Série Novidades HM – Ano 2010

Sim, eu estou muito atrasado no cronograma desse post. A série deveria (e deve ainda!) ser trimestral, mas uma série de coisas aconteceram na minha vida que “bagunçaram o cortejo”, como diria meu finado pai: vou ser papai de novo (e isso não é problema, óbvio, mas agora começa o planejamento do apartamento que não cabe mais um, as consultas, exames, e, principalmente, os etc.), tive um problema nas costas que precisei operar (perdi o show do Angra da turnê de 20 anos do Rebirth!) e eu comprei Elden Ring. Pronto! Esse simples parágrafo bagunçou toda a programação (e tende a dar uma continuada…).

Mas esse atraso não pode diminuir o abrilhantamento do marco que chegamos, então vamos a ele!

Senhoras e senhores! Meninos e meninas! ETs do Rolf! Viramos o dígito da dezena! Entramos no ano de 2010! Conseguimos sobreviver dez (DEZ!) anos de audições com álbuns selecionados pelos mais diversos critérios! Isso nos traz uma boa e uma má notícia. A boa, é que temos, ao menos, mais dez anos pela frente. A má, é que temos, ao menos, mais dez anos pela frente.

A partir de agora, as indicações tornam-se mais desafiadoras, pois, convenhamos, é uma tarefa um tanto quanto provocativa encontrar coisas novas (sejam bandas e, principalmente, sejam sons diferentes) nessa última década.

E não custa lembrar, os álbuns indicamos seguem a ordem alfabética de banda. Excepcionalmente esse ano, para o lançamento desse post, ficaremos devendo os comentários do Schmitt, que está dando um perdido na Europa (desculpa aí viu!). Mas ele prometeu que quando voltar, vai resenhá-los e eu atualizo aqui. Estamos de olho!

Se você quiser conhecer os trabalhos que já passaram pela série, acesse o histórico de álbuns clicando aqui! Agora, divirta-se (e ouça com a gente)!


Alcest – Ecailles de Lune

Sugestão de: Flávio Remote
Ouça você também:

Alexandre: A primeira parte da faixa titulo, ainda que um pouco longa (não em duração especificamente, mas em seu andamento meio enfadonho) não é algo intolerável para o meu estrito gosto musical. Achei, inclusive, que as guitarras poderiam usar linhas e timbres mais agressivos quando a opção é um som carregado de drive, mas entendo que a sonoridade de motosserra baseada no pedal HM2 da Boss é quase uma unanimidade no Black Metal. O timbre limpo, puxado para o chorus me agradou bem mais. A bateria também tem pouco peso, meio baixa na mixagem, pelo menos na fonte que ouvi. E o vocal é meio perdido, suave, sem tanta expressão. Ainda assim, a música passou relativamente bem. “Solar songs”, quase no fim do álbum, é um pouco mais curta e tem uma melodia interessante. O problema para mim, no entanto, já começa bem antes, na segunda parte da faixa título, pois ali soltaram o capeta que se escondia por de trás daquela mesma voz suave. Ali eu enxerguei o tal do pós black metal / blackgaze / shoegaze que  parece também ter relação intrínseca com aquela espécie de “urro oriundo de um porco passando por um esquartejamento” e, me desculpem os apreciadores, confesso minha dificuldade em avaliar algo assim, eu passo. Fosse o uso estrito do vocal suave, eu destacaria os timbre cleans do bom uso das guitarras dedilhadas, lembrando, por exemplo, bons momentos do Marillion ou do Riverside. Só que aí não seria mais o tal black metal/ blackgaze / shoegaze e sim algo bem puxado pra um som progressivo, em essência. Isso posto, a ultima faixa, “Sur L’ Ocean Couleur De Fer” (algo como “no oceano cor de ferro”) se destaca de forma ímpar, linda melodia sob os dedilhados cristalinos. Para mim é uma espécie de oásis no trabalho desértico, uma faixa maravilhosa. Essa deu vontade de repetir no player, o que eu fiz diversas vezes. O resto do álbum, no entanto, eu dispenso.

