Discografia Iron Maiden – Episódio 17: The Book Of Souls

We are only immortal for a limited time…

No capítulo anterior (que você poder ler aqui), vimos o Iron Maiden lançar o que era, para muitos, seu melhor material enquanto sexteto. Após um longo período sem um novo álbum de estúdio, chega um turbilhão de informações: Bruce Dickinson está com câncer, a banda prepara uma cerveja e um novo álbum de estúdio será duplo. Tudo era amedrontador. O que esperar de Bruce?! Poderia o Iron Maiden realmente trazer algo “diferente” enquanto sexteto, com a banda beirando os 40 anos de idade, em um álbum duplo?! Bruce conseguiria voltar a cantar? Teríamos aposentadoria rondando a sombra do Iron Maiden?

Celebração do Maiden England

No ano de 2013 tivemos uma celebração aos vinte e cinco anos do Maiden England, com relançamento do icônico show gravado em Novembro de 1988 em Birmingham. Para quem só tinha o show em VHS (no meu caso) agora tínhamos a oportunidade de comprar o show em CD e em DVD, que também vinha com a parte III da história da banda.

A celebração não ficou somente no lançamento do material. Tivemos a Maiden England World Tour entre 2012 e 2014, que passou, obviamente, por essas terras tupiniquins. Foi em 2014, com o término dos shows, que a banda se reuniu para a gravação do novo material.

Singles de Book Of Souls

Speed Of Light

Lançado em 14 de Agosto de 2015, o primeiro e único single antes do lançamento do álbum teve uma capa preguiçosa. Pela primeira vez a capa de um single anteciparia a capa de seu próximo álbum, pois é o mesmo Eddie de The Book Of Souls, só que com menos luz. O lançamento em mídia física só ocorreu nos Estados Unidos e não vinha com nenhuma outra faixa a não ser a própria Speed Of Light.

Empire Of The Clouds

Lançado com tiragem limitada em 16 de Abril de 2016, um bom tempo depois do lançamento do álbum, Empire Of The Clouds é um single só encontrado em LP de 12 polegadas, sendo que no Lado A temos a épica canção e no Lado B temos Maiden Voyage – The Story Behind Empire of the Clouds, com mais de 20 minutos de entrevista com Bruce Dickinson, que conta sobre o processo de composição da música.

A arte da capa foi feita em cima de uma imagem real do noticiário da época que fez um especial sobre a queda do dirigível R101, tema central da música.

The Book Of Souls (2015)

Coisas que ninguém presta atenção Ficha Técnica:

  • Produção e Mixagem: Kevin Shirley
  • Co-Produção: Steve Harris
  • Masterização: Ade Emsley
  • Gravado no estúdio Guillaume Tell, na França
  • Fotos: John McMurtrie

O álbum foi forçado a ser lançado em 04 de Setembro de 2015. A ideia era lançá-lo em 2014 ou então no começo de 2015, mas a banda precisou adiar seus planos pois Bruce Dickinson foi diagnosticado com câncer na garganta pouco tempo após os términos dos trabalhos de estúdio, que fora o mesmo local onde Brave New World foi feito. Devido a esse ponto, o intervalo de lançamento entre The Book Of Souls e seu antecessor foi o maior tempo já registrado entre um álbum e outro (isso considerando o momento do ano de 2015, pois sabemos, agora em 2021, que um certo vírus conseguiu atrasar mais planos e esse recorde foi batido).

Bruce tratou um câncer na garganta pelo período de nove meses. O vocalista relata com muitos detalhes o tratamento e os momentos de dor em sua autobiografia, com um capítulo dedicado, intitulado “Fuck Cancer”. Sua primeira foto foi de bigode e sua primeira aparição oficial pública após o término do tratamento foi como palestrante e, por acaso, foi aqui no Brasil, no CIAB 2015, em São Paulo. Eu e o presidente estávamos lá, em locais até próximos, mas saber que existíamos.

Em paralelo ao tratamento, estava em preparação a cerveja da banda – a Trooper – que seria criada em parceria com a Robinsons Brewery. No evento do CIAB, Bruce contou que vieram até ele e Steve Harris e comentaram que o vinho lançado pelo Hammerfall estava vendendo bem e que eles deveriam fazer o mesmo.  Como a bebida em questão não era algo que estava no DNA da banda, optaram por pensar em fazer uma cerveja. Deu tão certo, mas tão certo, que hoje em dia criaram novos rótulos e sabores. Entre aqui e veja as opções. Hoje em dia virou moda toda banda ter uma bebida – é mais um item para lucrar em cima.

