Discografia HM – Eduardo Falaschi – Vera Cruz – resenha

Quando nos deparamos com uma bela árvore, frondosa e imponente, suas folhas ao vento e sua enorme sombra, nossa serenidade precisa nos lembrar que tudo isso começou com uma simples semente. Junto dela, uma combinação de vários fatores: o solo propício e fértil, a correta (e muitas vezes natural) adubagem, a dosagem de chuva e vento que não a arrancam do chão, a sorte de não vir um humano sem noção e transformar o local em concreto e o tempo. Muito tempo! Anos por vir! E assim, perseverando, a transformação acontece.

Daquilo que que eu acompanhei dessa história, a semente do que hoje se torna resenha começou lá pelas tantas de 2017, quando um ainda em recuperação Eduardo Falaschi anunciava uma turnê, que começou controversa ainda pelo nome, antes mesmo de uma primeira apresentação – de The Angra Years indo para Rebirth of Shadows. O nome de sua ex-banda não poderia aparecer e, por questões legais, fora trocado.

Nessa época, a banda brasileira Angra já estava com uma nova formação e sua terceira fase de integrantes já havia se firmado com um novo álbum de estúdio, o Secret Garden de 2014. Mas o som não era o de outrora. Aquela pegada do Power Metal e do Melódico andava com a mão, digamos, frouxa. E Deus me livre querer falar mal aqui do Rafael Bittencourt – estou do lado oposto a isso – todas as glórias possíveis para o fundador dessa banda que, junto com o Sepultura, construíram reconhecimento internacional e hasteraram a bandeira do Brasil mundo afora, enquanto que aqui o gênero não ganha suporte porque está longe do mainstream. Bem, melhor sair do jardim do vizinho e voltarmos ao nosso quintal, onde está a sementinha que falei.

É que eu precisava citar o momento do Angra, pois ele foi um dos fatores que adubaram o terreno. O público sentia falta, sentia o carisma, e quando apareceu a turnê do Edu Falaschi, junto com o baterista Aquiles Priester e o tecladista Fábio Laguna, de repente a banda cover tinha mais integrantes juntos do que a própria banda origem (Kiko Loureiro, que era o único integrante da formação original, já estava no Megadeth). Complementavam a banda dois integrantes do Almah, Raphael Dafras e Diogo Mafra, banda que o Edu fundou em 2006, como um projeto despretencioso desses “supergrupos”, mas que depois foi amadurecendo e conseguiu uma formação sólida e um trabalho mais pé no chão. Completava o grupo um então desconhecido Roberto Barros.

Eu cobri o show de 2017. A turnê foi um tiro certeiro. Todo mundo queria ouvir as músicas que o Edu participara no Angra pela voz do Edu, e não de um italiano. E foi aí que o brotinho apareceu: os mesmo integrantes se reuniram e gravaram um EP, The Glory Of The Sacred Truth, com algumas canções inéditas e, na sequência, no mesmo ano, resgataram o Temple Of Shadows, na íntegra.

O primeiro show seria uma gravação de DVD, junto com a Bachianna de São Paulo. Os lotes de ingressos evaporaram. Tanto que em São Paulo, houve dois shows: o da gravação do DVD e um show especial de encerramento da turnê. O rosto feio dessa pessoa que vos escreve foi registrado no DVD, que, por enquanto, ainda não foi lançado no Brasil por questões jurídicas junto ao Rafael Bittencourt, que é a cabeça pensante sobre todo o conceito que circula o Temple Of Shadows. Todo o direito e respeito do mundo novamente ao Rafael. São músicas do Edu e também são dele. Eu não quero importar nada ainda do Japão, pois ainda tenho esperanças que ele seja lançado em Blue Ray por aqui, mesmo que sob encomenda.

Não tinha como a árvore não crescer! Nesse ínterim, Edu foi procurado para um álbum solo, desde que fosse nos mesmos moldes do estilo composto enquanto estivera no Angra. Esse detalhe é muito importante para entender o conteúdo do álbum alvo dessa resenha. Vou repetir. Existe uma exigência contratual para o que você ouve em Vera Cruz, primeiro álbum solo da carreira de Eduardo Falashi, lançado oficialmente em 12 de Maio de 2021. E eu vou chegar onde quero ao enfatizar esse ponto. Respira e não venha querer atirar pedra.

