Discografia Iron Maiden – Episódio 10: 1992 – Fear Of The Dark

NICTOFOBIA!

No capítulo anterior (que você poder ler aqui), vimos a nova formação de guitarras do Iron Maiden trazendo uma sonoridade mais crua e menos criativa em suas composições. Alguns anos depois, essa mesma formação produziria Fear Of Dark, um álbum superior ao antecessor No Prayer For The Dying, culminando em uma última turnê com Bruce Dickinson, que anunciaria sua saída em Março de 1993.

Singles de Fear Of The Dark

Be Quick Or Be Dead

Lançado em 13 de Abril de 1992, continha três faixas:

  1. Be Quick Or Be Dead: mesma versão que está em Fear Of The Dark.
  2. Nodding Donkey Blues: “The Nodding Donkeys” foi um pseudônimo usado pelo Iron Maiden para tocar em alguns barzinhos como um esquenta antes de sair em turnê. Esse blues, com direito a piano, é uma daquelas brincadeiras da banda – nesse caso, a canção descreve uma mulher gorda com a qual o vocalista vai se aventurar (lembrou do AC/DC né?!).
  3. Space Station No. 5: cover do Montrose, do álbum homônimo de 1973. Bem, digamos que é um “quase-cover”, já que no final a banda coloca algumas esquisitices, inclusive com Bruce narrando uma corrida de cavalos.

A capa desse single foi desenhada por Derek Riggs, com Eddie estrangulando um político (um sósia de Robert Maxell, um dos símbolos da corrupção política inglesa – você consegue ler “Maxell took cash from pension funds” bem ao seu lado) e, ao fundo, várias manchetes relacionadas a escândalos políticos, que é o tema que ronda Be Quick Or Be Dead.

Be quick

A capa e a contra-capa do single

From Here To Eternity

Lançado em 29 de Junho de 1992, após o lançamento de Fear Of The Dark, continha quatro faixas, com variações entre as versões em CD e LP:

  1. From Here To Eternity: mesma versão que está em Fear Of The Dark.
  2. Roll Over Vic Vella: uma homenagem a Vic Vella, um dos grandes amigos da banda, que antes de Rod Smallwood assumir, era gerente, segurança, engenheiro de som, roadie e o que mais aparecesse de trabalho. A faixa é daquelas brincadeiras que a banda faz, inclusive com diálogos entre Vic Vella e Steve Harris (dificílimo de entender, porque Vic está comendo algo enquanto fala), só que usando a canção Roll Over Beethoven, do Chucky Berry, como base.
  3. No Prayer For The Dying (Live): versão ao vivo, gravada em 17 de Dezembro de 1990, no show feito na Wembley Arena, em Londres.
Vic Vella

Para quem nunca viu Vic Vella

E agora, às variações:

  1. Public Enema Number One (Live): apareceu somente na versão CD do single. Versão ao vivo, gravada em 17 de Dezembro de 1990, no show feito na Wembley Arena, em Londres.
  2. I Can’t See My Feelings: apareceu somente na versão LP do single. É um cover da banda britânica Budgie – canção que aparece no álbum Bandolier, de 1975.
From here

A capa da esquerda é o single em CD. E a da direita é o single em LP.

Wasting Love

Lançado em 14 de Julho de 1992, após o lançamento de Fear Of The Dark, contendo quatro faixas:

  1. Wasting Love: mesma versão que está em Fear Of The Dark;
  2. Tailgunner (live): versão gravada na Wembley Arena, em Dezembro de 1990, durante a turnê No Prayer on the Road. As demais faixas do single também são do mesmo show.
  3. Holy Smoke (live): versão gravada na Wembley Arena, em Dezembro de 1990.
  4. The Assassin (live): versão gravada na Wembley Arena, em Dezembro de 1990.

E a capa horrível desse single hein?! Um excerto tirado do vídeo clipe da música, onde é possível ler o nome “Sally” sendo tatuado na pele do personagem do vídeo – um cara todo tatuado com nomes de mulheres que o abandonaram, uma representação visual do que a letra trata.

Wasting Love

A capa e a contra-capa do single. A menininha também é parte do video-clipe.

E você deve ter prestado atenção ao fato de que os dois últimos singles apresentados não possuem um Eddie desenhado (ou seja, começamos a não ter ilustrações de Derek Riggs…).