Agora vamos voltar ao álbum.

Um fato inédito foi que esse álbum é o primeiro pela Parlophone, que é um selo hoje pertencente à Warner Music Group. O contrato com a EMI, que existia desde o debut homônimo, não foi exatamente quebrado. O que realmente aconteceu foi que a EMI, em 2011, tinha uma dívida astronômica e acabou sendo comprada pelo Citigroup Inc., que no mesmo ano vendeu o selo EMI Group Ltd. entre a Universal e a Sony. Depois de muitos trâmites entre homens de gravata, em 2013, o selo Parlophone Records saí do portfólio da EMI, onde estava o Iron Maiden (todas as bandas abaixo do selo, com exceção dos Beatles, foram transferidas). Um outro fato curioso dentro dessa bagunça foi que o selo Sanctuary Records, que Rod Smallwood tinha vendido à Universal em 2007, teve que ser transferido para a Sony.

A capa de The Book Of Souls foi criada por Mark Wilkinson, que você conhece das capas dos singles de Brave New World. Temos dessa vez um Eddie careca e cheio de pinturas corporais, representando um integrante de um povo antigo, já que a civilização Maia é uma das referências em torno do álbum. Não é um desenho primoroso, mas comparado aos últimos lançados, até que não está ruim. Outra coisa que ajuda muito na capa é o logo original, que deixou de ser usado desde X-Factor (no caso de álbuns de estúdio, pois temos coletâneas e álbuns ao vivo com esse logotipo, nesse intervalo).

Tracklist

  1. If Eternity Should Fail (Dickinson) – 08:28
  2. Speed Of Light (Smith / Dickinson) – 05:01
  3. The Great Unknown (Smith / Harris) – 06:37
  4. The Red And The Black (Harris) – 13:33
  5. When The River Runs Deep (Smith / Harris) – 05:52
  6. The Book Of Souls (Gers / Harris) – 10:27
  7. Death Or Glory (Smith / Dickinson) – 05:13
  8. Shadows Of The Valley (Gers / Harris) – 07:32
  9. Tears Of A Clown (Smith / Harris) – 04:59
  10. The Man Of Sorrows (Murray / Harris) – 06:28
  11. Empire Of The Clouds (Dickinson) – 18:01

Simon Martin, historiador especializado no povo Maia, foi contratado para transcrever os títulos das canções, com os aspectos de arte refletindo a antiga língua e cultura Maia. Ele é o único conhecedor a fundo no assunto na Inglaterra; inclusive, Simon chegou a brincar em uma entrevista: quando perguntado como ele foi selecionado para contribuir com The Book Of Souls, ele respondeu “não tiveram muita escolha”. O tracklist em Maio você encontra na primeira página do booklet do álbum. O processo de tradução se deu, primeiramente, em passar as títulos das músicas para o espanhol e, depois, para os símbolos Maias.

Analisando o tracklist, óbvio que temos Steve Harris assinando grande parte das músicas, mas é importante destacar que nas faixas Speed Of Light e Death Or Glory somente temos Bruce Dickinson e Adrian Smith (sem a presença de Steve Harris), o que não acontecia desde que ambos voltaram em Fevereiro de 1999. E por ser um álbum duplo, não há novidades em destacar que esse é o disco mais longo da carreira da banda, com um total de 92 minutos.

O lineup de The Book of Souls (esq. para dir.): Dave Murray (guitarra), Nicko Mcbrain (bateria), Bruce Dickinson (vocal), Steve Harris (baixo), Janick Gers (guitarra) e Adrian Smith (guitarra)

Faixa a faixa

CD 1

The Book Of Souls não é um álbum conceitual, mas em mais de uma faixa ele traz uma mesma linha de pensamento: o fato de que nós, seres humanos, enquanto raça, por mais que consigamos obter coisas incríveis e até dominar povos “inferiores”, não importa o tamanho de nosso “poder”, nosso império não vai durar para sempre e cairemos no esquecimento. A primeira faixa, If Eternity Should Fail, já traz um pouco desse pensamento. Desde os primórdios dos tempos, achamos que iremos viver eternamente – independe de crenças, religiões e o que mais você quiser trazer aqui, é fato que, uma vez que temos vida, não queremos perdê-la. Mesmo que nosso corpo deixe de existir, nossa alma permanece, podendo retornar, viver na forma de um outro ser (como um animal), ser consciência, ter vida eterna; são muitos os exemplos de cada crença, ainda mais se tomarmos a história e nossos povos antepassados por milhares de anos. Até hoje buscamos formas de ter uma expectativa de vida maior e de alcançar a imortalidade. Mas, e se o plano de eternidade falhar?