Quem segue o Edu em suas redes sociais foi bombardeado por informações sobre o seu primeiro álbum solo, muito antes de haver um nome ou um conceito. Na medida que as coisas iam acontecendo, Edu informava aos fãs como estava o andamento e o trabalho. E, óbvio, faltava dinheiro. Foi aí que veio a ideia genial de um kit limitado, uma especie de pré-venda exclusiva (e “no escuro”, pois as músicas do EP não fariam parte do novo material), com o intuito principal de angariar fundos para alugar um estúdio e iniciar as gravações.

Sim, iniciar as gravações, pois as músicas já estavam muito maduras. O álbum todo foi produzido por Eduardo Falaschi e Roberto Barros. O guitarrista, que conseguiu reconhecimento por executar as dificílimas linhas de Kiko Loureiro nas músicas do Angra, passou dois meses em Minas Gerais, na casa do Edu, compondo as canções. O tempero do prato ficou melhor ainda quando surgiu a ideia de um álbum conceitual, algo que já está virando moda – parece que agora toda banda tem que fazer ao menos um desses para ter notoriedade (isso é um grande tiro no pé na minha opinião, mas aí é assunto para outro post). Edu, que não é bobo, contratou o Fábio Caldeira para ajudá-lo na composição da história em si e todo o enredo que rodeia Vera Cruz.

Abrindo um humilde parágrafo nessa resenha (que ainda nem começou) para fazer uma menção honrosa à banda Maestrick, do Fábio. Se você nunca ouviu, por exemplo, o maravilhoso álbum Espresso Della Vita: Solare, tem que ouvir! Inclusive, tem que ouvir antes de Vera Cruz!

Voltando ao kit, nem precisa dizer que eu comprei. Adquiri na madrugada do primeiro dia. Chegou dia 22 de Maio aqui em casa e, para poupar mais alguns parágrafos, resolvi fazer um vídeo com um unboxing (nada profissional – não levo jeito para vídeos):

Quando você olha a (belíssima) arte da capa, três coisas chamam a atenção: um cavaleiro templário sob um cálice, uma frase no cálice e caravelas. Edu já tinha adiantado que o álbum seria temático, com uma história criada por ele, que se passaria entre Portugal e Brasil e teria relação com o descobrimento do nosso país. Isso abriu margem para muita especulação sobre uma mistura dos sons dos álbuns Temple of Shadows (cujo personagem principal da história é um cavaleiro templário) e do Holy Land (que tem o mesmo tema sobre nosso descobrimento), dois dos melhores álbuns do Angra. Vou confessar que esse era meu maior medo: o álbum ser uma cópia descarada do próprio Angra. Chegaremos nele. No entanto, o último ponto, a frase no cálice, que está em Latim, é “Alis Volat Propiis”, que significa “Voa com suas próprias asas”, uma referência óbvia ao fato de que Edu está em um disco solo, e agora, com suas próprias asas, ele é quem decide como cada música deverá soar.

No livreto do CD/DVD, vem a história, em português, contada em seis páginas. Vai aqui um resumo do resumo: em Portugal, um menino é abandonado em um monastério, após sua mãe conseguir deixar a criança e despistar dois homens que queriam matá-los. Mesmo a mãe sendo assassinada, o menino, batizado de Jorge, cresce no convento do monastério. Lá, descobre-se que ele era o suposto escolhido para acabar com uma ordem, conhecida como Ordem da Cruz de Nero, e esse era o motivo pelo qual o queriam morto. Após anos de estudo e técnicas de batalha, ele se junta à caravana de Dom Pedro Primeiro para um expedição às Índias que, (in)felizmente, descobriu o Brasil. Dentro da tripulação de Dom Pedro haviam infiltrados da Ordem da Cruz de Nero que tentam matar Jorge mais uma vez, que acabaria resgatado, dessa vez, já no Brasil, por índios, que o levam para um ritual de cura. Através desse ritual, o passado é revelado e Jorge entende sua missão e propósito – a de destruir a Ordem que assombra muitas gerações em sua família. Ah, e o rapaz se apaixona pela filha do cacique, Janaina. Após alguns tramas que não vou aqui mencionar, Jorge e o batalhão de Pedro Alvares Cabral acabam com todos os caras maus da Ordem e Jorge e Janaina se casam na orla de Vera Cruz.