Fear of the Dark (1992)

Coisas que ninguém presta atenção Ficha Técnica:

  • Produtor: Martin Birch
  • Engenheiro de som: Martin Birch
  • Engenheiros auxiliares: Mick McKenna e Nigel Green
  • Capa: Melvyn Grant
  • Gravado e Mixado no Barnyard Studio, em Essex (o celeiro da fazenda do Steve Harris, mas dessa vez sem ser estúdio móvel)
  • Fotos: George Chin

Lançado em 11 de Maio de 1992, até então só com o single de Be Quick Or Be Dead circulando no mercado, Fear of the Dark é um dos álbuns que mais tive dificuldade para escrever até aqui, simplesmente porque ele tem uma série de características muito incomuns e, querendo ou não, marcou o fim de uma era.

Ele é o álbum com o maior número de músicas da discografia da banda (nota: post escrito em 2019, sendo o Book of Souls o último lançamento de estúdio até o momento) e, na minha opinião, até então, nunca um conjunto de canções de estúdio ondulou tanto – como se o álbum em si tivesse mais de uma identidade. O álbum estourou em rádios mais populares e teve clipe passando direto na MTV, retrato de uma confirmação do redirecionamento musical tomado, afastando ainda mais a banda do som que a consagrou na década de 80. Talvez, a carga de hard rock nas músicas tenha sido algo meio forçado, visto que no início da década de 90 os rocks farofas de bandas como Poison e Skid Row faziam sucesso. Mas isso é mais uma opinião do que um fato.

Mesmo assim, Fear of the Dark é um álbum bom, muito melhor que seu predecessor, tendo um papel fundamental de apresentar aos jovens da década de 90 o mundo do Heavy Metal (muito devido à popularização criada pela canção Fear of the Dark, que virou um ícone obrigatório em shows desde então). Eu respeito muito esse álbum porque sei que ele foi, para muitos jovens, o que o The Wall foi para mim.

Quando você segura o Fear of the Dark, a primeira coisa que você nota é que não é possível encontrar o símbolo de Derek Riggs na capa. O nono álbum de estúdio da Donzela foi o primeiro cuja capa não foi desenhada pelo ilustrador que acompanhou a banda desde 1980, mas sim por Melvyn Grant, um ilustrador contratado para uma “tentativa de fazer algo diferente”, segundo entrevistas que Steve Harris já deu sobre esse tema. Não existe, oficialmente, nenhuma rixa ou desentendimento entre Derek Riggs e a banda, entretanto Derek deu entrevistas dizendo que resolveu parar de trabalhar para o Iron Maiden quando descobriu que as ideias sobre o novo álbum estavam sendo divulgadas para diversos ilustradores e, “se a banda achava que qualquer um poderia desenhar Eddie, então que contratasse qualquer um”.

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Melvyn Grant, o rosto por trás da ilustração de Fear of the Dark

Melvyn recebeu carta branca para desenhar o Eddie que viesse à cabeça, recebendo como insumo, além do título Fear of the Dark, alguns álbuns da banda, já que ele não ouvia Iron Maiden ou qualquer coisa de “música pesada”. A única exigência colocada foi manter as características de Eddie dentro do desenho, uma vez que o recém-contratado ilustrador teve a ideia de virar o personagem às avessas.

capa

A capa de Fear of the Dark.

Tracklist

  1. Be Quick Or Be Dead (Dickinson / Gers) – 3:24
  2. From Here to Eternity (Harris) – 3:38
  3. Afraid To Shoot Strangers (Harris) – 6:56
  4. Fear Is the Key (Dickinson / Gers) – 5:35
  5. Childhood’s End (Harris) – 4:40
  6. Wasting Love (Dickinson / Gers) – 5:50
  7. The Fugitive (Harris) – 4:54
  8. Chains of Misery (Dickinson / Murray) – 3:37
  9. The Apparition (Harris / Gers) – 3:54
  10. Judas Be My Guide (Dickinson / Murray) – 3:08
  11. Weekend Warrior (Harris / Gers) – 5:39
  12. Fear Of The Dark (Harris) – 7:16
lineup1992-6

O Line-up de Fear Of The Dark– Esq. para dir.: Nicko McBrain (bateria), Janick Gers (guitarra), Steve Harris (baixo), Dave Murray (guitarra) e Bruce Dickinson (vocal).

Faixa a faixa

Eu realmente não sei o porquê de Martin Birch não ter dado um tapa na cabeça de Steve e ter dito algo como “Vamos para um estúdio de verdade, seu inglês teimoso. Olha a cagada que saiu da última vez que viemos nessa fazenda!”. Fato é que Steve Harris, o inglês teimoso, resolveu dar uma aprimorada no seu estúdio móvel onde No Prayer For The Dying foi gravado, batizando-o de Barnyard Studio. Logo, é de se esperar, por razões óbvias, que o som de Fear of the Dark siga os mesmos padrões de mesa de seu antecessor, mesmo com uma melhorada aqui outra ali.