If Eternity Should Fail é uma música que Bruce Dickinson fez para seu novo álbum solo (que, até o momento desse post, não foi anunciado). Um dos personagens desse álbum é o Dr. Necropolis, o cara mal da história, que tem uma máquina capaz de sugar as almas das pessoas. O início da canção foi literalmente chupinhado do que Bruce criou com Roy Z, guitarrista que o acompanha há um bom tempo. O tecladinho que lembra uma flauta no início da música, foi gravado por Bruce ‘na cama do Roy’ (sic). A canção pode ser dividida em três partes. A primeira são as duas estrofes iniciais, onde a máquina é apresentada e será usada para capturar uma alma (Here Is The Soul Of A Man / Here Is The Place For The Taking). Ao entrar das guitarras e perdurando quase até o final da música, temos uma narração em terceira pessoa sobre o que ocorreu com a humanidade (basicamente, a Terra estava de boa até nós, humanos, chegarmos e zuar o barraco –  From A World Of Magma To A Cold Rock Face / The Ascent Of Madness And The Human Race) e como nossa crença e inteligência evoluíram, até termos a pachorra de achar que podemos dominar o universo e entendê-lo (Eternal Blackness Beyond The Stars / We Think Our Wisdom Will Get That Far). Na canção, principalmente no refrão, há um embate entre crença versus ciência, pois de um lado temos a humanidade que, mesmo em sua evolução, tem uma limitação de conhecimento e acaba criando algo no que acreditar que explique o que ainda não tem explicação. Por exemplo: Reefing A Sail At The Edge Of The World … – bora andar de barco na borda da Terra, já que ela é plana (alô terraplanistas, aquele abraço) – … If Eternity Should Fail – se a eternidade falhar, o Dr. Necropolis tem as almas guardadas em sua máquina – a metáfora para o que há de mais moderno na ciência – e poderá reestabelecer tais vidas assim que a ciência evoluir ainda mais e permitir que as almas voltem à vida. Ao final, temos novamente a interpretação do próprio Dr. Necropolis. Com a voz em eco, temos duas estrofes de um homem mais cético, falando como se fosse um cientista. E musicalmente falando, essa música é praticamente uma digital de Bruce Dickinson. Ela caberia no The Chemical Wedding (no lado B). Tem uma bela linha de cordas, junto à uma tímida cavalgada dentro do riff e uma boa cozinha. Me recordo a primeira vez que a ouvi e fiquei meio sem reação, pois não esperava algo com tanta qualidade já tendo o histórico do sexteto em mente.

Speed Of Light, nossa segunda faixa, é o direito de resposta do ateísta para tudo o que foi dito até agora nessa sessão. Ninguém reencarna, não tem essa de alma ir para o céu ou virar um animal, vai logo esquecendo esse negócio de imortalidade, amigão! A gente vai é morrer, virar pó e ninguém vai voltar para cá – e não tem nada que você possa fazer para tentar reverter isso (Shadows In The Stars / We Will Not Return / Humanity Won’t Save Us / At The Speed Of Light). Musicalmente, ela é Adrian Smith puro! Destaque para o fraseado de guitarra enquanto Bruce canta (isso é bem difícil de acontecer nas músicas do grupo), o uso do cowbell e solos bem eficazes. No videoclipe, que foi feito referenciando diversas eras do vídeo-game (o que não tem nada a ver com o contexto da música), até que tem algumas sacadas legais, como uma recriação do cenário de Bring Your Daughter To The Slaughter para o famoso jogo do Mario que precisa salvar a princesa do Donkey Kong. O cara mal, ao invés de barril, taca as televisões da capa do single de Holy Smoke – essa parte eu achei bem legal e muito fã novato nem deve ter pego esse ponto. Confere aí:

