Cobertura Minuto HM – Elton John em Madrid (Espanha) – parte 2 (resenha)

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Após uma chegada mais que tranquila ao meu lugar marcado e com a banda de abertura tocando por pontuais e exatos 20 minutos de fama, os telões foram ligados com o nome da tour, Follow The Yellow Brick Road, uma marca comemorativa do álbum Goodbye Yellow Brick Road. E, de fato, o Sir não economizou por ali, sendo que cerca de 30% do show foi baseado no clássico disco de 1973: foram 8 músicas (praticamente metade do duplo de 17 músicas) executadas na noite.

Com o parágrafo acima, o jogo está mais que ganho, mas mesmo assim Elton John pinçou seus medalhões sem dó e piedade, fazendo do show de precisas 3 horas uma verdadeira coletânea de sua longa e importante carreira ao mundo da música.

A abertura, ovacionada por gritos espanhóis de “bravo, bravo”, foi com Funeral For A Friend/Live Lies Bleeding, que abre o disco homenageado e é um som longo e praticamente instrumental, além de altas doses de psicodelismo com diversos solos de guitarra já apresentando a exímia competência dos companheiros de tantos anos de banda.

Quando Elton cantou ali pela primeira vez, além da satisfação enorme por ouvir uma das mais importantes vozes da história, veio a constatação que já havia sido observada em outros shows: a idade transformou a voz do Sir e as músicas, claro, “sofreram” as devidas adaptações para acompanhar uma voz muito mais grave do que quando das gravações em estúdio mas que, em diversos momentos, funciona até melhor que nas versões originais. Mas realmente é o ponto que chama mais a atenção, pois a voz está realmente grave e, claro, o alcance muito mais limitado – entretanto, fatos que pouco atrapalham a execução dos clássicos.

A verdade é que depois da psicodélica abertura, que a banda parece aproveitar para literalmente “passar o som e aquecer”, vem uma enxurrada ininterrupta de clássicos como poucos artistas podem se dar ao luxo de contar em seus catálogos. Além da questão da voz, Elton hoje parece estar usando mais reverb para dar aquele importante complemento sonoro, algo já observado no final de Bennie And The Jets (que contou com uma das tradicionais, ainda que rápida desta vez, levantadas do piano).

O ginásio, ainda que bem preparado para receber o show, não conta com uma boa acústica para shows, com o som reverberando e atrapalhando especialmente o som da caixa da bateria e backing vocals. Com as caixas alocadas do meio para o final da pista, e eu nas arquibancadas mais para trás um pouco, me irritei um pouco com o som que chegava com leve delay e muitas vezes era dava a sensação de estar duplicado com o que vinha da frente. Algo foi feito logo no início do show que, com o desenvolvimento, a sensação diminuiu razoavelmente, apenas incomodando em ocasiões específicas.

Então John despejou logo de cara esta metade de músicas que tocaria do álbum festejado, invertendo a ordem de Candle In The Wind e Bennie And The Jets. Vale ressaltar novamente como é bom ver Nigel Olsson com suas tradicionais luvas brancas e as coerentes e precisas viradas de bateria que sempre culminam no ataque ao crash à sua esquerda, uma tradicional marca do lendário batera que ainda monta seu kit com bumbo duplo, apesar de eu realmente não conseguir observar o uso real deles, sendo puramente uma questão visual mesmo :-). Além dele, é impossível ficar indiferente ao talento de Ray Cooper, Matt Bissonette e Davey Johnstone.

Com as mãos que continuam rápidas e precisas, além da grande empolgação nos solos de piano, com suas levantadas clássicas e caras e bocas a todo instante, Elton apresentou a tour comemorativa, interrompendo a sequência do álbum brevemente para músicas de outros discos, sendo que a sensação de coletânea só aumentava com músicas como Tiny Dancer e Daniel.

Para Daniel, eu esperava até uma reação mais forte, já que a letra da música se passa com o protagonista justamente indo para a Espanha, local do show. Eu lembro de estar prestando atenção neste detalhe, mas me decepcionar com a pouca reação de alguns fãs que também observaram o detalhe e gritaram nas horas do “heading for Spain”.

Não dava tempo para respirar pois realmente eram muito sucessos juntos, até chegar em uma das mais celebradas pelo público europeu da noite, Rocket Man (I Think It’s Going To Be A Long, Long Time):

Hey Ahab veio na sequência e foi talvez o ponto de “descanso” ao público e até mesmo para a banda, já que a sequência de clássicos continuaria logo após, passando por I Guess That’s Why They Call It The Blues, uma música fabulosa que ganha muito ao vivo com o palco ficando todo azul e com o telão alternando lindas imagens, inclusive com elementos de água, com a palavra “blue”. Um grande momento, sem dúvidas, de cada show do Sir.

