Tony Iommi, lendário guitarrista do Black Sabbath, talvez tenha sido aquele que mais tenha trocado de vocalistas em suas formações de bandas, considerando a grandeza e a importância que o Sabbath tem no cenário do metal. Seja por obrigação ou não, ele talvez seja um dos poucos que ao longo de décadas, soube trabalhar com diferentes vocais.
Pode-se pensar em outras bandas que também fizeram trocas sucessivas do frontman, mas que não seja do mesmo tamanho que ele teve …. acho difícil. Há quem diga que o resultado de sucessivas trocas tenha descaracterizado o Sabbath, por exemplo, e eu concordo. São bandas diferentes dentro de uma mesma trajetória com certeza, mas Isso de certa forma manteve o Black Sabbath literalmente renovado para seguir em frente. Olhando agora, isso foi bom para o heavy metal de forma geral. Eu, particularmente, acho fantástico que isso tenha ocorrido, muito embora eu também tenha as minhas formações prediletas, lógico, assim como todos devem ter, mas, de forma geral, tivemos a oportunidade de ver o rei dos riffs buscando se reinventar em cada ciclo e isso foi muito bom para todos nós.
Em seus trabalhos solo, por exemplo, Iommi deixou claro que pra ele isso – diferentes vocais e composições – nunca foi um problema e fez questão de chamar diferentes pessoas no processo, e, vejam como isso deu muito certo. Passado o trauma inicial de perder Ozzy, Iommi buscou ele mesmo trabalhar com outros vocalistas. Justamente ele que volte e meia aparece um desavisado falando algo do tipo “Sabbath é com Ozzy”. Concordo, mas veja as coisas boas feitas depois.
Como citei acima, para muitos, pensar em vocalista do Black Sabbath é pensar em Ozzy Osbourne. Uma pena! Outros que vieram e participaram da banda no período em que Ozzy esteve afastado deixaram boas histórias a se contar e ficaram com pequenas e insignificantes passagens-relâmpago como o primeiro a substituir Ozzy, que foi Dave Walker, que participou de um programa de TV, escreveu algumas letras e acabou saindo quando Ozzy decidiu voltar três semanas depois.
Tempos depois, Ozzy vai embora novamente e começa um dos maiores ciclos da trajetória da banda com grandes nomes nos vocais. O primeiro foi a lenda Ronnie James Dio. Nosso mestre e a minha melhor formação e a melhor “banda de Sabbath”.
Dio com Sabbath foi algo sensacional e nunca mais haverá nada igual a essa formação na história do metal. Foi mágico. Os álbuns de estúdio Dehumanizer, Mob Rules, Heaven and Hell e The Devil You Know foram legados da maior importância pra história do heady metal, e, como mencionei, deixou um dos maiores legados artísticos de todos os tempos no gênero. Dio que teve três passagens com Iommi, foi talvez sua melhor parceria artística e sua trágica e precoce morte em 2010, quando se preparava para mais uma turnê com seus amigos do Sabbath, deixou um gosto amargo em todos nós. Até hoje.
Agora, dentro dessa trajetória espetacular de vocais que trabalharam com o nosso mestre Iommi, temos talvez aquele que tenha sido a maior especulação de todos os tempos: na primeira saída de Dio, em 1982, a primeira opção de Tony Iommi foi David Coverdale, do Whitesnake. Sem dúvida buscando inclinar a trajetória da banda para este pêndulo que o mercado fonográfico de forma geral apontava, DC foi cogitado. Seria inimaginável? De jeito nenhum. Isso não seria impensável para época. Quem assume o posto na época no entanto foi outro monstro: Ian Gillan, do Purple.
Gillan ficou tempo suficiente para gravar Born Again… parou tudo aqui… vejam também que legado!!! Born Again é um dos maiores clássicos do Metal. Depois de sua saída, na sequência, dois vocalistas menos renomados foram, digamos assim, convocados para vir à frente do Black Sabbath: David Donato e Jeff Fenholt. Ambos registraram suas vozes apenas em demos em novas passagens-relâmpago sem maiores importâncias. Esse é um dos pontos desse post, afinal, como pode uma banda dessa magnitude comportar até aqui praticamente seis vocais em uma posição tão crítica?