E agora, ainda sobre a ideia que estamos trabalhando desde o início dessa sessão, vamos fechar a última ponta do triângulo. Se de um lado temos a busca pela imortalidade (cercada pelas crenças) e de outro lado temos a visão ateísta, a última ponta é aquilo que existe fora desses dois pontos de vista, que é o desconhecido que buscamos sempre entender. No caso da letra de The Great Unknown, a terceira faixa, ela se volta aos primórdios da Terra, quando o ser humano surgiu no contexto de evolução e assim, ao longo do tempo, os seus questionamentos foram aumentando e, junto com ele, guerras e batalhas surgiram, espalhando medo e morte e dando início a nossa própria destruição, de uma maneira cíclica (pois, no futuro, novos povos surgirão e, assim, teremos novas dominações de povos e o ciclo se renova). O começo dela é mais calmo, mas sem abusar de frases progressivas, como é mais habitual encontrarmos no sexteto. O peso dos riffs também me chamou a atenção, além da simplicidade da estrutura musical. Só isso já ganhou pontos comigo, pois a banda não colocava isso em prática em canções de mais de seis minutos. The Great Unknown é a No More Lies que deu certo.

A faixa quatro é bem interpretativa e, só pela introdução de baixo (que também encerra a música) já dá para perceber que teremos problemas. O que se passava na cabeça de Steve para criar uma introdução dessas? Até então, o que ele tinha criado em Blood On The World’s Hands era o que havia de mais “complexo” em termos de introdução de baixo. Pois bem, vamos com calma. Existe um romance francês intitulado Le Rouge Et Le Noir, de 1800 e guaraná com rolha, que é referência para a canção. Muito resumidamente, a história narra a vida de um rapaz que estudou na Igreja e que quer lutar no Exército e ele fica nesse dilema, entre ir para um lado e ir para o outro. Pronto. Ema ema o resto da história. O que você precisa saber é que a cor negra representa a batina dos padres e a cor vermelha é a representação da farda do exército Francês (que muito depois mudou para azul). Agora, pega a letra de The Red And The Black e veja o primeiro verso: The Morals of Life And The Perils Of Death / Take The Wrong Way Out Running Out Of Breath. Olha aí, a referência claríssima do embate entre a Igreja e o Exército. Todo o resto da letra é baseado em dilemas, que não tem relação direta com o livro, mas que descrevem a mente de alguém que está sob pressão desses dilemas e precisa de ajuda (I Need Somebody To Save Me). Ao final da letra, temos isso extrapolado para o mundo todo – afinal, todos temos dilemas e muitas vezes usamos o caminho errado para ter êxito em algo (inclusive propositalmente). Todos temos medo da verdade e de como nós mesmos usamos de hipocrisia para termos um destino mais feliz ou mais abonado do que outros. Os últimos versos são geniais e muito claros em sua definição. Musicalmente, acho que é uma canção que os fãs brasileiros não gostam muito (eu sou exceção), mas na Europa ela é muito idolatrada. Ela tem uma levada bem Brave New World, com uma guitarra cantando junto de Bruce, mas ao mesmo tempo colocaram um ôôôh-ôôôh-ôôôh que nasceu lá em Heaven Can Wait. A estrutura dela também é legal, pois temos três solos em sequência, coisa que nunca tinha sido feita (são 13 minutos e meio onde Bruce sai de cena por mais de cinco minutos).

Where The River Runs Deep, quinta faixa, tem uma relação com a expressão inglesa Still Waters Run Deep, que é usado para descrever que mesmo um rio calmo é fundo e muito perigoso. A música é, portanto, referência somente à parte profunda do rio, que é uma metáfora para a morte. Li em algum lugar que Steve, à época da composição do álbum, tinha perdido um parente e um amigo, quase que simultâneo, e isso foi a inspiração para a canção – viva sua vida fazendo seu melhor, pois ninguém controla seu destino que, no final, sempre será a morte. Acho a música bem acelerada, com uma base bem rock’n’roll – não é muito o estilo da banda, mas lembra os velhos tempos da década de oitenta nos andamentos mais rápidos, principalmente o riff inicial, que poderia fazer parte de alguma música do Killers, junto com os dois primeiros solos de guitarra. Acho que a única coisa que faltou nessa faixa foi um interlúdio – depois do terceiro solo a faixa acaba muito rápido, direto com o refrão.