O auge para mim veio com a inesperada (pelo menos para mim) de “The One”. A surpresa foi tamanha e também dada à mudança de voz de Elton que confesso que demorei a “confirmar” para mim que era realmente a música, que faz muito sucesso no nosso país. Olhei para os lados, não vi ninguém cantando, e me surpreendi bastante, pois para mim é uma música daquelas a se cantar a plenos pulmões. Contando apenas com Elton no palco, a versão ficou excelente e fiz o registro, ainda que mal olhando para a tela do celular durante este que para mim foi o auge da noite. Peço apenas desculpas pois o áudio acaba captando a minha voz (fazendo um horripilante backing vocal) e estragando um pouco o que interessa:

Sem folga, veio Your Song, facilmente apontada uma das coisas mais bonitas já gravadas por Elton:

Com 15 músicas, comecei a imaginar que o show já caminhava ao final (e confesso que já estava mais que satisfeito por ali mesmo), mas ainda tinha muito por vir, passando, é claro, pela monstruosa Don’t Let The Sun Go Down On Me:

Para mim, ali seria a deixa para o encore, mas a banda ainda tocaria três músicas antes do bis. Com o término da música acima, o público finalmente “acordou” para uma reação “menos européia e mais latina”, se levantando um pouco e, na pista, começou a deixar seus lugares rumo à baixíssima grade. Notei um grande esforço dos seguranças pedindo para as pessoas retornarem aos seus lugares, mas com a maioria fazendo o mesmo e dada à educação do público, também mais velho, logo a frente do palco acabaria virando uma verdadeira pista, com Elton aprovando o movimento e cumprimentando as primeiras fileiras com toques nas mãos das pessoas, e dando também autógrafos em itens como fotos e CDs.

Retornando com Sacrifice e anunciando o bis como “otra”, foi interessante notar como a coisa “esquentou”, com o público tendo um comportamento bem diferente, virando praticamente um estádio de futebol com gritos de “olé, olé, olé, olé” e “bravo” para todos os lados. Sacrifice foi outro momento bonito com os isqueiros flashes dos celulares ligados, dando um efeito legal no ginásio. Elton agradeceu pelos flashes.

Viria Crocodile Rock e achei que o show fecharia ali, tanto que a banda aproveitou para cumprimentar o público e eu, que ainda queria andar pela cidade a noite e sabia que acordaria bem cedo no domingo para aproveitar a cidade, aproveitei para ir me mandando para a saída. Foi quando, já de pé perto de uma das saídas, curti a trilha sonora do clássico da Disney, The Lion King, ou para eles “El Rey León” (que inclusive está em cartaz em um teatro na Gran Vía, a “Paulista de Madrid”), com Elton fazendo um grande medley com Can You Feel The Love Tonight?, fechando uma noite fantástica para quem curte composições que jamais serão alcançadas em termos de qualidade no futuro.

Apenas para fechar: é incrível como a gente sofre no Brasil. Ao sair da casa, de forma organizada e sem ninguém encostando em ninguém, em cerca de 3 quarteirões já abri o braço para pegar um taxi… sabe quando será por aqui? Que me desculpem os otimistas: JAMAIS.

[ ] ‘ s,

Eduardo.



Categorias:Artistas, Cada show é um show..., Covers / Tributos, Curiosidades, Dream Theater, Músicas, Resenhas, Setlists

13 respostas

  1. Ola,
    Bom é “novamente” inacreditável o transporte para o show que o Eduardo nos traz, presidente é presidente e ponto final. Ainda bem que não esperou a “terça do Rolf” e estamos devidamente brindados e com grande estilo aqui.
    Eu adoro Elton John – não é bem no core do tema musical geralmente colocado aqui, mas não há dúvidas que é genial e influência inclusive para várias bandas mais claramente identificadas com o que normalmente abordamos. Eu acredito que todas as bandas Neo progressivo “beberam na fonte” e outras também.
    Não dá para não aproveitar o gancho e coloco aqui o DT homenageando Elton na fantástica Funeral from a friend/Love lies bleeding – a abertura do show espanhol.