Kelsei: E a morte dançou sob um chão de plumas brancas… O Alcest eu já conhecia e, de antemão, digo que o Remote marcou um golaço na indicação! Temos aqui um novo estilo musical, criado bem recentemente: o Blackgaze. Essa banda francesa, se não é a criadora, com certeza é o nome mais relevante nesse estilo, que é uma mistura de Black Metal (sempre de mãos dadas com o chifrudinho) com Shoegaze (estilo mais antigo, bem característico desse vocal cheio de ecos) e instrumentos recheados de delay e reverb. As músicas são longas e melancólicas (falar que a atmosfera é “triste” é pegar leve) e são cantadas em francês (isso quando o vocal aparece, porque o Alcest preza muito mais pela “harmonia atmosférica” do que pela melodia vocal). As linhas de guitarra possuem efeitos belíssimos e que trazem certa paz interior, como na faixa de encerramento, “Sur l’océan couleur de fer”. Já a parte mais voltada “para o mal” (leia-se, o vocal gutural característico do Black Metal) não tem exageros (mesmo com os efeitos de eco característico do estilo, como mencionei antes) e é bem encaixada. Nesse álbum, o destaque fica para as duas primeiras faixas, que são as duas partes de “Écailles de Lune”. Não é o melhor álbum do Alcest, mas é um bom cartão de visitas ao estilo. Deu ruim para mim, porque essa era a banda que eu indicar para 2016 e agora vou precisar mudar. Mas isso é problema meu. Você aí, aperte o play, feche os olhos e se deixe levar.

JP: Segundo disco da dupla francesa de Black / Atmosferic e sei lá mais o que… Metal. Nele encontramos a essência do estilo: ondas de teclados monótonos para tentar deixar o clima mais sombrio e músicas com muitas mudanças de andamento que vão desde elementos mais suaves até aqueles vocais urrados característicos do estilo e, principalmente, de gosto bastante duvidoso. Das seis músicas que compõem este Écailes de Lune a que mais gostei foi “Abysses”, pois é uma instrumental de pouco mais de um minuto. Em contrapartida temos a faixa título que é dividida em duas partes que, somadas, por pouco não totalizam os 20 minutos de puro tedio. Para os fãs do estilo, o Alcest é uma banda bem-conceituada, mas definitivamente não é para mim.


H.E.A.T. – Freedom Rock

Sugestão de: José Paulo, o JP – “A” Enciclopédia
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Alexandre: Outra novidade que nada tem de novo, mas o H.E.A.T., aqui em seu segundo álbum, traz os clássicos elementos da cena hard rock mais pop do anos 80 de forma bastante contundente e altamente indicados para o apreciador da cena. Estão presentes os solos dos guitar-heroes, a produção recheada dos timbres característicos dos teclados da época, banking vocals em profusão, refrões pegajosos, letras manjadas, baladas açucaradas e por ai vai. Até os tons eletrônicos na bateria são sutilmente revisitados (especificamente na faixa de abertura “We’re Gonna Make it to the End”), algo que havia sido posto de lado há muito tempo e hoje é tido como cafona ou um dos muitos exageros da produção da época. Considerando tudo que expus, fica estritamente sob o ponto de vista do gosto pessoal endossar a proposta ou não, já que está tudo certinho nesse trabalho; há os solos virtuosos, músicas de potencial radiofônico para dar e vender, teclados encaixadinhos, ótimo vocal, nada fora do lugar. Se você curtiu a cena glam / poser / hair metal misturada com o AOR dos anos 80, vai nessa. Se não, nem perca seu tempo. Eu, como um apreciador com moderação da cena, preferia, ainda dentro do estilo, um produção menos polida, com um pouco mais de agressividade nos drives de guitarra. Menos AOR e mais Hard Rock seria bem vindo. Assim, o disco passa super bem, ainda mais se for a trilha sonora de um fim de semana ensolarado, daquele churrasco com os amigos, no fundo musical para o pós pelada futebolística com os parceiros. Mas não se enganem: o H.E.A.T hoje é uma autêntica realidade e nesse álbum se percebe com muita facilidade os méritos da assertividade da banda dentro do estilo.