The Book Of Souls, nossa sexta posição, a faixa homônima, tem por base a civilização Maia (assim como o Eddie da capa), que, enquanto existente, dominou vários aspectos do conhecimento e da “tecnologia” da época, se tornando referência na História junto a outros povos como os Incas e Astecas (They Were Praying To The Gods Of Nature And Were Living In The Cities Of Stone / Towers Reaching Upward To The Heavens, Sacred Wonders For The World Unkown). O “livro das almas”, nunca existiu, de fato. No enredo do álbum, ele é uma espécie de “o livro que contém a verdade” (The Search For The Truth, The Book Of Souls), que é uma metáfora para a solução dos enigmas da vida que todos os povos tentaram (e ainda tentam). Essa civilização foi a escolhida, pois, mesmo com todos os seus feitos, ela foi extinta; e é essa a mensagem da música, que foi o que coloquei nos parágrafos iniciais dessa sessão (A Life That’s Full Of All The Wealth And Riches Can Never Last For An Eternity / After Living In A Golden Paradise, The Ultimate Sacrifice). A primeira estrofe descreve a ascensão do povo, enquanto que a segunda descreve seu descenso. O sacrifício extremo é a sua extinção. Musicalmente, tem aspectos excelentes. Eu sou suspeito de falar da faixa que encerra o CD 1. Primeiro: o teclado ficou bom! Tiraram o timbre de “barulhinho do Steve” e colocaram uma orquestração que encaixou perfeitamente com a atmosfera da canção. Segundo: solos excelentes! Todos! Terceiro: fraseados que não inventaram a roda – usaram o intervalo de terça e se calcaram em uma frase bem semelhante à utilizada em Afraid To Shoot Strangers (com menor velocidade) e trechos da introdução de Losfer Words (Big ‘Orra). Quarto: progressivo bem encaixado, mas sem firulas, mesmo com o tempo longo da música – o violão abre e fecha sem ficar enrolando e o riff é direto.

Aqui acaba o CD 1. Quando o álbum foi lançado e eu cheguei até essa sexta faixa, não coloquei o CD 2. Estava tudo muito bem encaixado até então, com seis músicas boas em sequência. Eu pensava comigo: “não, os caras vão estragar tudo no CD 2”. Fiquei uma semana inteira só ouvindo o primeiro CD, até ter coragem de colocar o segundo.

CD 2

Toda a temática trabalhada nas primeiras faixas é deixada de lado nessa parte do álbum. Agora, as músicas trabalham temas mais isolados, o que facilita a vida dessa pessoa que vos escreve ao tentar explicar do que elas tratam.

Death Or Glory abre a segunda parte do álbum com muita estabilidade. Não é uma faixa glamorosa, mas ela cumpre bem o papel de abrir o CD 2, falando novamente de temas relacionados a batalhas aéreas. Eu só descobri realmente do que se tratava quando li a biografia oficial do Bruce. Uma época dessas pagando de piloto, Bruce tentou comprar uma réplica do avião Dr. I, um Fokker vermelho usado por Manfred Albrecht Freiherr von Richthofen, piloto da primeira Guerra Mundial, conhecido como “Barão Vermelho”. Manfred foi “o cara” em termos de batalhas aéreas, mas esse avião foi usado em menos de 30% das suas vitórias. Ele é mais uma associação. Entretanto, existe uma declaração de Manfred sobre esse modelo de Fokker, onde ele diz que o avião é capaz de “se tornar o diabo e subir como um macaco” (Turn like the devil, shoot straight from the sun / Climb like a monkey out of hell where I belong). Bruce teve a ideia de fazer uma canção em homenagem ao Fokker quando a negociação não deu certo e ele voltou para a casa de mãos vazias. Ao vivo, tem aquela imitação de macaco que é melhor esquecermos… se você nunca viu, nem vá atrás.

Precisavam dar um tapa na nuca do Adrian e do Steve devido a oitava faixa, Shadows Of The Valley. Onde já se viu fazer uma introdução com o mesmo riff de Wasted Years e isso ser aprovado?! Pelo menos não vão ser acusados de plágio. Agora, tirando essa introdução, o resto da música é sensacional. Por volta dos 05:20 entra um solo com uma frase de guitarra sendo a base – acho que a banda nunca tinha feito isso. E mais uma vez o teclado entra bem encaixado no refrão. Sobre a letra, ela é baseada na Bíblia. Que atire uma pedra quem nunca viu a piada da galinha andando perto do KFC, baseada no salmo 23, versículo 4: Yea, though I walk through the valley of the shadow of death, I will fear no evil: for thou art with me; thy rod and thy staff they comfort me. A letra toda é um mortal andando pelo Vale Das Sombras, tirando o refrão, que provavelmente é cantado por Deus.