Continuando, Iommi – então tentando se desassociar do nome Black Sabbath – convoca seu amigo de peso ainda na década de 1980 e chama outra lenda viva do metal – Glenn Hughes – cuja voz está em Seventh Star – álbum excelente que conta ainda com Eric Singer na bateria – é gravado e torna-se um dos grandes álbuns da banda, em minha opinião. Esse álbum é pouco reconhecido por todos os tais “fãs” da banda. Uma pena. Esse registro é de altíssima qualidade em todos os aspectos. Na tour, no entanto, quem coloca o pé na estrada é Ray Gillen, que é dono de um talento refinado. Gillen inicia as gravações de Eternal Idol, mas acabou deixando a banda antes da conclusão do trabalho e veio a falecer mais tarde por complicações da AIDS. Uma pena. Seu trabalho no Sabbath e no Bad Lands é de primeira…
Eis que agora mais um grande capítulo na história de Iommi se inicia e Tony Martin, vocalista que mais permaneceu no Sabbath depois de Ozzy, é chamado às pressas para concluir Eternal Idol e por 10 anos ele foi a voz em cinco grandes álbuns da banda. Além de emprestar seu talento como vocal, Martin se torna o principal nome como compositor do Sabbath e levou a banda em diferentes direções, mas que muito – muito – me agradou em seus álbuns. Eu sou um grande fã da era Martin, sem dúvida.
Bom, a essa altura, a gente imagina que tínhamos visto de tudo, não é? Mas eis que no desentendimento de Iommi com Dio surge ninguém menos que Rob Halford, do Judas Priest, que faz três shows com a banda. Uau! Obviamente, Harford não gravou. Foram apenas apresentações, mas aqui nesse post não podemos deixar de citá-lo. Um luxo que só uma personalidade como Iommi poderia ter como se dar.
Se formos ainda considerar que o primeiro trabalho solo de Iommi ele fez questão de convidar diferentes nomes do rock and roll para gravar vocais, aí, eu fecho essa minha conclusão que Iommi foi o artista do metal que mais trabalhou com vocais em sua trajetória. Considerando que muita gente fica repetindo “Sabbath é com Ozzy”, eu sinto pena dessas pessoas. E pena, parte 2: se considerarmos que ainda tivemos Phil Anselmo, Billy Corgan, Henry Rollins, Dave Grohl, Serj Tankian, Ian Astbury, Billy Idol, entre outros, gravando o excelente Iommi de 2000, podemos seguramente afirmar que no quesito vocalista, Iommi também fez história.
Grande abraço,
Rolf “Dio” Henrique
Revisou: Eduardo [dutecnic]
Escolha abaixo aquele que melhor lhe convém e esqueça esse negócio de “Sabbath é com Ozzy” ou com esse ou aquele. Sabbath é Iommi!
Categorias:Artistas, Black Sabbath, Curiosidades, Discografias, Judas Priest, Kiss, Nirvana, Pantera, Resenhas, Whitesnake
Rolf, no excelente post escrito pelo Flavio ( Black Sabbath – The Eternal Idol – Um Álbum – Dois vocalistas ), eu comentei que aquela era para mim a mais desafiadora fase da banda, pois abria um leque muito grande de opções se, no meu caso, formos acompanhar o desenrolar das carreiras dos muitos músicos que participaram das muitas formações da banda.
Particularmente, acho que atualmente a fase do Sabbath que menos escuto é justamente a do Ozzy. Compartilho com você a admiração pelos trabalhos oficiais com Tony Martin, ate poderia cometer a heresia de colocar no top 5 da banda Headless Cross e TYR, apenas atrás dos discos gravados com o Dio.