Kelsei: Antes de mais nada, essa resenha é um pedido de desculpas oficial ao Remote, por todas as vezes que eu ri do sofrimento alheio, sempre que ele tinha que ouvir algum metal espadinha que caiu nessa série. Remote, desculpa! Não é de agora que os recentes capítulos dessa série estão com, ao menos, uma amostra do “Hard Rock Farofa Anos 80 Sempre Igual LTDA”. Aqui, não foi diferente, com esse álbum do H.E.A.T.. Só que aqui tem um problema: o álbum é legal! Várias músicas tem uma pegada que me lembraram os timbres do Eclipse e do W.E.T., o que é um ponto positivo, porque a farofa do Hard Rock encontra o açúcar melado do mainstream, e a mistura me agrada aos ouvidos. Não obstante, conquanto, entretanto, contudo, todavia, mas veja bem, o álbum é muito enjoativo: nos trinta primeiros segundos da faixa vem aquela adrenalina e o restante você vira um vidente sabendo exatamente o que vai acontecer, onde o refrão vai repetir, a rima que vai casar com a palavra “love” ou “heart”, e por aí vai. Então, eu consegui uma fórmula legal para ouvir esse álbum: ouça cada uma das faixas com um intervalo de uns vinte minutos. Como se fosse um rádio, manja? Ouve a primeira, “We’re gonna make it to the end”, aí você coloca umas três bandas que você gosta de ouvir, e aí você coloca a segunda faixa, “Black Night” e aí você vai repetindo. Dessa maneira, o álbum passa numa boa!

JP: Em 2008 quando ouvi o disco de estreia do H.E.A.T. não tive interesse algum, porém com o passar dos anos, um certo amadurecimento e prestando mais atenção na banda, notei que não era algo tão irrelevante e descartável assim. De uns tempos para cá o Hard Rock / AOR tem tomado um certo fôlego e o H.E.A.T. é um dos protagonistas do estilo, ao lado de grupos como Eclipse, W.E.T., Perfect Plan, etc. Neste segundo disco a banda investe em refrãos pegajosos e muito melódicos bem ao estilo do que o Journey ou Asia faziam na época em que eram trilha sonora de comerciais de cigarro ou ainda aquelas dos anos 80 pejorativamente chamadas de “rock farofa”, como Wasted, King Kobra ou Icon, só para citar alguns poucos exemplos. Freedom Rock, não traz nada de inovador, mas para quem gosta de melodias marcantes e agradáveis, músicos competentes sem serem virtuosos e nada muito pesado, este é o disco.


Oli Brown – Heads I Win Tales You Lose

Sugestão de: Eduardo Schmitt
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Alexandre: Novidade, nenhuma, é verdade… mas não é que esse disco é danado de bom? Oli é um ótimo guitarrista e o renomado produtor Mike Vernon (que trouxe tantos super-guitartistas à tona na décadas de 80 e 90) dá um ótimo espaço para os demais músicos brilharem, tal a clareza e qualidade da produção. O baixo de Gary Rackman, em especial, aparece intensamente já desde a primeira canção, “Evil Soul” e mais ainda no andamento soul de “Real Good Time”. O andamento cadenciado de “Makes Me Wonder”, situado entre o blues e o jazz, também agrada bastante. Em geral, o trabalho do dono da banda traz um som mais acessível que a pegada de um Steve Ray Vaughan ou mesmo um Bonamassa, talvez pelo escolha de um timbre mais leve das guitarras, em especial nos solos. O vocal dele é excelente e brilha ainda mais nas faixas mais lentas, como em “Speechless”, um destaque do álbum. Outro destaque vocal está no blues com muita classe intitulado “Not a Word I Say”. Para mim, ainda se destaca mais que o trabalho como guitarrista. Não encontrei apenas pontos favoráveis: a versão de “Fever” é correta, mas a escolha por uma música já tão regravada não se justifica para mim. O disco perde um pouco de fôlego no fim, principalmente pela certa insistência nas faixas de acento soul na parte final do álbum. Se não traz nenhuma inovação, o álbum traz muita classe e qualidade. Valeu!

