O novo ciclo: a música já virou uma ferramenta da tecnologia

A ideia deste post não é, nem de longe, ser sensacionalista ou polêmico, ainda que o resultado invariavelmente será… e nem dos mais longos que costume escrever. Vou direto ao ponto.

Galera, isso não vem de hoje, mas creio que com o advento da popularização das ferramentas digitais, incluindo mas não se limitando à Inteligência Artificial, já dá para afirmar: se antes a tecnologia era a ferramenta da arte, já estamos vivendo a era do contrário disso.

Tudo que vejo e ouço já não dá mais para confiar. É tanto software por trás da música – estúdio ou ao-vivo – que já não dá mais para saber (ou pelo menos afirmar) o que é real ou não. O que era antes “experimentações”, “brincadeira”, “complementos”, hoje são irrelevantes.

  • O shows viraram exposições de tecnologia cuja música é um complemento.
  • Álbuns em estúdio – como confiar? O novo do Judas – Invincible Shield – está muito, muito bom – ouvi duas vezes seguidas. Não vejo a hora de ver a banda logo mais este mês no exterior, pois sei que AINDA temos muita coisa ao vivo. Mas o que dizer do vocal do Halford no álbum? Está cantando melhor que nos anos 1970. Ok, há DÉCADAS já temos isso na música (ajustes, overdubs, tudo quanto é tipo de técnica), mas agora, meus amigos, a conversa é diferente… vejam o final desta Trial By Fire e me digam o que é isso…

Mas se em estúdio ainda podemos ter dúvidas – eu já não tenho, no ao vivo a coisa é absurdamente na cara. No mundo pop, onde o que menos importa é a música, isso já é verdade. Bandas cujo apelo principal sempre (ou pelo menos há muitos anos é) outra coisa – como o U2 – já usam a tecnologia para cobrir o pouco da música. Mas agora isso está em todos os lugares.

Sou um cara de tecnologia. Tecnologia é minha vida. Uma coisa não tem nada a ver com outra. Assim como não acho que o talento simplesmente vai sumir – é CLARO que não. Mas que isso terá um efeito de mudança como poucos na sociedade, não há dúvidas. Os ciclos hoje são muito mais curtos que no passado. E é isso mesmo: tudo na vida são ciclos. Os avatares do Kiss devem nascer com um potencial enorme. Mas quando assistir a um show, veja: o que está no foco não é mais a música.

Vou parando por aqui. Quem quiser seguir uma leitura neste sentido, pode ir por aqui. Concordo em gênero, número e grau que precisamos sim de regulamentações para tudo. Mas mesmo com elas, até eu poderei cantar Painkiller ou fazer esse final de Trial By Fire – possivelmente melhor até. Vai depender de eu saber – ou alguém saber por mim – mexer em um ou mais softwares.

Enquanto isso, é claro que eu verei o Judas logo mais. Ainda tem aula de heavy metal ali, como poucas, e como talvez não vamos ter mais nas futuras bandas. E temos que aproveitar coisas como isso aqui que não devem acabar, mas que serão limitadas, pontuais, e provavelmente em lugares pequenos. Sim, o novo ciclo, que é revolucionária, e não apenas incremental, está aí.

[ ] ‘ s,

Eduardo.



Categorias:Judas Priest, Kiss, Marillion, Músicas, Off-topic / Misc, Resenhas

8 respostas

  1. Eduardo, um ótimo texto sobre um tema difícil.

    Tenho alguns concordos , poucos discordos, quase nenhum.

    Dois pontos principais (e concordantes) são: 1)que a música pop (em qualquer vertente, no nosso caso o metal e o hard, mas também demais nas demais áreas) está virando um apoio cada vez menos importante para os espetáculos. 2) que sim, a tecnologia vai perdoar e também apoiar os músicos durante o tempo em que eles ainda quiserem e conseguirem estar viabilizando seu negócio.

    Eu acrescentaria que esse seu RIP music já está caminhando em largas passadas quando estamos falando das grandes bandas de rock. No entanto, seguirá em um ou outros formatos que serão chamados de música.

    Vamos refletir: Alguns daqueles com quem eu pude conviver e que hoje já cumpriram o seu papel na Terra – aqueles que eu tenho boas memórias e uma grande admiração – nem sempre consideravam o que eu ouvia há cerca de 40 anos atrás algo que poderia ser chamado de música. Eles alegavam que era uma barulheira, que era distorcido.

    Será que hoje somos aquilo que eles foram?

    Será que precisamos entender que isso que reclamamos hoje é o que se chamará música?

    Por fim: Trial by Fire, pra mim é a melhor música do novo e bom álbum do Judas. Uma senhora canção, que bom que ela “brotou” . E aqui vai um pensamento incerto: eu não sei se isso que você alega ser impossível que Halford faz nos instantes finais da canção (em estúdio) não é produzido por ele ( ainda que com efeitos etc…). Pra mim, ele gravou. Tem muita coisa que a gente sabe que não é “natural”. Dá pra citar o que o Ace Frehley faz no seu novo álbum e também o que o Paul Stanley fez no seu Soul Station.

    Aqui, nessa excelente canção do Judas, eu boto uma dúvida grande.

    Ao vivo, a gente já sabe….a tecnologia virá firme….

    Bom show!

    Alexandre

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  2. Eu acho que toda evolução tecnológica tem seu lado positivo e seu lado negativo e após um momento de adaptação (que podem ser anos), as coisas voltam a ter evoluções e revoluções, como um ciclo.

    Antes da guitarra elétrica ser inventada existia um conceito sobre o quê era música. E depois veio uma “barulheira” rejeitada por muitos até que a arte foi sendo moldada sobre o instrumento. O mesmo vale para os movimentos culturais, mas não vou entrar nessa seara por aqui.

    Para não ficar escrevendo textão, o meu ponto de vista é que a arte sempre vai prevalecer. Por mais que hoje um chat GPT te ajude a compor uma música ou um software faça um backtrack de algo difícil de ser tocado, ou então que uma deficiência humana devido à idade seja encoberta em um show ao vivo. E aqui estou falando do pequeno nicho que realmente se importa com música, pois o público do pop nunca se importou com música – para eles o evento em si sempre foi mais importante do que “o barulho de fundo usado para dançar”.

    Acho que vai chegar uma hora onde teremos tanta artificialidade que haverá um movimento humano natural buscando uma nova revolução que tentará refutar esses softwares e tecnologias. Ainda acho que a arte prevalecerá, mesmo que em estúdio existam efeitos e nas gravações ao vivo as falhas sejam encobertas – só quem tem talento sobrará no final; muitos ganharão seu primeiro milhão e pularão fora da onda.

    E bora ver o Judas que esse álbum deu aula!

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  3. Apoio totalmente a iniciativa, mas acho que talvez já tenhamos chegado a um ponto de onde não é mais possível retornar.

    Espero que não…

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