E voltamos a ter uma faixa de abertura digna de faixa de abertura. Be Quick Or Be Dead tem energia, um riff muito legal e solos empolgantes (e eu incluo aqui o do Gers). O tema em si é algo que o Maiden passeia muito pouco (ainda bem): corrupção no sistema político. Inclusive, na capa do single, Eddie está estrangulando um político em meio a diversas notas escandalosas de jornal. O título da canção, no entanto, foi baseado em um verso bíblico do Novo Testamento, em Timóteo 4:1:

I charge thee therefore before God, and the Lord Jesus Christ, Who shall judge the quick and the dead at His appearing and His Kingdom

Conjuro-te, pois, diante de Deus, e do Senhor Jesus Cristo, que há de julgar os vivos e os mortos, na sua vinda e no seu reino

A segunda faixa, From Here to Eternity, é daquelas músicas com levadinhas para grandes públicos baterem palmas. Com uma letra escrachada (sim, ela é puro deboche – olha o duplo sentido em She must be having one of her crazy dreams / She’d never sat on a piece so mean), ela conta o final da saga de Charlotte, que se apaixona por uma vida sobre duas rodas e foge com o diabo para o inferno. No final, Bruce fala “Get on your M11, get on your bikes”, que é uma referência a um trajeto de moto na Inglaterra (a Motorway 11), com quase 90 KM de percurso, perto da cidade de Cambridge.

Afraid to shoot strangers, na terceira posição, tem sua letra baseada nas reflexões de um soldado, que se vê conversando com Deus e questionando seus atos dentro de uma guerra. No show ao vivo gravado no Donington, Bruce fala ao público que a música foi baseada nos soldados que lutaram na Guerra do Golfo, do quão ruim é uma guerra, sempre iniciada por políticos e terminadas por pessoas que não querem atirar nas outras. Disparada uma das melhores faixas do álbum e uma das precursoras na fórmula em “começar uma música de heavy metal de uma maneira bem suave e ir progredindo para uma parte mais pesada”.

O quarto posto teve influência direta de Freddy Mercury. Fear is the Key fala sobre como o sexo se tornou símbolo de medo entre as pessoas e a epidemia de AIDS que assolou o mundo no final da década de 80  (I remember a time when we used and abused / I remember a time we thought that passion was free), mas que só recebeu a atenção merecida quando o vocalista do Queen faleceu da doença no início da década de 90 (The kids have lost their freedom / And nobody cares till somebody famous dies).

Childhood’s end, quinta faixa do álbum, tem uma das levadas mais fora do eixo que o Maiden fez até esse álbum, entretanto eu gosto muito de como o refrão foi composto. A letra aborda o tema de crianças abandonadas por guerras ou outras catástrofes criadas por tiranos que não se preocupam com outros seres humanos nas consequências de suas ações.

E temos balada? Tem, sim senhor! E uma bela balada, por sinal! Wasting Love foi a primeira música que ouvi do Maiden, em um LP de coletâneas diversas chamado Mega Hits 6. Voltando à música, ela discorre sobre o desperdício do amor – no clipe temos um homem que tatua o nome de todos os amores de sua vida, mas acaba sozinho. Apesar de odiada por muitos fãs, acho Wasting Love bem composta, com boas passagens e um solo de guitarra apropriada para a atmosfera da canção (foi o primeiro solo que aprendi a tocar na guitarra, inclusive). Lembrando que essa música começou a ser desenvolvida entre Bruce e Janick para o Tattoed Millionaire, primeiro álbum solo do vocalista, o que explica muito uma balada dentro de um álbum do Maiden. Existe uma teoria da conspiração que aborda que a letra de Dickinson é auto-biográfica e que versos como Maybe one day I’ll be an honest man / Up ‘till now I’m doing the best I can seja um desabafo de como ele estava infeliz no Maiden. Eu sempre achei isso pura bobagem até que a biografia oficial ter mencionado isso. Mas meu voto ainda é em teoria da conspiração.

Na sétima posição temos The Fugitive, uma canção muito legal e muito subestimada. Foi baseada na série de televisão homônima, criada entre 1963 e 1967, que muito tempo depois virou o filme (filmaço!) estrelado por Harrison Ford e Tommy Lee Jones. A letra descreve os pensamentos de um homem acusado injustamente de assassinato e que precisa provar sua inocência antes que seja pego.

Na sequência, Chains of Misery não desaponta (para uma canção de Hard Rock). A fórmula colocada nessa canção será muito repetida em fases futuras da banda na grande maioria das levadas Hard Rock que serão criadas. A letra é fraca e simples, metaforizando aquele diabinho que temos no ombro, sempre nos levando a ver coisas ruins na vida.

