
Na parte 10 desta discografia, trago o objetivo de atualizar o verdadeiro Queensrÿche, aquele que deixou de ser o “latifúndio” de Geoff Tate, até o momento atual. Sabe-se que a banda está muito ativa e desde a sua mais conturbada cisão, em 2012, lançou outros 4 álbuns com o novo vocalista, Todd La Torre. O primeiro deles, intitulado simplesmente “Queensrÿche”, saiu em 2013, no meio do imbróglio judicial que levava os dois lados a se declararem donos dos direitos do nome da banda, motivado pelo demitido Geoff Tate que se antecipou e lançou pouco tempo antes um álbum sob o nome Queensrÿche, o Frequency Unknow. Estes capítulos já foram cobertos aqui e aqui, nas duas partes 1 desta autêntica novela.
Em 2014, após tratativas judiciais, os dois lados da moeda chegaram a um acordo e em 26 de abril de 2014 , e através de um pronunciamento conjunto, houve a definição do que aconteceria com a banda. O acordo estipulou que os membros originais do Queensrÿche, Michael Wilton, Eddie Jackson e Scott Rockenfield, assim como os (naquele momento) membros mais novos Todd La Torre e Parker Lundgren, passaram a ser a única banda gravando e excursionando como Queensrÿche, podendo tocar músicas de um catálogo musical que hoje já abrange mais de 40 anos. Geoff Tate ficou com valores que por acordo corresponderam a venda da sua parte no nome do conjunto e também com a possibilidade exclusiva de tocar os álbuns conceituais “Operation: Mindcrime” e “Operation: Mindcrime II” em performances únicas e na ordem sequencial das faixas que neles estão. Ou seja, hoje o verdadeiro Queensrÿche pode tocar quais músicas quiser de toda a sua discografia, mas não pode tocar as duas partes do “Operation:Mindcrime” em suas sequências conceituais.
Livres das “garras” de Tate, hora de seguir o projeto, certo? Certíssimo, assim em 2 de outubro de 2015 o revigorado Queensrÿche lançou seu 13º álbum de estúdio (aqui eu estou desconsiderando o Ep homônimo de estreia, em 1983 e, evidentemente, o álbum de covers “Take Cover”, de 2007).

A formação do grupo não se modificou, na época e o álbum traz as seguintes faixas:
“Arrow of Time”
“Guardian”
“Hellfire”
“Toxic Remedy”
“Selfish Lives”
“Eye9”
“Bulletproof”
“Hourglass”
“Just Us”
“All There Was”
“The Aftermath”
“Condition Hüman”
Michael Wilton e Scott Rockenfield tinham escrito canções que foram descartadas dos álbuns do final da época Tate na banda, entre eles “American Soldier” e “Dedicated to Chaos”. O autor destes descartes, evidentemente, foi o antigo vocalista, que preferiu utilizar músicas que ele e o produtor Jason Slater estavam preparando, segundo ele, por que suas parcerias com Jason tinham mais coerência com os tais álbuns. As canções de Michael e Scott também não foram pensadas em serem usadas no primeiro pós-cisão, o homônimo “Queensrÿche”, de 2013, pois naquele instante o grupo deixou, de fato, todo o conturbado passado de lado. Para “Condition Hüman”, boa parte daquele material foi revisitado. Inicialmente, os membros do Queensrÿche pensaram em trazer o produtor James “Jimbo” Barton, conhecido por ter atuado nos mais reconhecidos álbuns do grupo, o que acabou não ocorrendo. O grupo então iniciou uma parceria que dura nos três álbuns que estou trazendo neste post, com o produtor Chris “Zeuss” Harris, mais conhecido por produções de bandas mais novas de metal.