Kelsei: Quando o John Mayer apareceu como o “mais novo prodígio” na guitarra blues há muito tempo atrás eu lembro que as repercussões foram grandes na mídia especializada. Agora tromba comigo esse Oli Brown, que eu nunca tinha ouvido falar e a primeira que pensei, enquanto ouvia o álbum pela primeira vez, foi ‘como a mídia especializada nunca falou desse cara?!’ (ou se sou eu que ando uns dez anos meio desantenado de tudo – e isso também é uma opção válida). E eu pensei nisso porque, basicamente, o garoto é bom! O álbum é bom! Eu achei, de início, que ele só cantava (como esses artistas com uma banda solo), mas depois fui ver que ele também toca. Guitarra blues, é verdade (e eu já deixei claro aqui na série que não gosto do estilo). Só que são muitos os temperos que o britânico coloca no álbum, então não é um padrão de blues em Lá calcado no 4/4. Tem sim coisa dispensável, como “Fever”, que nem solo tem ou canções com swing, que me dá asco só de parecer que eu entrei em um clube de dança (como em “Keeping my options open”, que é um cover) ou então momentos que tem palminhas de fundo para acompanhar o ritmo (me poupe!). Agora, os solos são muito bons: versáteis (dentro do estilo), cadenciados, com feeling – canções como “Spechless” (meio mainstream) e “Not a word to say” (com aquele timbre da noite sacana) são deliciosas de ouvir. Vale a audição!

JP: Em 2010, o guitarrista / vocalista inglês era considerado o garoto prodígio do blues e tenho que concordar, ele realmente é muito talentoso, tanto como guitarrista quanto como vocalista, onde aposta em um estilo de blues mais pesado, mas sem esquecer uma certa pegada pop que o músico usa para deixar o trabalho um pouco mais acessível – o exemplo clássico é “Speechless”, que traz uma melodia vocal pegajosa ao estilo Jonny Lang, com uma guitarra bem timbrada e solos inspirados. “Evil Soul” é o lado mais pesado e menos comercial, tendo um riff muito bom, um andamento bem “pé na porta” que contrasta com sons mais cadenciados e arrastados como em “Love´s Gone Cold” e “Not A World Say”. Já em “Keeping My Options Open”, no cover de Fever e em “Take a Look Back” temos as canções com uma levada mais swingada. No geral é um disco bastante agradável, com uma guitarra inspiradíssima, timbres de muito bom gosto e ótimos vocais. Recomendável!!!


Terra Prima – And Life Begins

Sugestão de: Kelsei
Ouça você também:

Alexandre: Produção caprichada, vocal competente e de excelente alcance, músicos super talentosos, autênticos virtuoses em seus instrumentos, cada um com um bom espaço para mostrar a que veio, enfim, o que faltaria à essa banda nordestina? No meu entender, em verdade, não falta quase nada, mas falta a tal novidade que é o nome desta série. Eu entendo que o público alvo é tradicional e quer ouvir os dois bumbos, o vocal agudo/agressivo e as guitarras dobradas que permeiam 90% do trabalho. Há de se considerar, no entanto, que o ano avaliado aqui é 2010 e o Angra já havia pavimentado esse cenário em 1993, mais de 15 anos antes. Além disso, havia dado um passo adiante ao trazer as influências brasileiras em 1996 com o Holy Land. O início da faixa titulo é tão bom quanto o fato de ser a mistura de “Never Understand” (Angra – Angels Cry) e “Nothing to Say” (Angra – Holy Land), por exemplo. Assim, nem mesmo o flerte com o ritmo e sonoridade pode ser considerado algo plenamente inovador, ainda que sejam os momentos que mais me agradaram. Eles estão ali, por exemplo, no final da quarta faixa (“Await the Story’s End”) e no inicio da quinta (“New Dawn”), que conta com a participação do Andria Busic, dividindo os vocais. O resultado final, ressalvas acima à parte, é inegavelmente competente, bem agradável e altamente indicado para quem quer uma alternativa brasileira ao Angra. Para mim, o vocal poderia ser menos calcado nos timbres do saudoso André Matos e eles poderiam investir mais tempero nordestino em tanta maestria instrumental. A se ressaltar, posso citar que há alguns poucos trechos de uma escolha de timbres de teclados menos óbvios, em especial o solo de acento bluesy em “Step by Step” me agradou. Em resumo, o grande fã do Angra pode colocar esse And Life Begins do lado do Holy Land sem sustos e curtir. Para eles eu recomendo fortemente. Eu apreciei e respeito bastante a banda brasileira, mas faltou a tal novidade.