The Apparition, recheada com uma letra gigante na nona posição, fala de uma suposta entidade que traz alguns questionamentos da vida após a morte. É possível entender a letra como uma auto-reflexão de Steve sobre seus anseios, medos e incertezas da vida e do que virá depois dela. Já a música é chata, chata, chata de marré jeci! Dá para ouvir até o teclado de Michael Kenny e sintetizadores.

Mas a chatice vai embora na décima posição com o que é, na minha opinião, a melhor música do álbum. Judas be My Guide tem solos de guitarra sensacionais, uma bateria muito acertada e é onde Bruce menos se arrasta nos vocais. A letra fala do lado ruim do ser humano, que é guiado por Judas (referência bíblica ao homem que traiu Jesus). À propósito, o título dessa canção nasceu com base na música Son of a Gun, que abre o primeiro álbum solo de Bruce Dickinson, Tattoed Millionaire, onde temos a frase “Take me to Jesus – with Judas my guide”.

Décima primeira posição: Weekend Warrior! Uma canção dedicada aos guerreiros ingleses do futebol, os Hooligans, muito conhecidos na Inglaterra pelo fato de trazerem violência aos estádios aos finais de semana sendo que são pessoas normais que trabalham durante a semana (After all it’s only a game Isn’t it? / And after all the adrenalin’s gone / What you gonna do on Monday?). Outro exemplo de canção com início quietinho, mas que tem um solo de respeito do Dave Murray.

E fechamos o álbum com a faixa homônima, Fear of the Dark. Um tema ridículo (literalmente, fala sobre sensações de medo do escuro; doença que é conhecida como nictofobia) cantado dentro de um instrumental muito bom. Devido à história de execuções ao vivo, ela já se tornou enfadonha entre muitos fãs (eu inclusive), mas o brilho do instrumental não pode deixar de ser mencionado. Possui várias referências mainstream para levantar multidões, da mesma maneira como foi criada algumas linhas em torno de todo o álbum, só que nesse caso deu muito certo. Em uma entrevista de Bruce, ele menciona que Steve tem medo de escuro e esse foi o fator do baixista ter composto a canção.

E se por acaso você nuuunca ouviu Fear of the Dark, nunca é tarde:

https://www.youtube.com/playlist?list=PLVsRfmCaJNxQDzr7HTPqlVeUGxwBEqhX6

A versão remasterizada não trouxe nenhuma novidade em capa, mas atualmente existe uma versão do álbum acompanhada de um bonequinho.

fotd boneco

A edição também vem com um adesivo. Aí sim vi vantagem, só que não.

Já a turnê, Fear Of The Dark Tour, iniciada em Junho de 1992, trazia novas versões de Eddie Árvore:

Eddie Arvore

Fear of the Dark Tour: segunda vez da banda no Brasil, sendo que São Paulo e Porto Alegre foram incluídas pela primeira vez na história do país.

From There To Eternity

Esse VHS, lançado em 1992, é um apanhado do VHS The First Ten Years com mais alguns novos video-clipes da banda (as cinco últimas faixas foram adicionadas). Isso foi feito exclusivamente para os Estados Unidos, porque na terra do tio Sam o VHS de 1990 não fora lá lançado.

From There to Eternity

Outro lançamento que hoje não é mais estruturado devido à internet. Nesse caso ainda, era mais do mesmo.

A pausa da turnê e a saída de Bruce Dicksinon

Interrompemos nossa programação para informar que a turnê Fear of the Dark Tour teve uma pausa de dois meses ao final de 1992. Essa pausa foi proposital para que Steve Harris colocasse em prática sua mais nova ideia: ter um álbum ao vivo que não fosse somente de um único show, mas sim que cada música fosse de um lugar da turnê, de maneira que o fã da banda pudesse se identificar com o fato do “eu estava lá naquele show”.

Foi durante essa pausa que Bruce Dickinson aceitou um convite para gravar um segundo álbum solo. Já sabemos que a inquietude é algo que move o front man da Donzela. Naquele momento, o cara já tinha um romance lançado e participava de um documentário na BBC, fora os campeonatos de esgrima, mas quando Bruce gravou o novo material para seu álbum solo, ele conseguiu a prova que há muito tempo estava engasgada na garganta: a real possibilidade de criar sons novos e fazer coisas diferentes que não se encaixavam na linha rígida de trabalho de Steve Harris.

Óbvio que não foi uma decisão fácil, mas Rod Smallwood viajou até Los Angeles, onde Bruce estava, para ouvir o novo material. E foi lá que Bruce o informou que ele deixaria o Iron Maiden, por sua conta e risco do que pudesse ocorrer com sua carreira profissional, visto que ele queria sair da zona de conforto.