O lançamento do álbum foi acompanhado de vários videoclipes para a sua promoção como o primeiro single “Arrows of Time” e também “Guardian”, “Eye9”, “Bulletproof” e “Hellfire”. Ou seja, quase metade do álbum foi veiculado por videoclipes e mesma algumas outras canções tiveram, pela gravadora oficial, uma divulgação no formato Lyric Video (um vídeo sem a participação da banda ou não concebido em um roteiro específico, simplesmente a execução da canção com as letras dispostas, conforme a música vai sendo tocada). Abaixo estão os videoclipes oficiais de “Condition Hüman”
Em minha opinião, o segundo álbum com Todd La Torre aprofundou o desenvolvimento do novo line-up da banda, já que o primeiro trabalho, embora tenha 11 faixas, foi preparado para concorrer com o álbum de Geoff Tate e traz músicas bem diretas, com menor duração. É plausível até considerar, quantidade de músicas à parte, o homônimo álbum de 2013 quase um EP, pois seu tamanho mal chega aos 35 minutos. Em 2015, livre das questões judiciais com Tate, o grupo pode fazer um trabalho sem a pressa exagerada da competição dos tempos críticos anteriores. E o resultado é muito bom, embora comercialmente saibamos que a banda apenas teve grande repercussão entre o “Operation: Mindcrime” e o “Promised Land”, este ainda trazendo alguma rebarba do mega platinada “Empire”. Além disso, vender álbuns (em cd ou mesmo vinil) em 2015 é buscar apenas o nicho mais específico dos mais fiéis acompanhadores de qualquer grupo. “Condition Hüman” tem, reconhecidos oficialmente, 80 mil unidades vendidas até o momento em que se escreve este post. Hoje, no entanto, como escrevi, nenhum álbum é medido por suas vendas e sim por sua qualidade.
E o segundo álbum com Todd La Torre na banda cumpre o que o fã deseja. O primeiro single, “Arrow of Time” é uma ótima acelerada canção, com vários elementos clássicos do conjunto, como as guitarras dobradas, não só na introdução, mas também nos solos, e uma levada de bateria de Rockenfield impecável, usando os dois bumbos de forma cirurgicamente impressionante. O single tem um refrão forte e imediatamente cola nos ouvidos do fã. “Guardian” é outra faixa bem pesada, mas traz alguns elementos mais trabalhados, novamente um ótimo trabalho de bateria por Scott, solos divididos e um refrão imponente (usando “Evolution Calling”, em uma alusão a “Revolution Calling”, música do “Operation: Mindcrime”). Aqui já é possível perceber a cara deste Queensrÿche com Todd, que em geral traz de volta o peso que usavam até o seu terceiro álbum, o citado e icônico conceitual, mas sem abrir mão das nuances progressivas, passagens em linhas limpas e acordes abertos de guitarra, para reforçar a dinâmica das canções. “Hellfire” é mais cadenciada, mas igualmente uma faixa forte, uma das minhas favoritas, com ótimos agudos de Todd e um refrão ainda mais melódico que se destaca. A letra mostra os horrores da guerra e é acompanhada de ‘samplers’ de frases faladas que reforçam o seu conceito. ”Toxic Remedy” segue na linha cadenciada, com outro marcante refrão e bom trabalho de guitarras. Seu trecho intermediário aposta em uma ponte com guitarras limpas para nos levar de volta ao ótimo refrão, mantendo o ótimo nível do álbum. “Selfish Lives” vai mais fundo do ritmo bem cadenciado das estrofes, alternando-as com mais um ótimo refrão. Novas frases faladas aparecem na ponte que antecede um solo não tão inspirado. Talvez seja um pouco mais óbvia que as anteriores, mas se integra perfeitamente no álbum.