Kelsei: Então, no oitavo dia, Deus criou o Angra e disse: “misturai sons brasileiros ao Heavy Metal”. Deu tão certo aqui no Brasil que vários adolescentes cresceram e montaram bandas influenciadas por eles. Uma delas é a Terra Prima, de Recife. Mas se engana quem acha que há uma simples cópia da banda do Rafael Bittencourt (que participa do álbum na faixa “Essence”). Esses caras foram muito além! A mistureba vai de maracatu à flamenco, colocados em medidas precisas. And Life Begins é um belo exemplo de banda que consegue imprimir a sua própria marca dentro de influências consolidadas, e em um primeiro álbum. Temos o arroz com feijão do estilo em faixas como “Time To Fly” e “Gain” (essa aqui poderia estar no lado B do Fireworks, do Angra), mas também temos peso em “Rage” e versatilidade em “New Dawn” (que o Andria Busic, do Dr. Sin, dá uma canja nos vocais). Ao invés de foco em dobras de guitarra (que, claro, existem), o teclado ganha mais protagonismo e o baixo, ah, meu amigo, o baixo dá uma aula! A idealização e liderança da banda está com Daniel Pinho, o vocalista, que canta alto mas não soa exagerado. A formação desse debut está alterada nos dias atuais, mas a banda continua ativa e é um dos principais nomes no metal nordestino.

JP: Branda brasileira de Power Metal melódico que traz para este disco todas as características do estilo: músicos bem acima da média, faixas rápidas, melódicas, gravação cristalina e muita influência de Angra e, até mesmo, do Wizards da época do disco The Kingdom, além de todos os clichês do gênero, o que não é necessariamente um ponto desfavorável. Na primeira audição, as músicas que mais me chamaram a atenção foram “Gain” e “Life Carries On”. A primeira coisa que me chamou a atenção foi como o vocal do Daniel Pinho lembra o saudoso André Matos; é impressionante! Já “Essence” tem uma pegada mais comercial e traz a participação especial de Rafael Bittencourt. Outra faixa que se destaca é “Await the Story´s End”, com um ótimo trabalho de guitarra e melodias vocais de extremo bom gosto. De todos os discos de 2010 resenhados, de longe, este é o que mais gostei! Totalmente recomendável para quem gosta do estilo.


Viathyn – The Peregrine Way

Sugestão de: Alexandre B-Side
Ouça você também (não encontrei link para o álbum completo):

Alexandre: Haja “terra média”!!!! Quase tudo aqui é absolutamente genérico em qualquer banda de metal melódico e altamente esquecível . E o que não é o “lugar comum” que milhares de banda do gênero fizeram em profusão desde o Helloween e o Viper não necessariamente se torna algo agregador; assim, por exemplo, o vocal pouco expressivo e sem alcance (algo praticamente obrigatório nas bandas do estilo) não ajuda. E algumas passagens meio forçadas como a transição estrofe-refrão da primeira real faixa (“Heathen Arise”, que vem depois da já esperada e manjadíssima faixa de abertura incidental intitulada “Antebellum”) pioram ainda mais minha avaliação. Achei interessante as variações rítmicas de “Sirenum Scopuli”, gostei do riff final de “The Twilight Haven”, a parte clean de “Frail Titan”, e olhe lá. Não há qualquer questionamento à capacidade técnica dos instrumentistas – tratam-se, por exemplo, de linhas de guitarras neo-clássicas bastante competentes (os arpeggios em “Blackned Woods” impressionam) e, em especial, uma velocidade dos bumbos duplos que beira o inacreditável. Ainda assim, só indico pra os profundos apreciadores do metal espadinha. A produção carece de uma caprichada, os vocais precisavam de um direcionamento (em especial os de “Canvas”, que atrapalham qualquer tentativa de uma boa passagem acústica). Algumas passagens orquestrais estão muito altas na mixagem. Isso, no entanto, dá pra relevar, considerando que é o primeiro “full álbum” do conjunto. A falta de originalidade não dá, entendo que é um gênero já bastante explorado.