Rod não permitiu que Bruce desse a notícia aos demais integrantes. Ele mesmo viajou até Portugal, onde estava Steve, e informou que o cantor sairia. O acordo foi em terminar a segunda parte da turnê Fear Of The Dark Tour. Houve uma coletiva de imprensa para informar a velha desculpa de “diferenças musicais”.

Cabe uma notinha de rodapé aqui para um agradecimento especial ao Dave Murray. Eu não sabia disso até ler na biografia oficial, mas foi o guitarrista que tirou da cabeça de Steve Harris a ideia de terminar a banda. O baixista estava passando por um divórcio e a saída de Bruce tinha deixado o cara bem mais para baixo, considerando encerrar o Maiden. Foi Dave que não permitiu que isso acontecesse. Deixo aqui meu muito obrigado ao guitarrista que eu tive o privilégio de nascer no mesmo dia 23 de Dezembro. Abração cara!

E como notícia ruim acontece tudo junto, vale lembrar que um pouco antes do anúncio da saída de Bruce, Martin Birch também deixaria a posição de produtor, para se aposentar (e uma coisa não teve nada a ver com a outra – aqui foi coincidência mesmo). Esse aqui é outro ponto que desempenharia papel decisivo no som da banda em álbuns futuros, já que Steve Harris co-produzirá a maioria dos álbuns junto de Nigel Green, engenheiro de som que ficou na posição de Martin.

A segunda parte da turnê Fear Of The Dark Tour prosseguiu ao longo de 1993, com ânimos bem abaixo do esperado, por razões óbvias. Foi durante esse ano que os lançamentos ao vivo saíram do papel.

A enxurrada de materiais ao vivo

Durante a turnê de Fear of The Dark até a “despedida” de Bruce, o Iron Maiden lançou uma série de materiais ao vivo, aos quais tive o trabalho de listar aqui para não passar batido (lembrando que decidi não criar posts específicos para álbuns ao vivo, encaixando-os dentro de um período específico de algo contado dentro de um post de álbum de estúdio). Vamos passá-los aqui por ordem cronológica.

Fear Of The Dark Live

Lançado em 01 de Março de 1993, esse single era uma prévio do A Real Live One. Ele teve tiragem limitada e na capa vinha o número dela, fosse CD ou LP.

  1. Fear Of The Dark (live): faixa que aparece no A Real Live One, ao vivo na Finlândia.
  2. Bring Your Daughter To the Slaughter (live): faixa que aparece no A Real Live One, ao vivo na Finlândia.
  3. Hooks In You (live): essa faixa não aparece no A Real Live One, sendo então a exclusividade desse single, gravada ainda na turnê No Prayer on the Road, na arena de Wembley (no mesmo show de onde foram extraídas as faixas ao vivo do single From Here To Eternity).
Fotd single

Single ao vivo de álbum de coletâneas ao vivo – tem que ser muito fã para comprar.

A Real Live One

Lançado em 22 de Março de 1993, é um álbum com seleções ao vivo de músicas tocadas nas turnês No Prayer On The Road e Fear Of The Dark. Esse foi o álbum trabalhado durante a pausa de dois meses na turnê.

A Real Live One

Sem comparações com Live After Death, por favor.

Hallowed Be Thy Name

Lançado em 04 de Outubro de 1993, esse single também acompanha músicas ao vivo que antecederam o A Real Dead One. Na capa desse single, Bruce é morto por Eddie, que inclusive já tinha matado Paul Di’Anno na capa exclusiva do Maiden Japan. Contém as seguintes faixas:

  1. Hallowed Be Thy name: versão gravada na Rússia, em 1993.
  2. The Tropper: versão gravada na Finlândia, em 1992.
  3. Wasted Years: versão gravada na Alemanha, em 1993.
  4. Wrathchild: versão gravada na Finlândia, em 1992.Nesse single, o “exclusivo” são as faixas de 1992, pois as outras duas estão no A Real Dead One.
Hallowed

Eddie gosta de matar vocalistas.

A Real Dead One

Lançado em 18 de Outubro de 1993. Esse é o segundo álbum de músicas ao vivo tocadas na turnê Fear Of The Dark Tour. Esse álbum contém mais músicas gravadas após a pausa de dois meses da turnê, o que significa que os fãs desses shows já sabiam da saída de Bruce Dickinson da banda.

A Real Dead One

Insisto! Sem comparações com Live After Death, por favor.

Vale lembrar que na edição de remasterizados em 1998, os dois álbuns ao vivo foram condensados em um álbum duplo intitulado A Real Live Dead One, que tinha essa capa:

A Real Live Dead One

O álbum deplo de faixas ao vivo.