“Eye 9” surge com uma das grandes contribuições do baixista Eddie Jackson nas composições desta fase do Queensryche, assim o baixo já toma conta da canção logo no início, junto das vozes com efeitos fantasmagóricos de La Torre. É uma música com passagens intricadas, um destaque incontestável do trabalho da cozinha, mas não abre de um marcante e melódico refrão, que é a tônica do álbum. Outro grande destaque do disco. “Bulletproof” é uma balada com todos os elementos do grupo, em especial as ótimas harmonias e acordes de guitarras transparentes com efeito ‘chorus’ nas estrofes. Os solos são todos de Park Parker Lundgren, apenas em um pequeno trecho Michael vem acompanhá-lo. A música pode até ser considerada um tanto previsível, mas é inegável o seu apelo comercial e neste aspecto é matadora. “Hourglass” se difere por ter harmonias mais dissonantes, e apesar do impecável trabalho técnico da banda, talvez seja um ponto mais fraco no álbum, mas não é exatamente uma faixa ruim, de forma alguma. “Just us” aposta nos violões e se alterna entre momentos com mais harmonia nos refrões e divagações mais progressivas nas estrofes. É uma canção bem diversa no álbum, mas, no meu entendimento, fica devendo um pouco em seu desenrolar. Seu maior mérito é trazer uma boa variação dentro do trabalho, só não se sustenta em separado. O delicado final é o ponto alto da música. “All There Was” traz de volta o peso e o ritmo acelerado, que nos remete de imediato a canções como “The Needle Lies” do “Operation: Mindcrime”. A referência aqui é bem explícita, com as intervenções por vezes dobradas das guitarras por toda a canção. Talvez por consequência, o rápido e tecnicamente desafiador solo dobrado se destaca na música. A canção emenda com “The Aftermath”, que é uma vinheta caótica composta pela banda toda, servindo de passagem entre as últimas canções, com menos de 1 minuto. Chegamos então à faixa-título, que fecha o disco de forma próxima ao que faz “Anybody Listening” no “Empire”, mas ainda vai mais fundo no clima progressivo, nos remetendo talvez a “Suite Sister Mary”, em especial no trecho antes do solo que vem quase ao fim dela. “Condition Hüman” é uma faixa complexa, que se alterna sem nenhum pudor entre trechos mais lentos, pesados, acelerados, épicos, uma autêntica mistura de vários elementos. De longe é a faixa mais ambiciosa do álbum, a maior em duração, e mostra um grupo coeso, com desejo de experimentar. Uma grande canção para fechar um ótimo álbum.
É inegável que o grupo amadureceu durante os dois anos após a entrada do novo vocalista, considero apenas que o álbum seria melhor se fosse um pouco menor, talvez deixando uma ou outra canção à parte do track final. O resultado, que passou dos cinquenta minutos de duração, é provavelmente o fruto da inspiração de um trabalho que certamente teve a maior participação de todos, tanto que ainda há três interessantes faixas bônus lançadas nas versões mais completas (“Espirtu Muerto”, “46º North” e “Mercury Rising”). São faixas que valem uma conferida, em especial “Mercury Rising”, no meu entender.
Avançando no tempo, em 2019 o grupo se reuniu para gravar o terceiro álbum com Todd La Torre tentando aguardar Scott Rockenfield, que havia se ausentado há cerca de 2 anos, por problemas pessoais (provavelmente relacionados à sua saúde, abalada por substâncias não muito recomendáveis). Infelizmente a saída parece ter sido definitiva, pois em “The Verdict”, o novo trabalho, o grupo teve de optar por outro baterista. E ao contrário do que muitos esperavam, não foi Casey Grillo, que vinha desempenhando as funções nos shows desde o afastamento de Scott, que assumiu a empreitada. A solução ficou em casa, pois Todd, além de ter segurado a barra de substituir Geoff Tate, cerca de 6 anos antes, em 2019 também foi o responsável pelas trilhas de bateria. O álbum foi lançado em 01/03/19.