Kelsei: O que eu fiz para vocês quererem me agradar? Mereço tanto assim? Figuras misteriosas, florestas escuras, os sete mares, o pássaro a plainar sob o céu dos Deuses, montanhas que escondem perigos, etc.. (e vai muito etc. aqui com vocabulário mais clichê impossível para as histórias do Power Metal)! Não pesquisei sobre a banda (ainda), mas vou dar uma canja de como tudo aconteceu: um baterista insano que come Blind Guardian no café da manhã conheceu, durante uma partida de RPG, um guitarrista e um baixista insanos que comem Blind Guardian no café da manhã e, juntos, montaram uma banda com um vocalista que come Blind Guardian no café da manhã (mas esse cara em particular não é insano, porque ele ainda está estudando o canto do estilo e também porque não tem o timbre do Hansi Kürsch). Para não dar taaaaaaaaanto assim na cara, a banda resolveu não usar as obras do Joseph Ronald Reuel Tolkien para criar uma história, que seria a base de seu debut. Então, depois de muito hidromel, bumbo duplo em 200 b.p.m., fraseados heroicos de cordas, muita velocidade nas guitarras, violões gravados em cavernas sob luzes de fogueiras, teclados com timbres que chamam Odin pro pau e muita, mas muita pegada Power Metal à lá Dungeons & Dragons, foi lançado The Peregrine Way, que, com essa série nesse blog, caiu nos meus ouvidos e eu não paro de ouvir. Muito obrigado! Isso aqui é o mais puro creme do milho medieval! Até consegui ficar sem Blind Guardian algumas semanas!

JP: Mesmo nunca tendo ouvido falar deste grupo, logo no início do disco tive a mesma sensação de quando ouvi o Fire Down Under, dos americanos do Riot, de 1981. Não, não que os discos se pareçam, muito pelo contrário, são totalmente diferentes entre si; mas quando tive acesso ao referido trabalho do Riot o ano era 1997 através do relançamento em CD. Ao ouvi-lo pela primeira vez pensei: “que disco maravilhoso” e fiquei imaginando como seria legal ter conhecido esse disco na década de 80. Infelizmente, em 97, aquele disco já não tinha mais o mesmo impacto. Ao escutar The Peregrine Way fiquei imaginando que se esse disco fosse transportado para o meu aparelho de som na segunda metade dos anos 90, com toda certeza não sairia dele por muito tempo. Mas hoje… apenas mais um disco. O som do Viathyn é aquele típico Power Metal com fortíssimas influências de músicas folclóricas medievais onde as guitarras disparadamente se destacam, lembrando, em certos momentos, algo dos primeiros do Falconer, mas sem o mesmo brilhantismo. No geral é um disco OK, com boas ideias e um ótimo trabalho das guitarras e um vocalista limitado, mas que em alguns momentos cansam um pouco. As músicas que mais me chamaram a atenção foram “Through the Orchard” e “The Twilight Heaven”. Não é nenhum clássico, mas vale a audição.


Se você quiser resenhar ou indicar álbuns para os próximos anos, deixe nos comentários. Até o próximo ano (e sim, o post vai atrasar, porque liguei o Elden Ring aqui de novo – esse jogo é uma maldição)!

Beijo nas crianças!
Kelsei



Categorias:Artistas, Curiosidades, Discografias, Músicas, Resenhas

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