E vale lembrar também, mesmo sendo rejeitado para a capa de Fear Of The Dark, Derek Riggs fez os desenhos dos álbuns ao vivo. Então, temos símbolo escondido nas capas! Vamos a eles:

Derek Riggs - A Real Live Dead

À esquerda, o símbolo é parte da baba que escorre da boca de Eddie.
À direita, o símbolo está no olho de Eddie.

Live at Donington

Gravado em 22 de Agosto de 1992 (está na capa) e lançado em 8 de Novembro de 1993. Era a segunda vez que o Iron Maiden fechava o festival no Donington. Esse show virou álbum, virou vídeo, foi transmitido ao vivo por rádio e teve a participação de Adrian Smith na faixa de encerramento, Running Free.

Live at Donington

A capa original (esquerda) e a edição remasterizada de 1998 (direita).

Como a versão remasterizada tinha conteúdo digital extra para ser visto em computador (naquela época essa era a inovação tecnológica do momento), a ordem das músicas foi alterada entre os CDs 1 e 2 para que o conteúdo coubesse.

VHS Live at Don

Esse VHS é o meu!

Raising Hell

O final da turnê culminou com a gravação do VHS Raising Hell (lançado em 10 de Maio de 1994). Esse show é horrível, pois tiveram a brilhante ideia de colocar um mágico, Simon Drake, para fazer alguns truques macabros durante o show. Tem uma hora que ele corta as mãos do Dave Murray, “emprestando-as” para um solo – é de chorar de ruim.

VHS Raising Hell

O VHS do horrível Raising Hell.

Foi o último show oficial com Bruce Dickison antes de sua saída. Não teve celebração, não teve agradecimento, não teve festa. Sempre é triste uma situação dessas.

Setlist tocado na Fear of the Dark Tour

  1. Be quick or be dead
  2. The Number Of the Beast
  3. Wrathchild
  4. From Here To Eternity
  5. Can I Play With Madness
  6. Wasting Love
  7. Tailgunner
  8. The Evil That Men Do
  9. Afraid To Shoot Strangers
  10. Fear Of The Dark
  11. Bring Your Daughter … To The Slaughter
  12. The Clairvoyant
  13. Heaven Can Wait
  14. Run To The Hills
  15. 2 Minutes To Midnight
  16. Iron Maiden
  17. Hallowed Be Thy Name
  18. The Trooper
  19. Sanctuary
  20. Running Free

No próximo capítulo … bem, deixemos para o próximo capítulo.

Até mais! Beijo nas crianças!

Kelsei Biral



Categorias:Curiosidades, Discografias, Entrevistas, Iron Maiden, Músicas, Resenhas

20 respostas

  1. Mais uma hein Vamos ver Mais aulas pro feriado

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  2. Murray, Eu engrosso o coro aqui do agradecimento Dia 23 de dezembro são dois na conta do parabéns e muito obrigado

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  3. Kelsei, já li, gostei bastante e lembrei que o Iron voltou ao Brasil nessa tour pela segunda vez, após o histórico show do Rock in Rio 1. Vi o show no Maracananzinho, som bem ruinzinho, como a maioria dos shows lá. Já ali senti a falta do Adrian, e obviamente não sabíamos da saída de Dickinson.
    Eu comento esse ótimo post com mais propriedade pra frente, pois gosto de ouvir o disco enquanto leio suas observações. De cara, e fazendo um exercício de adivinhação meio óbvio, o que eu lembro desse disco é sua irregularidade ,boas canções entre algumas bem horrorosas.
    No próximo comment eu avanço nisso ou “mordo a língua” ( bastante improvável…)
    Vamos ver

    Antes de tudo, muito legal essa discografia ir ganhando corpo, muito bom mesmo !