Achei muito interessante a maneira como o título do álbum encaixou na história, sendo o local de desfecho. Foi a parte que mais gostei do enredo. Agora, tem um detalhe no final da história que me chamou demais a atenção – e agora começa uma de muitas inevitáveis comparações com as obras do Angra que Edu participou. Nas histórias tanto de Temple of Shadows como de Vera Cruz, o final é marcado pelo surgimento de uma cobra mordendo a própria calda – um símbolo que representa a continuidade de algo, um reinício de um ciclo. Na história do Angra, a cobra morde sua calda e esse ciclo se reinicia (tanto que a faixa Gate XIII, de encerramento, onde esse ponto é mencionado, é uma música composta de excertos de todas as demais faixas misturada à harmonias próprias, o que metaforicamente mostra que o mesmo tema é tratado novamente, mesmo que mascarado de alguma outra forma). Agora, na história de Eduardo Falaschi, é mencionado que a cobra não come a própria calda. O excerto final é “… o ciclo foi quebrado e a cobra que mordia o própria rabo, o soltou“.

Como o enredo da história foi conduzido pelo Fábio Caldeira junto ao Edu, fica no ar, ao menos para mim, se esse ponto da cobra foi proposital para contrapor o que aparece em Temple Of Shadows ou se os dotes de composição do Rafael Bittencourt realmente trouxeram uma influência para que esse assunto fosse também colocado na história de Vera Cruz. Eu acho que o Edu guarda sim um rancor do Rafael e ele meio que aproveitou o álbum solo para dar umas beliscadas desse tipo (como outras que comentarei, mas que basta você ouvir os álbuns para notar – não vai precisar ser nenhum gênio).

Vamos ao álbum agora. Vera Cruz foi produzido por Eduardo Falaschi e Roberto Barros, com co-produção do Thiago Bianchi (conhecido pelos vocais na banda Noturnall e também no Shaman, na fase pós-rompimento com Andre Matos e os irmãos Mariutti). Quando eu vi o Thiago na turma da produção, gelei. Não gosto dele como produtor, pois ele só sabe ver a parte aguda da coisa. Já vi banda produzida por ele que o som destoou totalmente da essência que era tocada ao vivo. O Edu gosta muito dele, então paciência. O fato do Aquiles Priester também ter tocado no Noturnall era um ponto que talvez tenha sido levado em consideração, pois com um time cem por cento focado, com todos já se conhecendo e ninguém com mimimi, isso traz um ganho muito grande e evita novos e, porque não, repetitivos atritos que qualquer time passa. Como o Edu também teve a voz detonada na época do Angra, por cantar sempre em níveis mais altos que a sua voz alcança, eu fiquei com o pé atrás de ter que ouvir mais um álbum de estúdio onde “ao vivo nunca fica igual”.

Outra carta na manga foi a contratação de Dennis Ward para a mixagem e masterização. Esse cara entende de Power Metal e de brasileiros. Como músico, ele é o baixista do Pink Cream 69. Como produtor, só no Angra, ele assinou os trabalhos de mesa de Rebirth, Temple of Shadows e Aurora Consurgens. Atualmente, ele está co-produzindo o novo álbum do Helloween. Esse era mais um indício que Vera Cruz teria a mesma “intenção” dos álbuns do Angra com Edu.

Quanto ao time que participou da gravação, temos a cerne já conhecida entre integrantes do Almah (Diogo Mafra na guitarra e Raphael Dafras no baixo) e ex-membros do Angra (Fábio Laguna nos teclados e Aquiles Priester na bateria), junto de Roberto Barros (a outra guitarra) e o próprio Edu. Muitas foram as participações no álbum (foram 11 músicos contratados para trabalhos distintos), que vou comentando nas minhas impressões das músicas. A foto oficial do time principal para Vera Cruz está abaixo:

E bora para um faixa a faixa!?

1. Burden
A popular faixa de abertura, mas dessa vez, ela vai além de uma simples harmonia para trazer diálogos do início da história, narrados em inglês. A equipe de marketing criou um prólogo da história com uma arte gráfica bem legal e que, em certos momentos, encaixa com excertos dessa faixa, então vale a pena conferir:

2. The Ancestry
Agora é para valer! Em uma faixa com o mais puro mel do Power Metal, as guitarras dominam, com uma fritação pra lá de exagerada. Acho que esse ponto foi mais um dos beliscões que Edu coloca em seus ex-companheiros de Angra – é impossível ouvir The Ancestry sem lembrar de Spread Your Fire. Parace que nas entrelinhas está um “ei, tá vendo só, eu não preciso do Rafael e do Kiko para fazer uma música extremamente veloz”. O refrão é contagiante!