Tears Of The Clown, a nona faixa, é uma das piores do álbum, na minha opinião. Mesmo com a boa intenção de homenagear Robin Williams, um dos mais conhecidos atores norte-americanos que cometeu suicídio em 2014, a parte musical é muito simples e a letra não é cativante. Acho que, por ser a primeira vez que a banda resolveu fazer uma música sobre uma pessoa, a coisa não decolou. A canção fala sobre o que poderia Robin ter sentido para levá-lo ao suicídio, já que o ator sempre demonstrava alegria (e inclusive passava essa alegria nas telas – na letra, ele é a metáfora do palhaço).

A penúltima faixa, The Man Of Sorrows, precisou levar um artigo para não conflitar com o título Man Of Sorrows, terceira faixa do excelente álbum solo de Bruce Dickinson, Accident of Birth. Se a música do nosso air-raid siren é sobre Aleister Crowley, nessa aqui estamos falando de uma representação de Jesus Cristo, em sua crucificação. Musicalmente, ela não é cativante – sempre que a ouço, em seguida esqueço dela. Talvez seja por causa da existência da canção que fecha o álbum… Man Of Sorrows é outra canção que concorre a pior faixa do álbum.

Encerrando essa sessão, o que vou falar de Empire of the Clouds? Bem, tudo o que você precisa saber dela está aqui e você já deve ter lido. Você sabe que a ideia inicial dessa música nasceu de uma parceria entre Bruce e Jon Lord (RIP), ex-tecladista do Deep Purple, mas que nunca foi para frente. Você sabe que a letra é sobre o dirigível R101, que foi a maior embarcação construída pelo homem até então, tanto para o ar quanto para a terra, mas acabou caindo dia 5 de Outubro de 1930, matando 48 dos 54 tripulantes. Você sabe que essa música superou a marca de canção mais longa da banda, deixando a fantástica Rime Of The Ancient Mariner na segunda posição. Agora, o que você não sabe é que um dia o Rolf, lá no trabalho, veio comentar comigo que ele tinha um blog com uns amigos, para depois eu dar uma olhada. E, no meu primeiro acesso, foi com esse post que eu fiquei maravilhado e que, mal saberia eu, estaria junto ao time do blog escrevendo a discografia da minha banda predileta, sempre almejando a qualidade do post sobre Empire Of The Clouds, anos depois. Muito obrigado pessoal! E muito obrigado, Iron Maiden!

E sim, The Book Of Souls é o melhor álbum do Iron Maiden desde Seventh Son Of A Seventh Son. E se por acaso você nuuunca o ouviu, nunca é tarde:

A nova turnê mundial, The Book Of Souls World Tour, iniciou em Fevereiro de 2016 e finalizou em Julho de 2017. Os caras estavam com moral, pois The Book Of Souls foi o quinto álbum do Maiden a chegar ao primeiro lugar na Inglaterra (os outros foram The Number of the Beast, Seventh Son of a Seventh Son, Fear of the Dark e The Final Frontier). O Eddie, tanto de palco quando o andarilho, eram baseados no desenho da capa:

A turnê gerou o décimo segundo álbum ao vivo da banda, o The Book Of Souls: Live Chapter, lançado em 17 de novembro de 2017, com o tracklist da turnê nos mesmos moldes de Flight 666: músicas em vários países – o Brasil aparece duas vezes, com representação em Fortaleza e Rio de Janeiro. O material foi disponibilizado em áudio e vídeo, porém o vídeo não teve formato físico (mas você encontra nos canais oficiais da banda).

Setlist tocado na The Book Of Souls World Tour

  1. If Eternity Should Fail
  2. Speed Of Light
  3. Children Of The Damned
  4. Tears Of A Clown
  5. The Red And The Black
  6. The Trooper
  7. Powerslave
  8. Death Or Glory
  9. The Book Of Souls
  10. Hallowed Be Thy Name
  11. Fear Of The Dark
  12. Iron Maiden
  13. The Number Of The Beast
  14. Blood Brothers
  15. Wasted Years

No próximo capítulo … bem, eu não achava que iria ter um próximo capítulo até que, recentemente, enquanto eu escrevia esse post, foi anunciado um novo álbum, que também será duplo. É a banda, mais uma vez, dando os indícios que escreve seu nome na história da música com letras maiúsculas. Propositalmente, o lançamento desse post se faz a poucas horas do lançamento oficial do alvo do nosso próximo post dessa discografia.

Portanto, no próximo capítulo, 日本語と侍の芸術をみんなで学びましょう。

Até mais! Beijo nas crianças!

Kelsei Biral



Categorias:Curiosidades, Discografias, Iron Maiden, Músicas, Resenhas

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