Novamente contando com Park Lundgren auxiliando nas guitarras, o álbum traz 10 faixas, frutos de intensa participação de todos do grupo, com maior presença de Eddie Jackson e mantendo as contribuições de Lundgren. Segue abaixo o track-list:
“Blood of the Levant”
“Man the Machine”
“Light-years”
“Inside Out”
“Propaganda Fashion”
“Dark Reverie”
“Bent”
“Inner Unrest”
“Launder the Conscience”
“Portrait”
Para divulgação deste terceiro álbum pós saída de Geoff Tate, o grupo gravou dois videoclipes, de “Blood on The Levant” e “Light-Years”, mas curiosamente não utilizou o mesmo formato para os singles “Dark Reverie” e “Man the Machine”.
O álbum começa bem forte, com a energia da forte canção “Blood on The Levant”, letra relacionada aos temores dos conflitos militares. A mesma energia acelerada da primeira música se estende ao outro single “Man The Machine”, também inspirada, como “All There Was” do álbum anterior, em “The Needle Lies, nos riffs acelerados de guitarra. O trecho final, mais melódico, com boa participação do baixo e das guitarras dobradas traz uma certa variação bem-vinda para o fechamento da música. “Light-Years” aumenta o nível já muito alto do álbum, sem dúvida um dos destaques deste “The Verdict”. A canção até tem um riff que lembra de longe “Home”, do Dream Theater, logo em seu início, mas o seu grande mérito é aliar estrofes tecnicamente mais complexas, em especial pela bateria de Todd La Torre a um refrão especialmente matador. O trecho intermediário é precioso, pela linha de baixo, a bateria muito técnica de Todd, e as incríveis linhas dobradas de guitarras. Outro ponto a se destacar na faixa é que a composição de Eddie Jackson, notoriamente se mostrando muito à vontade também neste papel. Não há, no entanto, como não destacar Todd La Torre, não só pelas incríveis linhas de bateria, mas pelo vocal com tons agudos absurdos, em especial no fim da música. A peteca não cai em “Inside Out”, que novamente usa o bom artifício de mesclar entre o mid-tempo com toques orientais das estrofes e o trecho mais direto e acelerado do refrão. O trecho intermediário traz guitarras limpas para servirem de base a um ótimo solo. Linhas de teclado auxiliam no clima oriental após o solo, mantendo o nível do álbum praticamente impecável até este momento. “Propaganda Fashion” é uma das mais aceleradas faixas do álbum, com uso de bumbo duplo por Todd. Há uma ponte mais cadenciada e melódica, mas não deixa nada a dever aos demais trechos mais acelerados. A parte intermediária chega a buscar linhas sintetizadas ao arranjo, mas a predominância da canção é colocar a energia bem alta.
Chegamos a “Dark Reverie”, música inteiramente composta por Park Lundgren, e já passamos da metade do álbum sem que a peteca caia em momento algum. A música é uma linda balada, mas traz uma bateria bem criativa de Todd e o auxílio de teclados em determinados trechos. Do meio para o fim da canção, a música traz variações, como um trecho antes do solo com harmonias diferentes e uma dobra de guitarras que lembra de longe um riff que está em “Empire of the Clouds” do Iron Maiden. “Bent” alterna trechos cadenciados bem diversos com algumas poucas passagens mais aceleradas. A música aposta nos efeitos de voz para manter um clima viajante em sua grande maioria, apenas soando mais direta na ponte que leva ao refrão. E é justamente aqui no refrão que reside o melhor trecho da música, muito marcante e cativante. Há um grande espaço para o trecho do solo, inicialmente dobrado entre os guitarristas, para seguir alternando-se entre dobras e momentos a cargo de apenas um dos músicos. A música termina em altíssimo nível, apostando no refrão marcante, que traz uma grande performance vocal de La Torre. “Inner Unrest” é outra ótima faixa, mantendo a qualidade do trabalho. Ao chegarmos no trecho intermediário, há um riff de guitarra que nos faz ligeiramente lembrar o trecho perto do solo de “A Touch of Evil” do Judas Priest. Em seguida, o baixo de Jackson se complementa muito bem com novas linhas de guitarra. “Launder The Conscience” inicialmente nos leva de volta aos dois primeiros álbuns, em especial lembrando o clima de músicas como “NM156” ou Chemical Youth”, mas muda completamente no seu fim, trazendo um piano para um trecho épico e instrumental que poderia servir perfeitamente para fechar o álbum. O grupo, no entanto, optou pela viajante “Portrait” para este propósito. A canção talvez seja tida como mais fraca no trabalho, mas no meu entendimento não compromete o resultado final, embora pudesse ser um pouco menor. “The Verdict” é um trabalho muito coeso, com um padrão de qualidade muito consistente durante praticamente toda a audição, mas, como todos os demais álbuns desta fase, precisa de várias audições para que as canções comecem a mostrar os seus reais potenciais. Acredito que ele ainda supere o álbum anterior, por ser menor e quase não apresentar falhas.