    Alexandre

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    • Voltando , agora , ouvindo o álbum enquanto leio de novo a resenha, a opinião meio que bateu com a lembrança anterior . Há faixas realmente boas no meio de algumas muito ruins . Eu sei que gosto é gosto , mas vamos aos meus prós e contras :
      – Be Quick or Be Dead é uma ótima faixa e concordo que o solo dividido é todo bom, embora o trecho do Murray seja ligeiramente melhor. Faixa certeira para abrir o álbum,um riff acelerado, simples e direto ao ponto. Não gosto do vocal mais rasgado de Dickinson que ouvimos no álbum todo, mas é uma busca pelo som hard rock citado no texto, em alta na época.
      -From Here to Eternity é uma faixa que passa, mediana mesmo. Não gosto do coral ” galera “,do solo do Gers .O final é legal, inclusive pelas intervenções do Murray , que deixou o timbre grave clássico e aposta em timbres mais agudos. Eu prefiro a fase do timbre clássico, mas o trecho ficou bom, assim como o vocal de Dickinson. Dentro do álbum, a faixa se salva.
      -Afraid to shoot strangers também se salva, mas não é essa cocada toda, em especial pela transição para as harmonias de guitarras no trecho intermediário. É aquela fórmula de faixa lenta ( o melhor pedaço) que se transforma em trecho acelerado. O trecho rápido entre solos, harmonia dobrada, é bem legal. Os solos, um é bom ,o outro ruim. Alguém se habilita ? Em resumo, a fórmula mais buscada pelo Maiden, mas ok. Ou seja, é um bom lado A do vinil duplo.
      -Fear is the Key é aonde a maionese começa a desandar,pra mim. Faixa fraca, uso de slide pelo Gers sem a classe do seu maior influenciador ( Blackmore), Não gosto da estrofe, nem do refrão, mal resolvido, nem do riff principal. O trecho pós solo é horroroso, inclusive o vocal. Essa é muito ruim.
      -Childhood’s End é outro chute pra fora, a bateria e o refrão são terríveis, transições mal resolvidas, essa é de doer. Não salvo nem os solos.
      -Wasting Love é que salva no segundo lado do vinil, balada competente, solo que não compromete.
      – The Fugitive não me agrada, tentei dar nova chance baseada na resenha, mas para a música não tem sal nenhum, um teclado amador. O refrão é menos ruim e o solo do Murray se salva também, e olhe lá.
      -Chains of Misery não é nada demais, mas é a melhor do lado C do vinil duplo. Posso colocá-la no máximo como uma faixa mediana, o refrão poderia ficar sem o coro ” galera”. O solo do Murray tem aquele timbre lindo que não se acha no resto do álbum, uma pena. Por ele a música se salva.
      -The Apparition é talvez a pior faixa do disco.O trecho dos solos e um instrumental que junta as três cordas é bem interessante, mas basta vocal para refrão e estrofe que a coisa desande demais.
      -Judas Be My Guide é uma ótima faixa, acelerada e acessível ao mesmo tempo, me lembrou até os tempos do Adrian Smith. O timbre sisudo de Murray volta pela última vez, é um grande destaque entre as faixas menos conhecidas do álbum.
      -Weekend Warrior é outra porcaria , tentativa frustrada de fazer um hard rock que virou um treco insosso. O refrão poderia ser melhor, se o vocal fosse menos rasgado, mas não se salvaria.
      -Fear of the Dark é bem menos do que se tornou, mas eu a acho boa faixa dentro de um álbum com tanta oscilação.Ainda que todos os elementos da fórmula Maiden estejam aqui, o desenvolvimento é ok.

      Em relação às perfomances individuais ,eu não consigo destacar ninguém, considerando em especial o que já haviam feito anteriormente. O vocal rasgado de Dickinson não é onde ele é mestre, Murray tem poucos destaques, Harris também está econômico. Nicko é super previsível e Gers só faz eu ter saudade do Smith. O álbum seria muito melhor se tivesse umas duas ou três faixas a menos, coisa da época , onde o povo da gravadora não sabia o que fazer com tanto espaço num cd. Menos é mais . Ainda assim, eu o acho melhor que o No Prayer , o que não quer dizer muita coisa, é bem verdade.

      Vamos ao próximo capítulo, a discografia está nota 11 numa escala de zero a dez.

      Valeu, Kelsei !!!!

      Alexandre

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  4. Mais um excelente post!!! Acho que essa é uma opinião unanime entre todos aqui, infelizmente não podemos dizer o mesmo desse álbum.
    Já fazia um bom tempo que não parava para escuta-lo com atenção e a minha impressão é que ele piorou muito, ou seja, na minha memória ele era bem melhor. A primeira coisa que que tenho a dizer sobre Fear of the Dark é que concordo com o Kelsei e o Alexandre quando eles dizem que as músicas desse disco são irregulares, eu até poderia dizer mais, há uma grande amplitude entre músicas boas e ruins. Quando a música é boa, ela realmente é boa, mas quando é ruim, ela é ruim com força!!!
    Estava reparando agora, na época nem pensei nisso, mas Fear is the Key é copia descarada do Deep Purple, em alguns momentos, Bruce tenta imitar tanto o Ian Gillan que parece que ele estava propositalmente sacaneando o grupo.
    The Fugitive é ruim, é chata, mas chata demais!!! Assim como o refrão de From Here to Eternity e a totalidade de The Apparition. Caramba Weekend Warrior também não dá, está parecendo alguma coisa da carreira solo do Fish.
    Talvez seja um conjunto de problemas: “deram muita asa” para o Janick Gers, o Dickinson já não estava nem aí pro Maiden, só pensando na futura careira solo e o Harris acabou embarcando nessa de achar que a banda era mais Hard que Heavy.
    Ouvindo Fear of the Dark agora, começo a mudar de opinião e infelizmente já penso que esse disco não é tão melhor que o No Prayer for the Dying. Realmente a banda estava demasiadamente desgastada e a saída do Dickinson já se fazia necessária, pois da forma que estava seguindo, Virtual XI viria de qualquer maneira, com ou sem o Bruce. Mais isso é tema para o futuro.
    Por hora, gostaria mais uma vez de agradecer ao Kelsei por mais este capítulo, muito bem escrito e recheado de informações, não faltaram nem os (vários) registros ao vivo!!! É gratificante ter a chance de ouvir novamente o disco acompanhado de tão boa leitura.
    Um abraço!

