A discografia KISS havia parado em 2013, mas hoje, mais de onze anos depois, optamos por atualizar em alguns poucos capítulos o que a banda andou fazendo até o suposto farewell show, em dezembro de 2023.

ÁLBUM: ROCKS VEGAS

Ao retomar esta discografia, é preciso reforçar que os capítulos que compõem essa discografia Minuto HM são baseados em lançamentos fonográficos. E em função do cenário musical, onde o formato físico cada vez mais perdeu força, comercialmente várias bandas vêm espaçando seus lançamentos. Com o KISS, a partir de Monsters, o que se viu foi uma vertiginosa redução. Com essa redução, a discografia Minuto HM do KISS diminuiu também seu ritmo, podemos dizer que praticamente estagnou. Há o que contar, no entanto, a começar por este Rocks Vegas, de 2016.

• Paul Stanley, Gene Simmons, Eric Singer e Tommy Thayer.
• Lançamento: 26/08/2016.
• Produtor: Tommy Thayer

Para traçar um paralelo que vai nos levar ao lançamento desta agora 37ª parte (as partes da carreira solo de Paul Stanley e Gene Simmons foram modificadas para o formato apêndice, bem como um post sobre a Vinnie Vincent Invasion), vamos entender que, de 2013 em diante, a banda praticamente só excursionou. Os lançamentos em vinil ou cd, desde então, são coletâneas ou gravações ao vivo. Ainda em 2012, a banda havia estado com o Motley Crue na tour intitulada The Tour, com 44 shows na América do Norte, quase todos nos EUA, exceto 2 no México e 1 no Canadá. O Minuto HM esteve lá, como você pode ler aqui.

A intitulada Monster World Tour, no entanto, começou no fim de 2012, passando pelo Brasil  (você pode também ler aqui) e por mais outras 48 datas entre América do Sul, Europa, 4 no Japão, 8 na Austrália,Canadá e alguns poucos nos EUA. O set list segue uma tendência em ser composto em sua grande maioria dos clássicos inquestionáveis da banda, com pouco espaço para variações. As novidades ficam por conta das novas músicas de Monster (Wall of Sound, Hell or Hallelujah e Outta This World), que vão pouco a pouco também saindo do repertório, na sequência dos inúmeros shows que a banda vai enfileirando. As músicas raras ficaram para os Meet & Greets ou para os KISS Kruises.

O que se segue dali é a turnê de 40 anos de banda, a Kiss 40th Anniversary World Tour, que motiva um lançamento de uma coletânea dupla em cd chamada KISS 40 Years Decades of Decibels. O trabalho traz uma sequência cronológica de 40 músicas, contemplando uma canção de cada álbum, incluindo discos ao vivo, músicas dos discos solos de 78 e demais compilações, além dos discos de carreira. A única novidade é a inclusão de Reputation, que é uma versão demo cantada por Gene Simmons, ali na época do Love Gun.

A versão japonesa também traz uma versão ao vivo de Hell or Hallelujah, como bônus.

Novamente em turnê, a banda faz 52 shows na América do Norte em 2014 (entre eles várias datas em novembro, em Las Vegas) e 38 shows em 2015, entre Japão, América do Sul (com 10 datas), Oceania e Europa.  E sim, o Minuto HM esteve lá .Em 2016 percorrem cidades menos visitadas dos EUA, além de cumprir 2 datas no Canadá. Novamente o set list é baseado nos clássicos da banda, com uma ou outra rara escolha mais ousada, como a inclusão de Flaming Youth nos shows de 2016. Os shows de Vegas em 2014 são a base do assunto principal deste post, o cd e dvd Rock Vegas.

O dvd traz algumas das versões acústicas dos Meet & Greets, veja abaixo o track-list:

Em 2017, outra coletânea, a Kissworld (The best of KISS), com absolutamente nenhum material inédito, é lançada contendo 20 canções sem nenhum critério mais específico de escolha, porém suportando a Kissworld Tour que vai até 2018, com 35 shows entre América do Norte e Europa.

Kissworld Tracklist:

E para atualizar a banda aos seus teóricos momentos finais, o KISS continuou fazendo os KISS KRUISES, que chegaram a uma versão 12 em 2023. E em 2019 emendou a sua turnê de despedida dos palcos, a End of the Road World Tour com 251 shows, além de aparições em eventos esportivos em lugares como Melbourne e ancorando um lançamento da biografia Kisstory em Nova York, em meados de 2021. A tour sofreu, assim como todas as outras turnês, uma inevitável paralisação durante a pandemia. A exceção foi o show na virada do ano de 2020 para 2021 em Dubai, quando as já relatadas questões com o uso de dublagem foram bastante perceptíveis e criticadas. Os shows continuaram a privilegiar cada vez mais as canções clássicas da banda. E sim, a banda passou por aqui não uma, mas duas vezes nesta End of The Road Tour, como pode ser vista aqui e aqui.

Por fim, o provável capítulo final do grupo nos palcos foi coberto também pelo Minuto HM, através do evento em pay-per-view do show do dia 02 de dezembro, no Madison Square Garden, nos trazendo de volta ao momento em que se publica este post.