Por fim, em 7/10/2022 o grupo lançou o seu atual último álbum, o 15º trabalho de estúdio, chamado “Digital Noise Alliance”. Assim como todos os álbuns anteriores com Todd La Torre, a gravadora permaneceu sendo a Century Media. Para este álbum de 2022, com o baterista Casey Grillo bem estabilizado na banda nas turnês há cerca de 5 anos, nada mais natural do que promovê-lo a participar das sessões de estúdio. Outra mudança se deu, mas o novo integrante já havia estado na banda antes. Volta Mike Stone, que atuou no grupo entre 2003 e 2008 (apenas atuando como integrante oficial no álbum de covers “Take Cover”, de 2007 até então), substituindo Parker Lundgren, justamente quem havia entrado no lugar de Mike, em 2008. Parker, portanto, permaneceu na banda durante cerca de 13 anos ininterruptos e não se sabe de qualquer outro projeto que ele tenha feito após a saída do Queensrÿche. Já Mike Stone, embora não tenha participado das composições do novo álbum, é creditado como integrante do grupo nesta volta. Em “Tribe”, de 2003, o guitarrista havia participado como convidado, tendo composto uma faixa, “Losing Myself”, em parceira com Geoff Tate. Mike tem várias outras contribuições musicais em bandas menos conhecidas, e atuou no terceiro álbum solo do ex-baterista do KISS Peter Criss em 1994, álbum este conhecido como “Cat#1”. Mike esteve na banda de Criss de 1992 a 1995.

“In Extremis”
“Chapters”
“Lost in Sorrow”
“Sicdeth”
“Behind the Walls”
“Nocturnal Light”
“Out of the Black”
“Forest”
“Realms”
“Hold On”
“Tormentum”
“Rebel Yell” (faixa bônus)
Para a divulgação “Digital Noise Alliance”, a gravadora simplesmente apostou em videoclipes para praticamente todas as faixas, inclusive para o cover da clássica canção “Rebel Yell”, de Billy Idol, conforme abaixo. Apenas as faixas “Chapter”, “Lost in Sorrow” e “Out of The Black” não tiveram videoclipes associados. Você pode ver qualquer um das demais faixas abaixo:
Faixa-bônus
O último álbum lançado pelo Queensrÿche (até agora) também se mostrou bastante consistente, embora, assim como o seu antecessor, não haja qualquer maior repercussão comercial de vendas, sequer há qualquer número oficial da vendagem dos últimos álbuns do Queensrÿche. O grupo, em “Digital Noise Alliance” se mostra apostando na volta de um integrante conhecido (Mike Stone), e já consolidado na bateria com Casey Grillo, que até participa como co-autor de duas faixas,”Forest” e “Hold On”. O disco começa acelerando com as frases agudas de guitarras de “In Extremis”, mas mesmo nesta faixa de abertura o grupo se permite a ousar tecnicamente na parte intermediária, diferenciando esta faixa inicial das dos álbuns anteriores, mas diretas. “Chapters” coloca o hard rock no álbum, uma boa faixa com marcante refrão e solos dobrados entre Mike Stone e Michael Wilton. Se “Chapters” abre a porta para o hard tão presente no Queensryche na época do Empire, “Lost in Sorrows” acaba de escancarar esta vertente. A música ainda engana um pouco no início, um trecho instrumental mais voltado para as guitarras. A partir do momento no qual Todd começa a cantar, o que ouvimos é a mais pura expressão do que uma banda de qualidade como o Queensrÿche ainda pode fazer no gênero. É um destaque inegável no álbum, na fase Todd La Torre e por que não dizer, digna de aparecer em qualquer álbum da banda. O disco se “paga” por esta canção, e com certa facilidade. É inconcebível, no entanto, que tantas outras músicas tenham tido veiculação por videoclipes e justamente esta, com um imenso potencial comercial, aliado à sua grande qualidade, tenha sido posta de lado. Nota mil para “Lost in Sorrows”. Na sequência, voltamos ao metal