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  5. Mesmo inconsistente, FOTD é o único disco do Maiden que eu consigo ouvir do começo ao fim!

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    • Quem curtiu isso foi sua mãe né!?

      Que música você pula do Piece of Mind? E do Powerslave? E do Somewhere in time?

      Na boa, The Apparition está entre uma das 5 maiores tranqueiras que o Maiden já fez! Se você ouve essa música, deve ouvir a maioria da discografia sem pular nada…

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      • Corrigindo o que eu disse antes: Fear of the Dark é o único disco do Maiden “dos anos 90” que eu consigo ouvir do começo ao fim, apesar de sua inconsistência. Mas mesmo assim estou sim ouvindo só os clássicos da donzela: Powerslave, Piece of Mind, TNOTB, SSOASS e Somewhere in Time. Todos de cabo a rabo. Dos anos 1990 só ouço o FOTD e o Chemical Wedding (da carreira solo do Dickinson), e da formação recente do Iron, só escuto o Brave New World e o The Final Frontier (pra mim o canto de cisne de Harris e seus amigos). Ah,, e da fase com o Dianno só ouço o Killers. Já o Blaze, é melhor deixar pra lá mesmo… Pronto, está corrigido.

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  6. Bom resolvi rever meus conceitos e ao ouvir o FOTD de novo depois de anos, cheguei a conclusão: é pior do que eu imaginava! É verdade, o disco é horrível, não salva quase nada aqui…. Pra não dizer que Bruce Dickinson canta tão mal quanto o anterior, talvez seja o único ponto melhor neste. A Faixa de abertura até parece o Bruce e a baladinha do amor desperdiçado tem boa performance vocal. Alias essas duas e a melhor do disco Judas Be My Guide (com boa performance de Bruce e um ótimo Dave Murray) são as musicas que ouço bem no disco. O resto é insuportável e para não dizer que tenho implicância com a faixa título, eu acho que juntaram todos os cliches nela e colocaram uma letra ridícula e o pior: esse treco é adorado inclusive no Brasil e não sai nunca mais da P… do set list da banda, pra ficar ainda mais insuportável o treco.
    E ainda mais: A Capa é horrorosa, sem Derek ficou um lixo mesmo e pra piorar, na fase já onde o formato cd mandava, o disco é longo demais são 14 minutos a mais de tortura em relação ao anterior.
    A tour e os discos ao vivo também não ajudam, os discos A Real Live e A Real Dead são pessimamente gravados, a banda meio embolada, Dickinson fora de fora, em resumo, que fase difícil…
    Bom com o Dickinson saindo da banda, imagino que vinha um vocalista sem questionamentos para resolver a parada, não? Vamos ver mais à frente
    A Resenha está num nível sem comparações com o disco, parabéns Kelsei.

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  7. Muito bom o texto e a análise.
    Gosto desse álbum e não tenho grandes objeções específicas. Ouço o álbum na boa sem pular nenhuma música. Acho bem pesado e com poucos arranjos de sintetizadores, sempre dispensáveis na minha humilde opinião. Para quem teve o primeiro contato com o Maiden através do Made in Japan não é fácil de acostumar com os teclados chatos.
    Estranhei o vocal no começo, bem diferente do restante, mas para mim não compromete. Não tive contato com o álbum no lançamento e só fui conferi-lo poucos anos depois e na época não tinha com quem discutir (pré internet).
    O destaque para mim é Judas Be my Guide, que a propósito me parece não ter entrado no set list da tour e nem nos singles. Um desperdício! Essa música é extraordinária, direta, com belos solos, refrão bem cantado. É uma das minhas preferidas.

    Só está sendo possível conhecer profundamente essa que para mim é uma das três mais amadas bandas de rock graças a você Kelsei.
    Obrigado!

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