    Independente da influência ou não – o vasto repertorio de Elton traz petardos e baladas de qualidade inquestionável.
    O Eduardo foi agraciado pela homenagem ao clássico goodbye yellow brick road, que recentemente comprei em vinil – está vindo outro vinilzinho simples com trechos de dois concertos de Elton nos anos 70 (Here and There – 1976). Recentemente “descobri” que tinhamos esse cd e tive que ‘equalizar” com a coleção de vinis. Antes de comprar o vinil ao vivo, fiquei com dúvidas, valia ou não a pena investir nessa “equalização”? Resolvi ouvir o “cdzinho”. Galera, que som! que qualidade da banda… Na hora entrei no ebay e está vindo.
    O Elton dos anos 70 era incrível e surpreendente, já do meio/final dos anos 80 para cá o repertório (para mim) deu uma boa caída – salvo alguma coisa aqui ou ali.
    Vi Elton duas vezes: Uma na primeira vinda ao Brasil – 1995 e lembro pouco do show, que está abaixo:

    1 – I’m Still Standing
    2 – I Guess That’s Why They Call It The Blues
    3 – I Don’t Wanna Go On With You Like That
    4 – Sacrifice
    5 – Honky Cat
    6 – Daniel
    7 – Blessed
    8 – Simple Life
    9 – The One
    10 – Song For Guy/Take Me To The Pilot
    11 – Made In England
    12 – Someone Saved My Life Tonight
    13 – Don’t Let The Sun Go Down On Me
    14 – Bennie And The Jets
    15 – Rocket Man
    16 – Can You Feel The Love Tonight
    17 – Believe
    19 – Pain
    20 – Saturday Night’s Alright For Fighting
    21 – Pinball Wizard
    22 – Funeral For A Friend/Love Lies Bleeding
    23 – The Bitch Is Back
    24 – Your Song
    25 – Candle In The Wind

    Depois no Rock in Rio em 2011 “abrindo” para a atual popular “Rihanna”. Vi um Elton John com repertorio desconhecido de boa parte do público e por isso talvez “amornando” o clima do festival. Foi um estranho sentimento – eu realmente estava literalmente me atestando ser mais velho do que a maioria presente, e aí pensei – que privilégio eu ter conhecido Elton lá na minha infância, nos anos 70. Na tour dos “Greatest Hits”, um set list clássico mais curto, com boa parte do publico “voando” e uma tentativa de agradar o Brasil, com a maravilhosa e inusitada presença de Skyline Pigeon (um sucesso brasileiro nos anos 70).

    Set List Rock In Rio 2011.
    Saturday Night’s Alright for Fighting
    I’m Still Standing
    Levon
    Tiny Dancer
    Philadelphia Freedom
    Goodbye Yellow Brick Road
    Rocket Man (I Think It’s Going to Be a Long, Long Time)
    I Guess That’s Why They Call It the Blues
    Hey Ahab
    Honky Cat
    Daniel
    Don’t Let the Sun Go Down on Me
    Skyline Pigeon
    Bennie and the Jets
    The Bitch Is Back
    Crocodile Rock

    Por fim os parabéns ao Eduardo por novamente fazer a diferença e nos brindar com o testemunho perfeito do show espanhol. E trago novamente um aspecto que estamos sempre mencionando. Parafraseando o Rolf: Vamos blindar e brindar aos clássicos.

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    • Bom, Remote, aqui nem sei para onde ir depois deste “comentário-post”. Quero registrar o agradecimento pelas palavras – exageradas – e por mais uma aula. Essa versão colocada do Dream Theater não era do meu conhecimento, e fico feliz de ter visto algo assim, pois a faixa realmente tem todo apelo progressivo / psicodélico, e nada melhor que ver uma das maiores autoridades do mundo, mesmo “novinhos” e sem ser com Rudess nos teclados, fazer a versão.

      Temos que realmente “blindar os clássicos”, já que estamos falando simplesmente de um Sir. Só isso já credencia. E a banda que o acompanha também é fantástica. Junta-se a isso um repertório imaculado e tem-se uma noites e noites fantásticas de boa músicas.

      Sobre o vinil, excelente aquisição e creio que você até tenha ficado feliz ao saber que o CD existia para poder igualar, hahaha…

      E concordo com você, Elton John nos anos 70 era incrível, moderno, a frente do tempo, corajoso em vários sentidos… é tanta criatividade que este duplo Goodbye Yellow Brick Road poderia ser facilmente uma coletânea de tão bom que é, como digo no texto.

      Já sobre Skyline Pigeon, acho muito legal que ele tenha sempre o cuidado de tocar no Brasil a música, coisa que ele praticamente não faz fora do país. É um som que eu gosto demais e vale a pena ter esse “gostinho” quando ele toca por aqui.

      Obrigado novamente pelo “post dentro do post” e blindemos os clássicos – mas, neste caso, nem é preciso fazer força para isso…

      [ ] ‘ s,

      Eduardo.