acelerado, com “Sicdeth”, que apenas dá uma reduzida nos ‘rpms’ no refrão e no trecho que inicia a canção e que se repete lá para o meio dela. A música bota Casey Grillo para exercitar-se de volta aos bumbos duplos que certamente tanto o acompanharam no Kamelot e mantém o bom nível do álbum. “Behind The Walls” tem um sintetizador no seu início, mas dali em diante nos leva de volta ao “Rage For Order”, por exemplo, em “The Whisper”. O vocal de Todd lembra, em algumas melodias, “A Little Time”, do Helloween ou em outra passagem “Dissident Agressor”, do Judas Priest, o que entrega algumas das excepcionais influências que o vocalista assimilou. O bom solo é feito em uma sequência Wilton-Stone. É mais uma excelente música, em especial pelo refrão espetacular. Além disso, a canção surpreende com mais passagens de guitarra quando se esperava o fim, a partir dos cerca de 5 minutos. Sem dúvida, é um dos grandes destaques do disco. “Nocturnal Light” vem na sequência, e não deixa nada a dever às suas canções anteriores. A música dá uma aula em todas os instrumentos, ótima bateria com o uso do prato ‘china’ no refrão, bom espaço para grande Eddie Jackson brilhar no baixo e frases criativas de guitarra. Considero apenas que o solo não está no nível do restante da canção. Todd traz vocais agudíssimos e uma ótima melodia para o refrão.
“Out of the Black” alterna trechos mais leves com guitarras cortantes, e na minha opinião peca um pouco nos backing-vocals, que soaram um pouco artificiais, em especial no refrão. A música ficaria melhor sem boa parte deles. Não é uma música a ser descartada, mas dentro do álbum posso considerá-la abaixo das demais. Mesmo o bom espaço para os solos não entrega nada que eu poderia considerar imprescindível. “Forest” é uma balada com bastante uso de violões, e um dos exemplos de como Todd La Torre vem pouco a pouco trazendo mais do seu estilo de cantar, deixando de ser uma cópia simples de Geoff Tate. A música não chega a empolgar, não nos traz de volta à qualidade mostrada nas 6 primeiras canções, mas não compromete. Estamos chegando ao encerramento do álbum, e “Realms” é um dos ótimos momentos desta parte final. Uma ótima canção, com um destacado refrão e o ótimo trabalho de guitarras e voz. A música emenda com “Hold On”, que traz melodias bem diferentes, uma canção criativa e bastante diferente dentro do álbum, no levando a alguns pouco ortodoxos momentos do álbum “Empire”. A parte final, em especial o trecho do solo, traz uma levada de bateria muito complexa, mostra toda a categoria de Casey. A canção, como o videoclipe tão bem descreve, procurar alertar para os perigos da cultura de tanto uso dos celulares, da internet, da propagação maciça da cultura ao corpo perfeito, da necessidade dos “views”, dos “likes”. A última faixa é a excelente e pesada “Tormentum”, um outro destaque incontestável do álbum, que inicialmente nos entrega três minutos de incansável pancadaria, no melhor dos sentidos. Dali em diante, a banda se entrega numa passagem progressiva viajante e mais lenta, com Casey novamente ousando com diversas viradas completamente desconectadas do tempo da canção. Solos se seguem, passagens intricadas, paradas sincronizadas pelo grupo, um trecho instrumental longo, épico e impressionante do ponto de vista técnico. Próximo ao minuto final da música, Todd volta a cantar um trecho bastante emocionante, que se revela perfeito para nos encaminhar ao fim desta incrível canção. Nos últimos segundos, surge um dedilhado sublinhado por uma linha tênue de teclado que nos leva ao trecho mais contido de “Roads to Madness” que igualmente fecha o seu álbum, o de estreia, “The Warning”.