Não há comprovação, mas diz a lenda que, nada oficial, outros dois vocalistas passaram pela banda: Ron Keel e Rhett Forrester, o primeiro fez até um certo sucesso nos anos 80 com a banda Keel e um pouco antes foi o líder do grupo que gravou o debut do Yngwie J. Malmsteen, o Steeler (americano), que também contou com o batera Mark Edwards ( Lion, Riot) e o baixista Rik Fox que anteriormente havia passado pelo W.A.S.P e Warlord. Já o segundo, gravou com o Riot e Jack Starr. Creio que tanto um quanto o outro não se encaixam ao estilo do Black Sabbath em qualquer das suas fases, talvez por isso não tenham sido efetivados.
Por falar em Riot, penso que há uma forte ligação entre Bobby Rondinelli e Tony Iommi, pois 3 dos vocalistas que integraram o Sabbath também passaram pela banda solo do baterista: Tony Martin, Jeff Fenholt e Ray Gillen.
Mas voltando ao início, acho que essas mudanças de formação de grupos como o Black Sabbath são tão desafiadoras e empolgantes quanto as de nomes como Rainbow, U.F.O, M.S.G, Uriah Heep, Whitesnake, Magnum, etc, etc… Por coincidência músicos setentistas. Será que perdemos isso também?
Para terminar, gostaria de parabenizá-lo pelo ótimo texto e dizer que concordo 100% com você: O Black Sabbath é muito, mas muito mais que apenas Ozzy!!!
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JP mais uma aula sua aqui
Não seria heresia nenhuma colocar esses álbuns aqui nas listas dos melhores. Concordaria com você.
Não sabia que você era um admirador da fase Martin
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Rolf, sempre achei os discos com Dio superiores a todos os outros lançados pela banda, de longe os meus preferidos!!! E o estilo do Tony Martin são, em minha opinião, os que mais se aproximam da faze Dio, então por que não escolher esses discos como os melhores depois daqueles que foram gravados com o baixinho?
Gosto da expressão vocal de estúdio do Tony Martin, por esse motivo também acompanho sua carreira solo e em outros trabalhos. Sinceramente acho que, assim como Joe Lynn Turner, um vocalista bastante injustiçado.
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Concordo com esse aspecto de “injustiça” ainda que eu ache que os artistas possuem uma grande responsabilidade na direção de suas carreiras
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Rolf, um dos seus melhores posts por aqui, com certeza, e facilmente digo isso pois esse sim, tem sua assinatura, sua cara, e a qualidade de quem realmente conhece e acompanha os precursores dos acordes mais pesados!
Este post deu gosto de ler, aprender e aproveitar para refletir sobre o assunto, e concluir que concordo plenamente… Sabbath é Tony Iommi + quem estiver junto. Talvez o único que possa também ser “Sabbath” é Geezer, mas Iommi vem primeiro!
Por mais posts assim, deixo meu “obrigado” especial por este!
[ ] ‘ s,
Eduardo.
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Sempre Iommi, lógico. Geezer é muito importante também, mas a banda caminhou em alguns poucos momentos sem ele.
Entre os vocais , acho antes de tudo que dentro dos álbuns com o nome Sabbath na capa não há um que não mereça estar ali. Ray Gillen mereceria também. Em relacao aos demais , já é algo difícil de avaliar. Não curto o Donato junto do Mark St John no White Tiger, ,por exemplo. Acho que o Keel não encaixava no Sabbath também.
Daqueles que tiveram no Sabbath fonograficamente, é Dio primeiro e facil. Os outros tem tambem importantes papéis , mas ficam distantes do gênio.
Gosto de todos , Gillan e Hughes cantam demais e fizeram bonito cada um no seu único álbum com o Sabbath. Ozzy tem uma fase vocal muito competente entre o Sabbath bloody Sabbath e o Sabotage , mas a questão vocal perde para os demais aspectos da marca Ozzy na banda.
Gosto muito de Tony Martin, em especial no Cross Purposes. Fez álbuns consistentes junto a Iommi e merece menção também.
Dio é Dio, ressalto.
Ótimo post, de um profundo conhecedor. Não dava pra esperar menos mesmo. Isso aqui é de excelência.
Alexandre
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B side
Muito obrigado por compartilhar sua opinião Concordo com o que você colocou
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E muito obrigado Pskov reconhecimentos
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Rolim passei batido pelo seu comentário
Muito bom ter você por aqui no comando da parada
Muito obrigado
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