surge o refrão matador e seu espetacular backing vocals, pontuado por intervenções aqui e ali das duas guitarras principais.
-02:37 min – Como a música seguiu-se pós refrão para duas estrofes, necessárias para cumprir o aspecto descritivo da letra da música, a opção foi fazer o crescimento das harmonias de guitarras dobradas, incrementando a dinâmica entre as duas estrofes.
-03:30 min – Uma estrofe com pausa da parte rítmica, mais um momento para outra dinâmica a canção. Segue-se uma virada de bateria com uso dos timbales, acentuando a parte rítmica puxada para o reggae, algo que já se verificava com o uso dos tons durante o desenrolar da canção até então.
– 04:21 – Vem os solos principais com os dois guitarristas, um atrás do outro. Nesse momento entende-se o porquê do uso da DoubleNeck, pois aquele guitarrista vai juntar-se a um dos outros para manter a harmonia dobrada das guitarras que vinham sendo executadas pelos dois principais (utilizando o braço inferior, com 6 cordas) e que agora precisam de ajuda de mais um músico, enquanto os outros revezam-se nos solos.
– 05:17 min – Com o duelo entre os guitarristas principais, o músico com a DoubleNeck tem de seguir na harmonia principal desenvolvida desde os 01:19 min.
-05:40 min – A marca principal dos solos é a linda dobra que se segue até o fim da canção. A versão da Lexington Lab Band termina em cerca de 06:41 min. A versão original também tem mais de 6 minutos, algo pouco comum nos singles de sucesso, em especial após os anos 1980.
Após ver o que para mim é uma rendição espetacular da canção, surgiu-me o questionamento de tentar entender se hoje uma canção como essa, que ganhou o Grammy de melhor canção em 1978, tem espaço e abertura para tanta atenção e qualidade no arranjo. A resposta me pareceu ser meio óbvia, um claro não, mas aí eu fui tentar deixar de lado o comum saudosismo rabugento de alguém fincado no passado, já passando dos 50 anos de vida, e pesquisei os vencedores do Grammy nos últimos anos. Afinal, a geração anterior à minha achava o que eu ouvia um lixo, a geração anterior à essa também achava as músicas do gosto dos meus pais um lixo, e por aí vai. Mas antes disso, eu busquei os sucessores de Hotel California na mesma premiação:
Assim, em 1979 ganhou Just The Way You Are, por Billy Joel
Em 1980, What a Fool Believes – The Doobie Brothers
E aí se seguem, Sailing, do Christopher Cross, Bette Davies Eyes, cantada por Kim Carnes, Rosanna, do Toto, Beat It, do Michael Jackson, etc.
Então, se a busca aqui é por uma isenção de julgamento, então aí vão as últimas 3 músicas vencedoras do Grammy:
1) 2019 – This is America – Childish Gambino
2) 2018 – That’s What I Like – Bruno Mars
3) 2017 – Hello – Adele
Eu confesso, exceto por 2019 (que trouxe uma vencedora que é um autêntico lixo, no meu ponto de vista musical, onde provavelmente a mensagem foi levada muito mais em consideração), que esperava menos. Inclusive por que a sequência anterior a 2017 traz faixas de Ed Sheeran ou Sam Smith. Se eu gosto desses aí? Não, não me entusiasmo com nenhum deles, assim como Adele ou Bruno Mars. Mas eu não me considero tão velho assim a ponto de achar o trabalho deles ruim do ponto de vista musical. Apenas acho sim que não há o tal espaço para ousar em trabalhar mais na qualidade do arranjo que eu vejo em Hotel California. E se eu perguntar para as minhas filhas qual seleção elas preferem, talvez possa ouvir delas que as músicas dessa nova geração agradam mais.
Quais conclusões eu cheguei? A primeira conclusão é que o Grammy até anda cumprindo o seu papel no mainstream, exceto por 2019. Outra conclusão que eu cheguei é que em 2020 existe muita coisa boa, pelo menos fora do mainstream. Há espaço em 2020 para bons álbuns como o MMXX, do Sons of Apollo ou o Quadra, do Sepultura, para trazer-nos de volta ao som pesado.
E a conclusão mais definitiva é que talvez não devesse ser o Grammy a maior fonte de pesquisa. Talvez o correto fosse buscar as músicas mais veiculadas nos diversos canais de comunicação agora em 2020 e lá em 1977.