3. Sea Of Uncertainties
Assim como tivemos uma comparação da faixa anterior com Spread Your Fire, aqui temos uma inevitável comparação com Angels and Demons, só que certas frases estão na mesma escala, dentro até do mesmo ritmo. O segundo solo de guitarra então, nem se fala – a semelhança é gritante. Mesmo assim, uma faixa poderosa, com uma ponte + refrão que arrepia e alguns elementos mais progressivos no decorrer da execução!

4. Skies In Your Eyes
Na história, Jorge é criado por uma freira que tem os olhos azuis como o céu. Essa canção é uma das baladas do álbum, aqui em um estilo mais Almah do que Angra. É a partir dessa faixa que a minha cara de velho ranzinza cessou, pois a marca Eduardo Falaschi de composição fica mais natural aqui do que um “dar o troco” nos ex-membros de Angra.

5. Frol De La Mar
A quinta faixa é um instrumental curto que simboliza o inicio da viagem de navio para as Índias, que é descrita na próxima faixa.

6. Crosses
Pegue o Malmsteen e o Helloween, bata no liquidificador e sirva à vontade. A sétima faixa tem trechos de guitarra erudita no melhor do sueco (uma grande influência para Barros, sem sombra de dúvida, que bebe da mesma fonte da música clássica na guitarra) e a velocidade característica dos alemães – o final então, tem uma tonalidade muito semelhante à Eagle Fly Free. Achei essa música com muita pressa, o refrão entra atropelando, mal dá para respirar. Faltou criar uma ponte, mesmo que simples, que ligasse as estrofes ao refrão.

7. Land Ahoy
E é durante a viagem que alguém grita: “Terra à vista”! Essa aqui está fácil: melhor canção de Vera Cruz, sem nenhum pingo de dúvida. O trabalho nos violões está sensacional e a cadência para a parte mais pesada está muito bem construída. Tiago Mineiro participa no piano e temos também a influência do sons indígena (até porque é nessa faixa que Jorge e a turma do Cabral chega ao Brasil) com instrumentos bem brasileiros, como o Triângulo. É também a maior canção do álbum, com pouco menos de dez minutos. Aqui a galera saiu do parquinho que está acostumado e abusou da criatividade!

8. Fire With Fire
Voltamos a ter uma sonoridade mais Almah, com riffs mais pesados e sem a ultra-mega-power velocidade. Sim, óbvio que os solos são rápidos, mas o meu ponto aqui é que agora as guitarras e a bateria não estão atropelando tudo que veem pela frente. O final dela tem um coro que me lembrou o final de Running Alone, penúltima faixa do Rebirth (Angra novamente).

9. Mirror Of Delusion
Novamente com início de violão, agora com mais velocidade e já junto dos instrumentos elétricos. Essa canção tem uma estrutura mais mainstream, principalmente no refrão. Mesmo com a cozinha bem rápida, o ritmo dela é mais cadênciado, com a coisa ficando mais power metal durante os refrões de guitarra. Rádio Kiss, por favor, tocar sem parar!

10. Bonfire Of The Vanities
Essa é a outra balada do álbum, agora com direito a violãocelo, gravado por Federico Puppi . Edu sempre foi baladeiro e sempre acertou a mão nesse estilo. Essa música é tão boa que deveria ter o dobro do tempo. O solo aqui teve participação de seu irmão, Tito Falaschi, que também é outra figura muito cultuada no mundo do Power Metal (Tito é produto da Metal Opera brasileira Soulspell e teve uma banda chamada Illustria que, por mim, nunca deveria ter acabado).

11. Face Of The Storm
Com participação de Max Cavalera, que não gravava sua voz com alguém há mais de década, se não me engano, Face Of The Storm é um Power Metal com influências de Trash, com palhetadas em tons mais graves, assim como o riff principal, que mistura velocidade com agressividade. Max é um cara que imprime uma raiva muito característica em seus berros e aqui temos um excelente dueto com Edu. Óbvio que ele faz o cara mal! Essa canção representa a batalha final da história e, por isso, possui elementos mais teatrais (como no início da faixa e no meio, com sons de gritos e espadas) e um tapping de baixo bem legal.