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  2. impressionante o poder de mobilização do Rolim para ir a eventos fora do país seja de forma planejada ou nao
    ainda estou lendo mas ja quero registrar isso

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  3. Post sensacional, ótima a cobertura do show , Eduardo. E desta vez com um importante diferencial. Independente da qualidade do vídeo, me senti em Madrid. As músicas filmadas estão inteiras, e som, muito bom. Vi todos os vídeos, apreciando o visual e interação da platéia, realmente mais contida. E o melhor, tá tudo com a marca Minuto HM no alto, à esquerda, um padrão de exclusividade.
    As fotos estão bem legais também, me chama a atenção, logicamente, a guitarra doubleneck, sempre uma das minhas predileções.
    Em relação ao repertório, é um “jogo ganho”, não ? Mas destaco funeral for a friend ( mais até do que a segunda parte da peça , Love lies bleeding) que é linda, melancólica e um pouco diferente do estilo Elton John, mas com a categoria imensa do cantor e sua excelente banda. Lembrei também da versão do Dream Theater, já mencionada pelo Flávio.
    Não lembrava de Bissonette na banda, é mais um para incorporar a excelência instrumental do conjunto de Elton.

    Aqui , dois shows: Um de Elton e sua banda, o outro da cobertura.

    Sensacionais !

    Alexandre

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    • B-Side, fico lisonjeado com os elogios e principalmente pela parte que você comenta que se sentiu “no show” – esta é sempre a minha intenção quando faço este tipo de texto…

      Os vídeos ficaram legais por eu estar mais longe, com um celular novíssimo e principalmente por ele contar com um microfone extra que abafa o som externo (no caso, minha voz e possíveis conversas de outras pessoas). Ele faz isso bem, só estragando provavelmente quando o celular se aproximava mais de mim, pois eu filmava sem olhar para a tela do celular… hehehe…

      As fotos não estão tão boas, mas agradeço as palavras… ali não tinha milagre, pois a distância ainda não é resolvida pelo zoom digitalde um celular. Valem mais pelo registro / lembrança.

      E sim, o set é jogo ganho, e não tinha dúvidas que você falaria da abertura, que é a coisa mais b-side de todo o show.

      A banda de “suporte” é realmente excelente, com grandes nomes mais que consagrados e que possuem uma precisão impressionante no que fazem.

      Que a gente ainda possa ver este Sir mais algumas vezes!

      [ ] ‘ s,

      Eduardo.

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  4. Fala Eduardo!

    Eu sou “torcedor de radinho”. Raramente saio de casa para assistir show e já falei sobre alguns dos motivos em meus primeiros posts aqui no blog. No entanto jamais irei menosprezar essa sensação de assistir a um grande artista e toda a sua diacronia: como ele irá se comportar através do tempo.

    Estas constatações, sentimentos, percepções e etc são muito legais, sabe? É legal “assistir” sem um olhar mais crítico. Curtir o momento, se desnudar de observar o espetáculo como quem analisa um rato comendo o queijo dentro de um laboratório. Falo isso de mim e por mim.

    Elton John tem uma mão “nervosa” no piano. Já foi mais rock and roll, mas seu jeito de fazer música tem uma marca indelével e que não vejo assistida em artistas contemporâneos. Quem é que se lança ao piano para sentimentalizar e cantar versos fantásticos? O privilégio de ter Bernie Taupin como parceiro nos presentou com pérolas, fazendo o idioma bretão invadindo o mundo.

    Está vivo na sua mente e agora está imortalizado no MHM.

    Valeu,

    Daniel Junior.

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    • Daniel, legal o comentário, agradeço. Concordo com você: não há nada como “sentir” um show ao vivo – bom, eu nem preciso comentar muito sobre, não é mesmo? E é como eu sempre digo e é digno de uma das primeiras categorias criadas desde que o blog nasceu: “cada show é um show”: https://minutohm.com/category/cada-show-e-um-show/

      Sobre EJ, realmente uma carreira que já foi mais rock and roll e que se perdeu um pouco a partir dos anos 80, ainda que ache que o termo “irregular” seja muito forte pela qualidade do que ele sempre entregou. Mas, sem dúvidas, os medalhões são setentistas.

      É clássico, e acho muito difícil o mundo ter um artista como ele nascendo por aí… temos de aproveitar, sempre.

      [ ] ‘ s,

      Eduardo.

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  5. Olha, confesso meu desconhecimento da carreira deste Sir Elton John. Não sei como mas, mais uma vez fico embasbacado, com a profundidade e a amplitude do conhecimento da galera do Minuto HM. Não e por nada que tenho usado a nossa camiseta com muito orgulho, por aí.
    Parabéns pelo post e pelos comentários.

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