N.R: A coletânea Kiss 40 Years: Decade of Decibels, dentro do que se espera de uma compilação, no nosso entendimento, até traz elementos interessantes, como a proposta de colocar as canções em uma sequência cronológica. Além disso, ao trazer uma canção por álbum, não deixou de fora trabalhos do Double Platinum, Killers, Smashes, Trashes & Hits, Unplugged e discos solos, além de outras dos recentes lançamentos ao vivo, como o Alive! The Millenium Concert, o Instant Live ou o Alive 35, entre outros. O resultado entrega faixas como Room Service ao vivo, lançada no You Wanted The Best, You Got The Best, de 1996, a balada Nothing Can Keep Me Away From You ou Down On Your Knees, do Killers. Essas são faixas que não se espera encontrar em uma coletânea do grupo. A única música inédita, Reputation, não é dos trabalhos mais inspirados de Gene Simmons. E há sim algumas “bolas fora” também, um ponto que chama a atenção de forma negativa é a artificialidade dos vocais de Crazy, Crazy Nights (ao vivo),na versão de 2010.

Outros equívocos são escolher a versão sem peso da mixagem de 85 para I Love It Loud e colocar a “single edit” de I Was Made For Loving You como representante do Dynasty, versão esta que não está no álbum de 1979 e sim no Killers. Ainda assim, consideramos uma boa coletânea. Não se pode dizer o mesmo da compilação Kissworld, onde a escolha das canções é quase toda muito óbvia e compete com várias outras coletâneas que o grupo anteriormente já lançou. Uma exceção talvez seja I’m a Legend Tonight, faixa lançada na coletânea KISS Killers.

Já o álbum (e DVD ao vivo) Rocks Vegas é um reflexo do último formato que o grupo estabeleceu, ao voltar-se para os sons mais clássicos durante a escolha do set-list, com uma ou outra música ligeiramente fora do mais óbvio padrão. Parasite, War Machine ou Tears are Falling, ainda que bastante conhecidas, não são exatamente obrigatórias em um show da banda. A inclusão de Hell or Hallelujah se justifica por estar no Monster. A volta de Creatures of The Night pode eventualmente ser mencionada também, mas é isso. A versão de Lick it Up é uma das que difere mais do gravado em estúdio, com a inserção de um trecho que remete ao riff de You’re All That I Want (Unmasked), claramente influenciado por Won’t Get Fooled Again, do The Who.

Outras nuances que variam durante o show se remetem mais a interações com a plateia e não soam lá muito naturais. E se há críticas sobre essa e outras artificialidades de outros lançamentos ao vivo, como nas músicas inéditas ao vivo de You Wanted The Best, You Got The Best ou mesmo do Alive III, aqui acreditamos que qualquer observador com um mínimo de atenção vai perceber que os vocais de Paul Stanley trazem muitos overdubbs e pós tratamento. De alguma maneira, os vocais de Simmons estão menos artificiais, os efeitos aplicados são percebidos de forma mais discreta.

O solo simplificado de Thayer na parte final de War Machine é, para um fã mais atento, um atentado ao bom gosto. Há alguma simplificação também no solo de Tears Are Falling, embora ele faça a parte principal com perfeição, mas nas demais canções o guitarrista se apresenta bem encaixado em seu papel na banda. Eric Singer vinha adotando um estilo mais econômico em relação ao seu papel em álbuns como Revenge, ainda assim não demonstra qualquer dificuldade em mostrar sua exímia precisão. O músico se tornou uma peça importante ao apoiar os vocais mais altos nos arranjos. Os backings, no entanto, também soam muito artificiais, extremamente polidos. Gene conseguiu conservar mais sua voz, entrega boas linhas de baixo, já Stanley mostra maior dificuldade vocal, inclusive nas falas durante as músicas.

Através do DVD percebe-se a grandiosidade de um show da banda, com a inclusão dos diversos artefatos tecnológicos mais recentes como o maior suporte ao espetáculo. O show indoor também traz algumas adaptações, pelas dimensões da arena de Las Vegas. Não há o vôo de tirolesa em Love Gun, por exemplo. E algumas músicas têm suas versões maiores em DVD do que as registradas em cd ou vinil, por exemplo há o momento solo de Gene Simmons antes de God of Thunder.  A verdade é que fica difícil saber o que é playback do show original, o que foi refeito e se algo sobrou do que foi eventualmente cantado. O DVD traz também a parte acústica, entre eles um inédito lançamento oficial ao vivo de Love Her All I Can, uma bem-humorada versão de Christine Sixteen, também inédita no formato e uma versão com improvisos e um esquecimento da letra de Gene Simmons em Goin’ Blind. No entanto, também se percebe claramente que os vocais foram refeitos. O lançamento em vídeo foi veiculado em cinemas por todo mundo e depois exclusivamente em pay-per-view, antes do lançamento em formatos físicos. Rocks Vegas vai agradar um fã menos exigente, no entanto, entendemos que boa parte dos apreciadores, como nós, o considera muito previsível e pouco atrativo.

Cabe ressaltar a longevidade da última formação do conjunto, cerca de 20 anos ininterruptos sem qualquer alteração. E como a discografia HM do KISS acompanha os lançamentos fonográficos, cabe também ressaltar que ainda não chegamos ao fim. O próximo episódio vai trazer os detalhes de um outro projeto em andamento da banda, o lançamento dos álbuns Off The Soundboards, enquanto máquina KISS avalia também a sua imortalidade como avatares.

Saudações,

Alexandre Bside e Flávio Remote

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