12. Rainho do Luar
A tão aguardada participação de Elba Ramalho, cantando em português e fazendo dueto com Edu cantando em inglês (lembraram do Milton Nascimento em Late Redemption, né?!). Eu tinha a expectativa que essa canção seria voltada para algum ritmo nordestino, com um baião, mas me enganei. Elba canta no meio de power cords e viradas de bateria. “Cartar” aqui é pegar leve – Elba encanta! O poderio da voz da pernambucana, que está com quase 70 anos, rouba a cena. No início da segunda estrofe, eu me arrepio; meu braço direito paralisa! A única coisa que não gostei foi que a propaganda do uso da sanfona foi muito maior que o protagonismo do instrumento em si. A canção ainda leva o violãocelo de Federico Puppi e o piano de Tiago Mineiro. Junte também um excerto de Tchaikovski, com o Lago dos Cisnes. Tudo isso em 4 minutos. Não tem como destacar melodia desse jeito, a canção é muito mais focada na harmonia. O encerramento dela é muito rápido. Essa é mais uma composição que deveria ter o dobro do tempo.


E assim chegamos ao final de cinquenta e nove minutos e quarenta e cinco segundos de um álbum encantador, excepcional e obrigatório na coleção do amante do metal brasileiro. Edu acertou ao fazer um álbum para agradar seus fãs e dar a eles o que queriam ouvir – um Power Metal característico, carregado de velocidade e melodias, e que há anos nenhum artista brasileiro fazia algo do tipo. Por mais que existam todas as similaridades com o Temple Of Shadows, principalmente, os fãs dessa fase do Angra estavam órfãos por um trabalho assim. Vera Cruz começa previsível, mais vai melhorando a cada faixa que se avança. Destaco o “Lado B” do álbum sobre o “Lado A”, pois é mais versátil e explora nuances mais divergentes do que o Power Metal “arroz com feijão”.

No faixa a faixa acima, eu não mencionei o Aquiles Prister uma única vez, por um motivo: o destaque dele está no todo do álbum, e não em partes específicas – nenhum outro baterista conseguiria reproduzir a emoção e a velocidade que Aquiles trouxe (sim, nem mesmo o Eloy Casagrande – ele teria que estudar muito). O sul-africano é o melhor baterista de Power Metal na atualidade e não precisa provar isso para ninguém, mesmo ele teimando, fazendo as coisas que faz em Vera Cruz. O outro “Angra man”, o tecladista Fábio Laguna, bem que poderia ter tido solos e frases de maior destaque, mas seu trabalho continuou focado no papel de dar volume às canções, com destaques somente quando os outros instrumentos estavam dando uma descansada.

Também temos um ponto muito positivo no próprio Eduardo Falaschi, que está cantando em uma região menos alta, mais propícia para sua voz, mesmo com músicas de partes bem agudas (obrigado Thiago Bianchi, por não deixar a coisa no “agudo mil graus”). Assim que os shows voltarem (e esse dia chegará!), Edu terá tudo para fazer um setlist de cair o queixo, que exigirá de todos os músicos (incluindo a sua voz). Não sei se Aquiles sairá em turnê, mas vou assumir que sim e é muito provável que ao menos exista uma turnê com a formação completa do disco. É certo que as músicas de Vera Cruz se misturarão aos clássicos do Angra e, espero eu, que Edu coloque algumas coisas do Almah, fazendo um show mais dinâmico.

Termino esse texto com um agradecimento ao Joe Lynn Turner, o jardineiro. Esse vocalista – que muito provavelmente você conhece, ele até ficou entre os finalistas do substituto de Bruce Dickinson no Iron Maiden – é quem foi o responsável por plantar a semente em Eduardo Falaschi: que ele não deveria reinventar a roda e sim fazer o que os fãs quisessem ouvir de seus tempos áureos no Angra.

Vera Cruz é mais um dos álbuns que entram na minha categoria de “pra ouvir sem dó“. No que depender de mim, Edu, pode expandiar essa discografia! Te vejo ao vivo aqui em São Paulo!

E para quem quiser saber mais sobre o processo do álbum e toda a históra da sementinha, veja a entrevista que Edu e Roberto Barros deram ao Flow Podcast:

Beijo nas crianças!
Kelsei Biral



Categorias:Angra, Artistas, Curiosidades, Músicas, Resenhas

6 respostas

  1. Uma aula essa resenha. Em especial para mim, que não tenho a mesma profundidade dentro do ambiente Angra e seus spin-offs. Nada sei de Almah, uma ou outra canção e olhe lá. Não vi o DVD de Edu e mais nada sei da carreira solo dele. E tem muita coisa acima para ver ainda, mas fica aqui registrada a minha admiração por um review que nada deixa a desejar em relação a qualquer outro texto.
    Em relação ao álbum, minha expectativa inicial é menos entusiasmada, mas pelo fato de eu ter acompanhado o Angra até a saída do André. E depois, muito depois, corri atrás do prejuízo e adquiri os dois primeiros com o Falaschi. Os demais até hoje não desceram muito, gostei um pouco mais do Omni do que os outros.Outro ponto desfavorável foi que eu estava no Rock in Rio naquele show desastroso , no palco Sunset. Saí dali com uma péssima impressão sobre Edu. A impressão de lá pra cá amainou, mas confesso ainda ter uma certa reserva com a sua condição vocal.
    Assim, me agrada quando você cita que ele está cantando dentro de um equilíbrio. E o pouco que ouvi do Almah reforça a impressão que ele estava acima do seu melhor ” range ” no Angra. No Rebirth isso é muito claro, a despeito de seu esforço e de um resultado final muito bom, à época.
    De qualquer forma, é impressionante a qualidade do material deste Vera Cruz. Revela muito cuidado e carinho com os que estão acreditando no projeto. Ainda que não seja um pioneiro, vale encaminhar um parabéns ao Edu!
    Vou ouvir essa Vera Cruz, claro… Ainda mais depois de uma resenha dessas …
    E trago minhas impressões quando a audição ficar bem amadurecida.

    Até
    Alexandre.

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    • Como eu sei que você vai ouvir mesmo e vai voltar aqui, eu recomendo pegar os álbuns que você tem do Angra com o Edu e dar um “esquenta”. É bom para refrescar as referências que você não vai deixar passar …

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      • Voltando aqui, depois de ter ouvido bastante o suficiente para entender esse novo álbum do Edu. E fiz como você sugeriu, Kelsei, ouvi o Rebirth e o Temple of the Shadows juntos com as audições desse disco, intercalando um e outro. E a conclusão mais latente é que Falaschi seguiu as recomendações que o Joe Lynn Turner lhe deu, trouxe para registrar aqui uma mescla do que foi o trabalho dele junto ao Angra, em especial nos álbuns mais apreciados pela imensa maioria de fãs, que são justamente os dois primeiros acima citados.
        Então quem gosta é fã do Angra e do trabalho do Edu na banda TEM que comprar esse disco. O disco é feito para vocês.Note, apesar de eu ter tanto o Rebirth quanto o Temple of Shadows, não me considero um fã mais ” true” dessa fase da banda. Eu admiro muito o conteúdo dos álbuns, mas há sempre algo aqui e ali que me impedem de ser esse fã inconteste da banda.

        Talvez pela questão que envolve a velocidade meio exagerada de algumas faixas, acabei gostando mais das baladas (Skies in Your Eyes e Bonfire of Vanities), da pegada totalmente Angel and Demons de Sea of Uncertainties e da mistura com ritmos brasileiros na trabalhada faixa Land Ahoy. As participações me deixaram sentimentos contraditórios. Na verdade, no caso da Elba Ramalho. Acho que ela canta bem, mas não consigo acostumar com essa mistura de idiomas em uma canção ( Foi o mesmo caso com o Milton, no Temple of Shadows). Já o Max Cavallera fez o que sempre faz, e não me agrada.

        Ha dois pontos que eu preciso ressaltar na minha análise . Um positivo , outro nem tanto:

        Negativo, por assim escrever, seria primeiro o exagero de Arpeggios em velocidade supersônica durante todo o disco, algo que pontuei acima. Independente de reconhecer a habilidade técnica do guitarrista, pra mim passou demais do ponto. E falando em velocidade supersônica, junto o emprego dos bumbos em igual bpm como outro ponto que me deixou de nariz meio torcido.

        O ponto positivo é o talento de Edu como compositor do álbum e também junto ao Angra, algo que fui acabar descobrindo ao pesquisar e ouvir esse Vera Cruz. O disco me trouxe muito mais respeito ao Edu como músico em essência. Saúdo o artista por seu talento e também pelo cuidado com entregar um material primoroso tanto do ponto de vista em atingir seu publico alvo , mas também pela qualidade gráfica observada.

        Alexandre

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  2. Uma resenha + entrevista com o próprio Edu no canal Resenhando, que eu já andei indicando aqui.
    Recomendo :

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  3. Já faz alguns dias – mas quero aqui registrar a divulgação do próprio Falaschi do (fantástico) post do Kelsei:

    [ ] ‘ s,

    Eduardo.

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  4. E para quem quiser, saiu o video clipe de Land Ahoy:

    Muitos dos atores são músicos. Vamos ver quantos você acerta sem ler os créditos…

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