Então as músicas mais tocadas em 1977, pela Billboard, foram:
E em 2019 foram:
1 | “Old Town Road“ | Lil Nas X featuring Billy Ray Cyrus |
2 | “Sunflower“ | Post Malone and Swae Lee |
3 | “Without Me“ | Halsey |
4 | “Bad Guy“ | Billie Eilish |
5 | “Wow“ | Post Malone |
6 | “Happier“ | Marshmello and Bastille |
7 | “7 Rings“ | Ariana Grande |
8 | “Talk“ | Khalid |
9 | “Sicko Mode“ | Travis Scott |
10 | “Sucker“ | Jonas Brothers |
11 | “High Hopes“ | Panic! at the Disco |
12 | “Thank U, Next“ | Ariana Grande |
13 | “Truth Hurts“ | Lizzo |
14 | “Dancing with a Stranger“ | Sam Smith and Normani |
15 | “Señorita“ | Shawn Mendes and Camila Cabello |
16 | “I Don’t Care“ | Ed Sheeran and Justin Bieber |
17 | “Eastside“ | Benny Blanco, Halsey and Khalid |
18 | “Going Bad“ | Meek Mill featuring Drake |
19 | “Shallow“ | Lady Gaga and Bradley Cooper |
20 | “Better“ | Khalid |
Bem, aqui eu acho que encontrei talvez uma seleção melhor para uma análise. E qual conclusão eu cheguei? Bem, eu ainda não cheguei…
E essa resposta, se vier, vem na terceira parte deste post. Enquanto isso, quem quiser traçar suas impressões sobre o canal do Lexington ou acerca da evolução ou não da música, 40 anos depois, fique à vontade.
Até a terceira parte, que adianto, sairá provavelmente perto da finalização da discografia do MetallicA…
Saudações,
Alexandre Bside
Categorias:Artistas, Covers / Tributos, Curiosidades, Instrumentos, Led Zeppelin, Músicas
Opa, vi uma homenagem para meu gerenciamento de tempo aí… ficamos todos na expectativa então para a parte 3!!!
Hahahaha…
[ ] ‘ s,
Eduardo.
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Será rápido…..
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Que bom… só não espere reciprocidade… hahahaha.
[ ] ‘ s,
Eduardo.
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Vim para a parte II e acho que a questão aqui não será “evolução musical”. A primeira coisa que precisa ser levada em consideração quando comparamos dois quadros das mais tocadas, um de 1977 e outro de mais de 40 anos depois, é ver como a indústria da música trabalhava a venda de algo – com e sem internet.
No final da década de 70 a intenção de gravar e divulgar um artista nos Estados Unidos era deixá-lo famoso nos Estados Unidos e, quem sabe, colocá-lo em alguns lugares da Europa (dependendo da grandiosidade do artista e da estratégia da gravadora). Hoje não – qualquer ser humano, inclusive essa coisa horrorosa desse Childish Gambino, consegue fazer algo e dissipá-la rapidamente para todo o mundo pela Internet, e pra fazer essa batida ele só precisa de um computador – não precisa nem saber como se forma uma escala musical. Então, é de se esperar, que em 2019, as fórmulas mais mainstreams e os modismos que capturam mais peixes na rede vão estar nas músicas mais tocadas.
E o que se conclui disso? Que quem gosta de música, vai continuar apreciando música, independente da era e do gênero, tendo o devido cuidado e dando a devida importância. Os cuidados com Hotel California mostram que esses artistas se importam com o que está sendo tocado, enquanto que a grande maioria ainda vê música como “algo para deixar de fundo” ou para “animar a galera”.
Por isso que a questão não é evolução musical – música boa sempre existiu, seja na Grécia Antiga, seja nos anos atuais. Mas música boa não quer dizer música mais tocada. Música bem tocada espanta dinheiro, espanta popularidade – mesmo os mais populares dentro do gênero que ouvimos (como Maiden e MetallicA) não alcançam uma Ariana Grande da vida … e isso de certa forma é bom, pois mostra que somos capazes de não sermos alvo fácil do mainstream.
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Ale, Kelsei, eu vou ainda preciso fazer bastante lição de casa aqui neste Post, com P maiúsculo, mais um para reflexão e tentar entender melhor os tempos que vivemos. Então vamos lá:
Dividas
1) Preciso me atentar aos apontamentos do Ale, na tal Hotel California, sendo que ao ler sem acompanhar a música,(o que eu devo) já entendi boa parte, afinal conheço bem a música.
2) Seria interessante verificar as componentes das duas listas da Billboard para tentar avançar no ponto de raciocínio aqui.
3) Dar uma olhada nos últimos do Grammy, esse tal This is America – Childish Gambino?
Isso vai levar algum tempo, afinal meu gerenciamento está parecendo a tal discografia…
Agora uma coisa achei interessante no seu comentário Kelsei: …”Música bem tocada espanta dinheiro, espanta popularidade…” Achava que era um fenômeno tipicamente brasileiro, ou em países que imagino ter nível musical, cultural similar, não é? Aí f…..
Abçs
Flávio
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E desculpem novamente.
Comecei a saldar minha divida (deve ter sido) pelo pior: A tal This is America – Childish Gambino. E eu que tinha acabado de escrever em outro post (retrospectiva 2020) que deviamos usar bem nosso tempo…. E aí, fiz o que pude. Ouvi 1 minuto, coloquei o youtube em 1,75x (para ver se mudava algo) e no ultimo minuto voltei para velocidade normal para enfim dizer que não percam seu tempo e esse treco é um lixo absoluto em tudo. E os caras do grammy devem ter cheirado algo na America com o dinheiro de jabá desse tal Gambino..
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As outras Grammy musics de 2018 e 2017 são normais e servem bem na programação da JB, naquela ida, no elevador do dentista.
Bruno Mars – tipica retro dos anos 70 – boa execução, principalmente do baterista.
Adele – refrão pegajoso e ela canta bem – é isso.
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