O disco traz um bônus para a clássica “Rebel Yell”, de Billy Idol. Não obstante a correção da versão, da voz, da mixagem, da busca por reproduzir boa parte dos arranjos originais, honestamente, eu nem acho que eles deveriam apostar nesta ideia. Trata-se de uma música que dificilmente será superada, e o cover do Queensrÿche está muito parecido com a versão de Billy, exceto talvez pelos solos, que mesmo bons, não se comparam ao estilo mais adequado que foi entregue por Steve Stevens junto a Billy Idol. Eu, particularmente, dispensaria a cover. “Digital Noise Alliance” tem defeitos, mas estes são raros e normalmente não voltados à qualidade do seu material. Entendo que a arte da capa, por exemplo, assim como no álbum anterior (“The Verdict”) poderia ter uma maior criatividade e apostar menos em tons tão escuros. Neste ponto “ Condition: Hüman se difere, pois tem uma capa belíssima. Isto, no entanto são detalhes, a grande conclusão é que a banda realmente tem mostrado o quanto busca se desafiar.

Ufa, chegamos, enfim, ao fim de 2025, neste que é atualmente um update de como se encontra o Queensrÿche. Não tão relevante comercialmente, mais muito consistente artisticamente. E exceto pelo ‘boom’ que viveu por volta do início dos anos 1990, o que se espera é que a banda se mantenha neste patamar de extrema qualidade aliada a uma condição menos favorável comercialmente, condição atrelada às bandas que normalmente participam das primeiras apresentações de um festival, muitas vezes ainda com o sol à pino, e que tocam, quando artistas exclusivos, para um público seleto, com uma quantidade menor de expectadores.
O grupo fez, durante todos esses anos sem Geoff Tate e Chris DeGarmo, que saiu após “Hear in The Now Frontier”, uma média de 60 shows por ano, pouco menor do que a média entre 1999 e 2011, ou seja, entre a saída de Chris e a confusão com Geoff (65 shows por ano, aproximadamente). Em 2025, encontra-se em plena atividade, já chegando na sua média. Neste momento está excursionando nos EUA e já passou em São Paulo, deixando uma ótima impressão, inclusive entre os membros deste blog. Ano passado, fez mais de 80 shows, algo que parece se repetir ou até ser ultrapassado neste 2025, pois tem datas agendadas em território norte-americano em um cronograma incessante que vai até pelo menos o dia 20 de dezembro.
Ou seja, mesmo considerando apenas a questão numérica envolvendo as apresentações da banda, que é o que hoje importa financeiramente aos artistas musicais, fica provado que o grupo sobreviveu a um colapso, conseguiu resolver-se judicialmente após tal trauma, e mesmo perdendo os seus dois principais integrantes hoje se mantém muito bem, obrigado. Assim como todos os seus colegas da década de 1980, não consegue soar tão fresco como foi nos seus melhores tempos. Mas tem muito a dizer ainda, e traz indiscutíveis exemplos nos quatro álbuns lançados com Todd La Torre. Resta saber o que e se o futuro nos trará novas atualizações para o Queensrÿche.
Veremos…
Saudações,
Alexandre B-side
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31º Podcast Minuto HM – 16/março/2018
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